Apaixonar-se é erguer um pedestal de ilusões e ali colocar a pessoa amada, em suas perfeitas incoerências como o ser mais sublime a ser louvado em nossa fugaz existência.
A paixão é um ardente deixar-se cegar, inseguro e sem razão, mas é sem demora o retorno da visão.
Enquanto isso, o primeiro passo para o amor é desconstruir o ideal que submete o sujeito amante à nossa própria e egoística régua do sentimento.
Amar é reposicionar o objeto de nossa admiração ao patamar terreno e ainda assim, mirar o outro por um ângulo diverso que mantenha no olhar toda aquela beleza que criamos.
Amar é enxergar o outro tal como ele é, é vislumbrar partes lacunosas de si no destinatário de nossos desejos, é sobretudo, nutrir o ímpeto da continuidade e da imortalidade.
O amor é então, galgar um degrau no sentido inverso, é segurar a mão do outro e gentilmente compreender que a descida não é um retrocesso, mas sim uma carência da alma, porque a vida nos coloca em busca daquilo que está para além do amor.
Mas não há nada além dele, e apenas nos damos conta da raridade desta conclusão após cair tijolo por tijolo do altar venerado.
Isto porque o amor é o térreo, é o primeiro e o último, é o que dá sentido a todos os sentidos.
O amor, contudo, não implica o fim da paixão, ele a fortalece e a ofusca diante da grandeza do que é amar. A paixão se torna um detalhe decisivo, bastando um toque para que se reanime a qualquer momento.
Deixar-se amar é sentir o coração vivo, mas amar…
Amar é tornar-se eterno.
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Biografia: Sobre minha pessoa, pouco sei, mas posso dizer que sou aquela que na vida anda só, que faz da escrita sua amante, que desvenda as veredas mais profundas do deserto que nela existe, que transborda suas paixões do modo mais feroz, que nunca está em lugar algum, mas que jamais deixará de ser um mistério a ser desvendado pelas ventanias. |