As universidades, de maneira geral, perderam seu livre-arbítrio para a burocracia que acompanhou a mercantilização do ensino. Tal fenômeno igualmente se observa no ambiente escolar, embora os efeitos dessa subordinação do professor ao programa de aulas sejam muito mais gravosos no ensino superior, que ao contrário dessa tendência uniformizadora, deveria se prestar a formar cidadãos conscientes e dotados de autonomia intelectual para lidarem com seus dramas.
Notória a importância de uma padronização no ensino, ainda mais quando se fala em educação pública, que sempre sofreu descompassos até a instituição de um programa de base curricular, quando não pelos abusivos cortes de verbas. No entanto, a massiva submissão daquele que leciona por vezes subverte a própria lógica da concepção de um antro acadêmico sem amarras, como tantos alunos e professores pregam aos quatro ventos dos campi.
Tomando como exemplo o papel do professor nas universidades gregas antigas, apontam-se alguns evidentes avanços, como a especialização do professor em um ramo do conhecimento, vez que noutros tempos o mesmo professor lecionava os mais variados assuntos. Por outro lado, a independência do professor entrou em progressiva decadência e seu protagonismo diminuiu ao longo dos séculos no ocidente. Talvez o primeiro impacto racionalizador de sua profissão deu-se na Idade Média, época em que imperava a maior das instituições que até hoje está de pé, a Igreja Católica.
Voltando às exigências da atualidade, penso que o conteúdo básico deve ser transmitido aos estudantes, para que avancem nas disciplinas sem pendências. O mínimo, que ainda assim tantas vezes é denso, deve ser oferecido, e quanto a isso não há discussão, de forma que não sou tão radical a ponto de defender que o professor deveria ter a prerrogativa de uma liberdade convicta e sem limites para trabalhar em sala de aula as temáticas de sua maior afeição.
A realidade é que entre tantos temas que enfeitam a ementa de uma matéria, certamente o professor terá predileção por alguns deles em detrimento de outros, o que ensejaria um tempo maior destinado a determinado estudo em razão, talvez, de sua especialidade ou de seus aprofundamentos prévios, que poderiam tão bem ser explorados de maneira muito mais instigante com seus alunos.
Mas a tão propagada máxima da liberdade de cátedra tem se tornado cada vez mais dificultosa por força das demandas da instituição, que, adianto, não é a única responsável pela redução do professor a um mero cumpridor do planejamento do curso. A instituição, por seu turno, acompanha as necessidades profissionais do mercado de trabalho em uma perspectiva que não foge aos interesses do capital.
Assim, o professor torna-se escravo de uma faculdade, de uma instituição sem a qual ele não pode exercer o seu nobre ofício, haja vista que a atuação de um professor de ensino superior não é reconhecida pelo MEC caso ele não tenha vínculo com uma instituição de ensino, não sendo possível a liberalização de um profissional como esse. A um só tempo, tem-se um lecionador que carrega consigo uma suntuosa carga teórica que logo perderá espaço para os ditames das universidades, monopolizadoras do saber técnico-científico.
A solução para esse problema perpassa o questionamento que se lança à própria universidade, e em última instância, aos departamentos de ensino, coordenados por professores já oriundos de uma linhagem tolhida da sonhada emancipação catedrática, e que se contentam com os grilhões da academia. Continuamos sem reconhecer que a resistência está em outro lugar que não aquele em que ela deveria estar presente, ampliando as idiossincrasias de um sistema que pretende monetizar a instrução formativa, como se uma vaga no ensino público fosse passível de compra ou moeda de troca.
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