Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
Meu bloco na rua
Flora Fernweh

O Brasil está em festa, porque o melhor samba-enredo homenageia Eunice Paiva.
Ainda estamos aqui, resistindo à opressão de um passado que maculou o que fomos e o que seremos.
A marchinha de carnaval ganhou ritmos de vozes potentes da música popular brasileira.
E a alegoria é de penugens escuras tal qual a prisão, a tortura e o exílio político.
Meu bloco é primavera nos dentes, e a porta-bandeira do momento é Fernanda Torres.

Ontem à noite, o cinema brasileiro foi agraciado com a eminente estatueta do Oscar na categoria de melhor filme internacional, o que é motivo de orgulho à sétima arte de qualidade que aqui se faz. Este prêmio certamente já se tornou arma política da qual a esquerda se apoderou para lançar seu discurso contra a extrema direita reacionária, que até agora tem dificuldade em reconhecer a grandeza de Fernanda Torres, atriz que repetiu os passos de sua mãe, indicada ao mesmo prêmio pelo filme Central do Brasil em 1999, embora Ainda Estou Aqui seja de uma temática que apela para que os tempos sombrios de nossa História não se repitam.

No Brasil, a solenidade foi regada pelo clima carnavalesco da agitação do povo, e ainda que a atriz principal tenha perdido o Oscar para Mikey Madison, que interpretou Anora, Fernanda Torres consagrou-se como boneco do Olinda, feito que para um brasileiro é símbolo de reverência nacional. A grande Fernandinha não é a preferida da academia nem da crítica, mas por muito tempo seguirá sendo o ícone predileto de parte considerável dos brasileiros politizados.

Inegável que fomos, de certa forma, ofuscados mais uma vez por uma produção que carrega a marca do glamour hollywoodiano, mas a vitória na categoria de melhor filme estrangeiro é um prêmio louvável, não obstante o peso de nossa história tão vivente nos leve a acreditar que seríamos merecedores do melhor filme geral. Anora… anistia? Quase. A disputa foi acirrada, mas a anistia não pode lograr êxito quando se trata do bloco rígido dos direitos humanos, conquistados a duras penas em cada batalha cultural, pele a pele ou constitucional.

Já derramamos muito vinho tinto de sangue…

O filme lateja no pulso firme porque a ditadura não é ditabranda, e o Estado Democrático de Direito tem sido afrontado nos últimos tempos após hediondas tentativas de golpe das nossas instituições, a anistia desses criminosos é igualmente inconcebível. Agora, após denunciado por Paulo Gonet, ou o opressor inelegível foge ou será preso, pois reconhecível é a competência do relator e da turma de ministros.

Se Lula foi preso por corrupção passiva e por lavagem de dinheiro por um juiz parcial, e se Dilma foi presa por subversão e militância pelos militares, embora diferentemente de Rubens Paiva, a ex-presidente tenha sobrevivido para contar história e presidir uma nação, Bolsonaro possivelmente também será preso, mas por organização criminosa, golpe de Estado, e outros tantos, e mais: pelo Supremo, o órgão máximo da a ordem e do Judiciário constituído.

É preciso dar um jeito, meu amigo…

O Oscar repercute na identidade e em nosso pertencimento a um país que tem muito o que contar ao mundo. Os olhares do norte global experimentaram um embrião de decolonialidade e voltaram-se ao Brasil ante o reconhecimento de nossa produção cinematográfica. Ser notado por um outro que dita as regras e cria os parâmetros da arte dá sabor à admiração local. E é por isso que hoje nós queremos e vamos sorrir!


Biografia:
Sobre minha pessoa, pouco sei, mas posso dizer que sou aquela que na vida anda só, que faz da escrita sua amante, que desvenda as veredas mais profundas do deserto que nela existe, que transborda suas paixões do modo mais feroz, que nunca está em lugar algum, mas que jamais deixará de ser um mistério a ser desvendado pelas ventanias. 
Número de vezes que este texto foi lido: 64226


Outros títulos do mesmo autor

Haicais Ampunheta Flora Fernweh
Crônicas Agora o ano começou Flora Fernweh
Crônicas Considerações sobre o Oscar 2025 Flora Fernweh
Crônicas Meu bloco na rua Flora Fernweh
Haicais Sextante Flora Fernweh
Crônicas Barrada no sex shop Flora Fernweh
Crônicas Companhias de viagem Flora Fernweh
Poesias Línguas sem saudade Flora Fernweh
Crônicas O menino que virou borboleta Flora Fernweh
Crônicas José e Pilar, conversas inéditas - impressões pessoais Flora Fernweh

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última

Publicações de número 11 até 20 de um total de 453.


escrita@komedi.com.br © 2025
 
  Textos mais lidos
A "IA" NÃO SERÁ UM MENINO BONITO - DIRCEU DETROZ 65098 Visitas
IMPULSO IND A 18 ANOS - paulo ricardo azmbuja fogaça 65086 Visitas
amor feito desejo... - natalia nuno 65051 Visitas
OS FANTASMAS DA CASA ABANDONADA - borges joão filho 65022 Visitas
A Abelhinha Jurema - JANIA MARIA SOUZA DA SILVA 65016 Visitas
O que e um poema Sinetrico? - 64972 Visitas
Lançamento do livro multiformato - Ana Pregardier 64968 Visitas
De cada parte - Anderson Carmona Domingues de Oliveira 64936 Visitas
A MENINA QUE QUERIA CONSERTAR O MUNDO - FLAVIO ALVES DA SILVA 64928 Visitas
RESENHAS 11 JORNAL - paulo ricardo azmbuja fogaça 64927 Visitas

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última