As cidades tem sofrido com o excesso de chuvas em 2023. O insuportável calor tem provocado chuvas intensas e até fora do normal com incidências de inúmeros raios. Ouvem-se os primeiros trovões e logo as ruas viram rios, casas são tomadas pelas águas, carros passam a boiar, tudo para e o caos está materializado. O problema que anteriormente era localizado está ampliado. Dezenas e até centenas de municípios sofrem prejuízos incalculáveis a começar pela perda de vidas ao mesmo tempo. Endividadas, cidades pequenas nada podem fazer ao não ser esperar pela ajuda dos seus estados. A bola de neve dos prejuízos só aumenta ano após ano e quem sofre são as populações menos favorecidas economicamente.
Não há Engenharia que consiga mexer em estruturas altamente complexas tão rapidamente e em curto prazo de 9 meses entre um Verão e outro. É sabido que a massa de água depositada no solo ao mesmo tempo em cidades cada vez mais impermeabilizadas não desaparecerá em passe de mágica. É possível projetar cidades capazes de lidar com enchentes? Sim. Os custos e a viabilidade são os empecilhos. Adaptar cidades já existentes é possível? Acredito que não pelos motivos já citados. Dependendo o problema serão necessárias tantas mudanças que provocariam até uma enorme paralisação em diversas atividades municipais. O problema maior é o impacto econômico nestas cidades que precisarão redesenhar até seu cotidiano.
A questão terá que ser resolvida cedo ou tarde estando na agenda das autoridades. Se ano após ano tivermos graduais aumentos de chuvas, será preciso um orçamento específico para lidar com indenizações e prejuízos materiais recorrentes. Neste caso, um plano federal precisará ser acionado financeiramente para eventuais danos em proporções catastróficas. Seria pela via federal a iniciativa de iniciar grandes projetos para tentar verificar possíveis soluções em cidades. Isto só que não ocorre e vão-se vidas e bens. É um vespeiro tocar neste assunto em Câmaras e Assembleias no Brasil. Nota-se que a política do indenizar é mais viável do que solucionar o hercúleo problema.
Fica bem claro que haverá um empobrecimento financeiro tanto individual quanto das esferas públicas. A reconstrução de imóveis e vias não ocorrem do dia para a noite. Atividades econômicas podem ficar paralisadas por meses e anos ou até mesmo extinguindo. Hospitais serão acionados com maior regularidade necessitando demanda de mais profissionais em Saúde onde sabemos que a Educação é pouco valorizada. Empresas no ramo securitário repensarão se compensa assumirem tais riscos. Projeta-se até a mudança de funcionamento habitual do comércio e adaptações para as situações críticas climáticas com estruturas mais caras em Logística e Armazenamento.
A verticalização das cidades também não resolverá o problema. Carros em garagem podem ser objetos de enchentes. Pessoas poderão ficar ilhadas em prédios por horas e sem comunicações viáveis por quedas de energia comprometendo o funcionamento de elevadores e geradores poderão ficar inutilizados para uso. Prédios construídos próximos aos córregos e rios serão menos valorizados partindo para especulação imobiliária voraz em locais mais seguros. Manutenções prediais externas poderão encarecer e até mesmo inviabilizar o uso de algumas unidades destes complexos verticais. Os valores de condomínios tendem a subir.
Percebe-se um caos desenhado e que está tornando-se real neste dilúvio silencioso da omissão aos cuidados ambientais. Pessoas só criticam após o problema colocado diante dos seus olhos. As cobranças preventivas junto as autoridades municipais quase inexistem. O tempo é para ganhar dinheiro e que o político tome as medidas. Só que estes(as) políticos(as) não se moverão caso não sejam diretamente cobrados(as) pelas suas omissões. É uma enxurrada de problemas ao mesmo tempo contra a desafortunada vítima. Ações preventivas e planos de contingência tem que estar prontos e alertas para entrarem em funcionamento em escala máxima quando necessitado for. Prefeituras poderão ser responsabilizadas judicialmente faltando ao cumprimento do exposto.
Quem vê pela televisão e nunca foi vítima das enchentes acredita que o residente ou comerciante jogará uma água na sujeira e no dia seguinte a vida segue. Negativo. Atividades comerciais podem ser encerradas gerando mais desemprego, pessoas perdem seus bens e isto tem custo inviabilizando novos projetos de vida, bairros inteiros e até cidades paralisam economicamente, os recursos federais repassados para tentar colocar a coisa em ordem saem do bolso de cada contribuinte mesmo distante da tragédia, empresas em outras localidades perdem funcionários, bens e serviços gerando atrasos em negócios sem falarmos no bem maior que são as vidas humanas.
O momento requer ações práticas. É sabido que contra a natureza há situações que praticamente são incontroláveis. O que é visto e isto precisa ser solucionado são as omissões públicas diante do eminente visível. Sabe-se que há chances reais da tragédia ser potencializada e pouca coisa é feita ou somente remediada. Um plano federal apoiado financeiramente para maior aprofundamento técnico e viabilidade executória poderá minimizar o problema de enchentes. Falta vontade em alguns casos. Interesses econômicos de grupos financeiramente mais estáveis precisam ficar abaixo do valor da vida humana que é a prioridade. Recado dado.
Vander Roberto é Analista de Sistemas tendo MBE em Engenharia de Software em nível de Especialização.
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