Cheguei hoje ao cinema cheia de expectativas sobre o filme Conclave, após ter ouvido comentários muito positivos, mas a trama foi capaz de me surpreender ainda mais! A meu ver, é tão digno de Oscar tanto quanto Ainda Estou Aqui, quiçá até mais, considerando a qualidade quase que impecável da produção. Um verdadeiro concorrente à altura de Walter Salles, mas que de forma alguma me desencorajou a sonhar com o prêmio em mãos brasileiras.
Dirigido por Edward Berger, Conclave é o filme perfeito para quem é fã de plot twist, tanto que meus dedos chegam a doer para não escrever sobre um dos finais mais surpreendentes que há tempos eu não assistia, e tudo o que me torna mulher clama para que eu dê algumas pistas, mas penso que esse final explica todo o restante que pensávamos ter ficado de lado ao longo do filme, e já falei demais.
A narrativa é repleta de reviravoltas, fofocas e votações para a escolha do novo Sumo Pontífice após o falecimento do Papa, lançando algumas críticas à Igreja Católica, que apesar de sutis, são muito bem elaboradas e forçam nosso inconsciente ocidental. Ao explorar a mentalidade utilitária dos cardeais, por exemplo, tive a impressão de que o filme retratou o Vaticano como a Indústria de Deus, como uma empresa em que o gerente busca o funcionário mais qualificado para assumir o posto máximo. No entanto, como toda firma, a de Deus errou ao ter se preocupado mais com o poder canônico em detrimento dos clientes fiéis.
Ainda, os discursos em meio à trama são de uma potência que fazem qualquer católico questionar a sua ortodoxia e o valor da tradição. Fiquei profundamente tocada por uma passagem em especial na qual a certeza enquanto convicção é posta à dúvida, levando-me a refletir que a certeza não apenas separa as pessoas no antro do fundamentalismo religioso, mas também ao longo dos séculos ela deu origem a guerras e desavenças, jamais à paz entre os povos, com crenças tão distintas entre si.
Conclave é um filme que conclama a humanidade, e com maestria desvenda a Igreja enquanto propulsora para a intolerância, mas sem acusá-la frontalmente, já que querendo ou não, quem a forma também é vítima, seja da própria fé, e das mazelas de um conservadorismo opressor calcado na História e nos costumes. As cenas são suntuosas, tudo é grande, tal como a ambição. A trilha sonora é envolta em canto gregoriano e no badalar de sinos, e a beleza da arte sacra é vista nos afrescos celestiais e nas límpidas proporções. O filme é repleto de mistérios, parece que o enredo se desenrola para recair em uma conclusão permeada por um segredo, que há de se manter oculto pelo bem da Igreja, mas, como sou mulher, já estou pecando por falar demais.
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