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Lira vai ao circo
Donária Salomon

Lira vai ao circo

                                                                                           

À tardinha surgia.
Com passinhos preguiçosos, Lira seguia.
Um conhecido cumprimentou-a:
_ Olá Lira! Está cansada?
_ Eu, cansada? Não!                                                        
_ Quer uma carona?
        Prefiro ir andando a pé. Tenho pena do cavalo, não gosto de ver ele puxando a carroça pesada.
_Só tem nós dois, sua pasta escolar não pesa nadinha pra ele. Vem, sobe, vamos conversando e fico sabendo o que você aprendeu hoje.

De balanços em solavancos, Lira foi se acostumando. Nunca mais na vida esqueceria o barulho das rodas e a corda do arreio do cavalo. Aceitou passivamente os gritos de “Seu” Calam... Ôooooo...
Quando o trote do cavalo harmonizou-se, Lira começou a falar:
_ Sabe, “Seu” Calam? Hoje vou ao circo.
_ Hoje?                                                                                        
_ É hoje sim! O senhor ainda não viu? Já sei, o senhor está chegando de viagem, por isso ainda não viu. O circo chegou ontem.
_ Então vou também Lira, quem sabe a gente se encontra lá?
_ Na escola só se fala do circo... Do leão, do elefante, da bailarina que anda no arame...

Neste momento “Seu” Calam interrompeu a narrativa de Lira quando deu uma freada no cavalo puxando a rédea. Lira pode, então, ver os dentes do animal que estava de cabeça inclinada, a boca aberta, a saliva grossa a pingar. Fechou os olhos, segurou firme.
_ O que foi, Lira? Ta com medo?
_ Não! Sabe, “Seu” Calam, a professora mostrou desenhos do circo. Tinha cavalos muito ricos.
_ Sei como é. Cavalo de granfino.
_ Não, o cavalo é do circo. Eu até pintei as penas do capacete dele. Tinha perneira dourada e medalhas de ouro no peito.
_ Ah, é? O que mais você pintou?
_ Fiz bolinhas de todas as cores na roupa do palhaço. O nariz pintei de vermelho. Até engraxei o sapato dele com lápis de cera preto.
_ Então esse circo vai ser mesmo muito bom. Vale a pena assistir.

_ Ainda pintei o elefante, agora vou ver se pintei direito como estava no livro.             Alguns colegas pintaram de preto, outros de marrom.
_ E você? Pintou o elefante de que cor?
_ Isso que eu quero ver.
_ Como que você quer ver?
_ “Seu” Calam, eu não tinha a cor que estava pintada no livro. Então fiquei pensando, e enquanto eu pensava ia rabiscando os lápis na folha, até que o lápis azul passou em cima do vermelho... E a cor do elefante apareceu. Entendeu?
_ Ah! Então você pintou com duas cores, o vermelho e o azul.
A estrada era enorme da escola até a casa de Lira, mas como bater um bom papo não faz mal a ninguém, distraída com a conversa logo avistou o portão de sua casa. Desceu da carroça, despedindo-se do amigo.
_ Até lá no circo, “Seu” Calam. Obrigada pela carona. Não se esqueça de dar água ao cavalo, ele está com a boca cheia de espuma.
_ Até logo, Lira. Não esquecerei. Dê lembranças a todos.
Seu Calam saiu com um grande sorriso no rosto.
Finalmente chegou a hora tão esperada. Lira ia ver o que só conhecia de livros. Na fila de entrada se deslumbrou quando se deparou com a lona verde, gigante e o colorido da entrada. Enquanto saltitava na fila, deu uma olhada, tentando encontrar o amigo Calam. Não o viu e pensou: “Deve estar atrasado, tinha que dar água ao cavalo”.
Esqueceu tudo quando a música chegou aos seus ouvidos, contudo conseguia ouvir o rugir dos animais. Sentou-se na arquibancada para ver melhor. Tentou olhar atrás da cortina, não viu nada. Por baixo viu pés ligeiros pra lá e pra cá.
Tudo reluziu quando os refletores foram acesos. Lira deu uma olhada, na esperança de encontrar Seu Calam. Não conseguindo encontrá-lo, deixou que a senhorita e o namorado sentassem no lugar que ela tinha reservado para o amigo. Quando a moça agradeceu, Lira reconheceu, era a sua professora do ano anterior, a tal dentuça da aula de religião.
O apresentador anunciou o espetáculo em castelhano e Lira não entendeu uma só palavra, também não precisou, a alegria dos artistas circenses contagiou, com seus brilhos e cores todo o palco num passe de mágica. Depois de cumprimentar a todos se retiraram com mesura.
A música começou bem baixinha, Lira aguçou os ouvidos e o som foi aumentando. À medida que o som aumentava, a expectativa de Lira também. Como a música parecia gritos estridentes Lira imaginou que talvez fosse o momento do elefante grande, forte, entrar para subir no banquinho. Sua professora havia dito que ela tinha caprichado nas cores das flores da roupa dele, até as presas estavam reluzindo de tão brancas, que até o lápis de cera quebrou.                  
O som diminuiu, quase sumiu. O coração de Lira disparou... “Deve ser a hora do palhaço”. Até cantou: “Hoje tem marmelada? Tem, sim senhor. Hoje tem...”.
Não! Hoje o palhaço não cantou, não deu cambalhota.
Quem entrou foi um cavalheiro com um pano comprido cobrindo a cabeça e os ombros, falando para os homens vestidos iguais a ele: “Digam para o dono da casa: O mestre mandou arrumar a sala, pois que ele e seus discípulos vão comer o jantar da Páscoa”.

Enquanto o homem dava o recado todos se movimentavam no palco. Lira fez cara de que não gostou. Saiu de fininho, abaixadinha para procurar o elefante, queria ser a primeira a vê-lo vestido com a roupa colorida que tinha pintado no desenho da escola. Reclamando com seus botões: ”Droga de circo! O coelho aqui no circo tem que sair da cartola do mágico! Na carrocinha tem que ter sorvete e pipoca, não ovo de páscoa”.                                                                   
Assim, resmungando, saiu por baixo da lona. Caminhou para os fundos. Quando os animais sentiram a sua presença, começaram a se movimentar dentro dos cercados. O elefante pedindo   comida com a tromba para fora da    jaula, Lira chegou bem perto, até tocou na pele grossa e áspera.
A cor que ela pintou era bem mais clara, na verdade o elefante tinha a cor bem mais escura, o seu marfim não era tão branco como havia pintado, a roupa também não estava na jaula. Pensou na possibilidade da roupa estar guardada em outra parte. O local, além de pequeno para o tamanho do elefante, estava muito sujo e mal cheiroso.

Ficou um bom tempo olhando os animais, achou interessante a macaca bocejando com o macaquinho no colo, os cavalos sacudiam os grossos rabos, quietos, sem baba, sem cabresto, pareciam descansar. Passou pelo canil, os cães começaram a latir. Acenderam as luzes nos fundos do circo... Lira assustada correu, atravessou por baixo da lona e voltou a sentar-se na arquibancada.
Quando as luzes do palco se acenderam, Lira prendeu a respiração achando que agora ia ver tudo que tinha visto no livro. Um foco de luz iluminou a abertura da cortina. Uma grande multidão se fazia presente, entre elas alguns choravam, outros se ajoelhavam. Os olhos de Lira procuravam... Até que deu uma brecha e uma grande cruz ergueu-se do meio daquela gente. Lira decepcionou-se ao ver Jesus pregado na cruz, o mesmo corpo que a professora dentuça fez ela comer um pedacinho no dia em que fez a primeira comunhão.
Coitada, ela não tinha sido informada que o espetáculo daquele dia seria A PAIXÃO DE CRISTO, em comemoração à Semana Santa.






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