Há uma folclórica atitude dos vereadores mascararem sua inutilidade com leis igualmente inúteis. Nome de rua e datas comemorativas de coisas desimportantes são citadas como exemplos de “trabalho”. Chega a ser vergonhoso algum edil citar essas insignificâncias como algo de sua autoria.
Pois esse tipo de projeto também pode ser obra federal, porém, sem a vergonha intrínseca. Exemplos: Dia do Cavalo, Dia Nacional do Funk e Dia da Música Gospel. Esta última homenagem rendeu um momento de sabujice explícita do deputado Otoni de Paula.
Otoni de Paula já foi muito crítico ao Luiz Inácio Lula da Silva, a quem chamou de ladrão; hoje, elogiou o presidente, que, pretendendo se aproximar dos eleitores evangélicos, presenteou-os com a inócua homenagem.
Vendo, com o mínimo gesto favorável, a milagrosa conversão de Otoni ao lulismo, parece que a firmeza com que acusava Lula de ladrão era uma estética vazia, falsa e eleitoreira; enquanto Lula, no seu íntimo, sabia que ouvia verdades.
Lula é um político hábil; usando um termo mais apropriado, maquiavélico. Paulo Maluf, José Sarney, Fernando Collor, Fernando Henrique e Geraldo Alckmin já foram atraídos para uma morte política imperceptível, ou seja, em benefício do próprio molusco fraudador. Otoni só é a vítima da vez, que ouviu o “canto da sereia”. Alckmin, coitado, desde que foi submetido a uma vice-presidência decorativa virou um autômato teleguiado pelo petista. O presidente sindicalista, malandro que é, atrai os adversários para anulá-los ou apenas para livrar-se de seus ataques. É uma tática utilizada pelos melhores generais.
Otoni de Paula é considerado bolsonarista, mas elogiou Lula. Parece normal, até louvável, o gesto de aproximação. Porém, isso foi após chamá-lo de ladrão e refutar qualquer tentativa de um radioativo Lula chegar perto. Agora, o ex-presidiário reconhece a vitória sobre um tipo de gente que reza duas cartilhas, mantém um pé em cada canoa e tem a moral à venda.
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