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Lembranças da caserna
Luiz carlos souza santos

Lembranças da caserna
          O militarismo deixa marcas indeléveis no ser humano. A percepção de mundo passa a ser vista de outra maneira. Ademais, o vocabulário amplia-se com palavras nunca vistas antes, isto é: Bisonho, monstro, mocorongo, rancho, pernoite, alvorada, vai pagar, dentre outras. Sem falar algumas frases proferidas por algum praça filósofo que se eternizam, como: “A polícia é uma fábrica de loucos”. Sim, marcas indeléveis, elas não saem, por mais que você queira. Os sonhos ou pesadelos que o digam. Qual recruta que não sonhou com sua arma falhando ou recebendo um tiro, e acordando desesperado durante a noite?
        Dessas marcas indeléveis, a que permanece até hoje, é o porquê de sentir tanta fome no recrutamento. As três refeições diárias não eram suficiente para suprir a fome que eu e alguns colegas sentíamos. Sem falar que sem proventos para um lanche, éramos obrigados invadir a chácara do major para furtarmos goiaba verde.
        Com a chegada do serviço de quarto de hora: (expressão militar que traduz o período de duas horas em que uma sentinela está em seu posto), via ali a solução para minha fome descomunal. Percebi que dois colegas de situação financeira invejável tinham certa dificuldade para acordar nas madrugadas, visto que no decorrer do dia o traquejo era surreal. Com isso, avisei aos colegas que se alguém estivesse doente ou cansado, ou de alguma forma impossibilitado de tirar o seu serviço de quarto de hora, eu estaria pronto, já fardado com o bichoforme. Só era chamar. Não deu outra, os colegas de alcunha “Curiri” e “Mondrongo” se tornaram clientes assíduos naquela empreitada. Até que um dia algo de inusitado acontecera. Já cansado de pagar a bagatela de míseros “dois reais” um dos colegas me acorda na madrugada solicitando meus serviços nos portões das armas. De imediato acordei e como de costume aguardava o valor acordado entre as partes, quando me surpreendi com o pagamento. Era um pacote de biscoito recheado. Dizia ele que não tinha mais dinheiro para pagar, e a única coisa que restara foi aquele pacote de biscoito. E eu, como não fugia ao serviço, desloquei-me ao portão das armas com meu pacote de biscoito.


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