Moro numa estrela esquerda,
situada a oeste do Equador,
que instiga de poucas luzes
a cidade de Mediador.
Fui lá colocado pela fada madrinha
que, cansada de me ver só e
sobrevoar o vazio,
me deu guarida e um protetor contra solares
pedrinhas!
Virei asssim instrumento do céu,
- saída verídica para quem só remexia
pela Terra e bolinava a vida dos outros
até aqueles que não usavam chapéu.
Foi guarida boa: fico sabendo
o que está acontecendo ao sul,
e o prumo do vento oeste
que vêm pendente e oscilante,
tudo muito fácil e ocasional:
represento minha família quase em pranto.
Prá dizer a verdade, lá na Terra
as áreas já estavam alagadas de solidão.
Solidão sem rumo, sem bússola, onde tudo emperra
e me chamuscavam de ansiedades no paredão.
Não que eu tenha classe especial,
mas fez ela por bem e me deu de restos
- como uma serenata tropical -
pois, daqui, vejo lampejos de festas.
Daqui moro com meus vizinhos
bem familiares, já assentados,
daqui eu revejo os pais,
as mães e meu filho representado
por outra estrela
- esta sem cais -.
Foi por bem assim
já que na Terra tudo perdi.
Até o que não tinha se foi.
E daqui, brumo e aspiro
onde estão todos.
Meu filho, contudo,
é o mais indignado
- desde pequeno, o danado,
não se conforma porque
tão cedo, tão cedo,
tiraram ele do esplendor
da Terra e o trouxeram
para sua estrela solitária.
Uma muralha que amena
meu terrapleno!
E prá dizer a verdade nem eu quero
saber!Destas coisas do além só entendem
os santos e deles surrupio de medo.
Mas de grato tenho a dizer:
de grato tenho a perder:
porque de tão cedo lá,
levaram meu filho?
Tal que nem herdei!
|