Cena única
(A coordenadora entra em sala para comunicar ao professor de Física que sua avó o está aguardando na portaria do colégio).
Elza – Com licença professor... Desculpe interromper sua aula...
Roberto – Sem problema... Pode falar Elza!
Elza – Tem uma senhora de idade avançada lá na portaria... Está querendo falar com o senhor... Ela disse que é sua avó.
Roberto – Minha avó?
Elza – O senhor não é o Roberto?... Professor de Física?
Roberto – Sim!
Elza – Então é com o senhor mesmo.
Roberto – Como esta velha conseguiu chegar até aqui?
(Dona Neném entra em cena repentinamente)
Dona Neném – Com as minhas próprias pernas... (olhando para os alunos) Bom dia meninos! Bom dia meu neto!
Elza – Quem autorizou a senhora entrar?
Dona Neném – Mocinha... Qual é o seu nome mesmo?
Elza – Elza!
Dona Neném – Prazer! Maria Celestrina Machado Braz... Mas pode me chamar de dona Neném Braz.
Elza – Dona Neném... A senhora precisa de autorização para...
Dona Neném – Milha filha... Na minha idade, eu só preciso de autorização pra falar com Deus... Então... Com licença. Eu preciso ter uma conversa com o meu neto.
Elza – (olhando para o Roberto). Professor... O que eu faço?
Roberto – Pode ir... Deixe-a comigo...
Elza – Tudo bem... Em sala, é o senhor é quem manda.
Roberto – Obrigado Elza!
Elza - Com licença!
(Elza sai de cena, aborrecida).
Dona Neném – Tão nova... E já emburrada... Imagine quando ela chegar à minha idade.
Roberto – O que a senhora quer... A senhora invadiu a sala...
Dona Neném – Invadi nada... Quem invade é o MST.
Roberto – (elevando o tom de voz) O MST não invade... Ocupa!
Dona Neném – Que tristeza ter um neto comunista.
Roberto – Pelo amor de Deus... Vó! Estamos em sala de aula.
Dona Neném – Invocando o nome de Deus? Ocê não era ateu?
Roberto – Sou! Foi força de expressão.
Dona Neném – Que pena... (olhando para o fundo da sala) Menino! Tira o dedo do nariz. Deixa pra limpar o seu salão no banheiro.
Roberto – Vó! A senhora está constrangendo o meu aluno.
Dona Neném – Desculpa! Só tô chamando a atenção do menino. É muito nojento tirar meleca em público.
Roberto – Tudo Bem! O que a trouxe até aqui?
Dona Neném – O chuveiro lá de casa.
Roberto – A senhora veio até o colégio... Interrompeu a minha aula... Por causa do seu chuveiro?
Dona Neném – Meu neto... Ocê tem que entender... Eu tô sofrendo... Não agüento mais tomar banho frio... Não tenho mais força pra esquentar água e encher balde... (começando a chorar) Se o seu avô ainda tivesse vivo... Eu não viria aqui te ocupar.
Roberto – Assim a senhora vai me fazer chorar diante dos alunos... Eu não sabia que o chuveiro da senhora não estava funcionando.
Dona Neném – Funcionado acho que tá. O chuveiro só não tá é esquentando a água... Lá em Minas o “trem” esquentava a água pra valer... Era uma beleza... Uma quentura só... Troço de doido!
Roberto – Problema resolvido!
Dona Neném – Uai! O trem tem conserto?
Roberto – Claro Vó! É só trocar a resistência do chuveiro.
Dona Neném – Simples assim?
Roberto – Sim! Lá em São Sebastião da Vargem Alegre a rede é de 220V. Aqui no Rio, a Light opera com 110V.
Dona Neném – De eletricidade... Eu não entendo nada... Mas não adianta querer me explicar... A minha cabeça né mais a mesma...
Roberto – Que é isso Dona Neném?! Eu sempre digo para os meus alunos... Nunca é tarde para aprender.
Dona Neném – Isto eu sei, meu neto. Mas eletricidade...
Roberto – Eu sei... É exigir demais da cabeça de uma jovem de 99 anos. (risos)
Dona Neném – Não quero mais perturbar a sua aula...
Roberto – Já perturbou... Brincadeirinha!
Dona Neném – Tenho que ir agora... Ainda vou preparar o almoço... Ocê tá convidado.
Roberto – Obrigado Vó! Vai ser frango com quiabo e angu?
Dona Neném – Não! Hoje vou preparar uma canjiquinha de milho com costelinha de porco.
Roberto – Com couvinha mineira?
Dona Neném – Cortada bem fininha... Do jeito que ocê gosta! Ainda vou fritar uns torresminhos e umas bananinhas pra acompanhar.
Roberto - Tô dentro!
Dona Neném – Que bom! É ruim comer sozinha... Ah! Aí... Ocê aproveita e troca a resistência do chuveiro pra mim.
Roberto – Eu sabia! Este almoço não poderia sair de graça...
Dona Neném - Não esqueça que sua avó é mineira. (risos)
Roberto – Imagina se eu vou esquecer... uai!
Dona Neném - (olhando para o fundo da sala) Menino! Tira o raio do dedo da boca!
Roberto – Dona Neném Braz!
Dona Neném – Limpar o salão... A gente releva. Mas comer meleca... É porqueira!
Roberto – Tchau Vó!
Dona Neném – Inté!... Boa aula... Fiquem todos com Deus!
(Dona Neném sai de cena, e Roberto aproveita o gancho para passar um problema de eletricidade).
Roberto – Perdemos um tempinho... Mas como temos dois tempos seguidos de aula. Vou aproveitar para passar um problema que acabei de bolar... Peguem os cadernos, que eu vou ditar!
(A turma se recompõe, e Roberto começa a ditar).
Roberto - Dona Neném Braz, cansada da vidinha besta que levava em São Sebastião da Vargem Alegre, decidiu trocar a roça pela cidade grande. Dona Neném mudou-se para o Rio de Janeiro, levando consigo o seu velho e eficiente chuveiro elétrico (4000W/220V). Ao instalá-lo em sua nova residência, dona Neném percebeu que o “trem” não estava aquecendo a água o suficiente para um banho decente. Meio sem jeito, dona Neném resolveu pedir uma ajudinha para o seu neto. Sabendo que no Rio de Janeiro a concessionária elétrica opera com 110V, o neto resolveu num triscar de olhos o problema.Pediu para sua querida avó ir até uma loja de ferragens comprar uma nova resistência elétrica para o chuveiro.
PERGUNTAS:
a) Por que o chuveiro de Dona Neném deu problema no Rio de Janeiro?
b) Para solucionar o problema, a resistência antiga foi substituída por outra de: maior, menor ou igual valor?
c) Sabendo-se que o chuveiro de dona Nenem tem que dissipar 4000 W de potência para aquecer bem a água, calcule o valor da nova resistência elétrica. E ponto final!!!
Fim
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