- Não foi bem assim.
- Foi, foi sim, eu vi tudo.
- O que você viu foi o Gilmar se aproximando.
- E o beijo?
- Que beijo Lindomar, ficou louco, oras só.
- Não me faça de tonto, posso ser tudo, menos corno.
- Tá bom, o que você quer?
- O divórcio.
- Por isso?
- Por que, foi pouco?
- Lindo, vivemos 3 anos nesta casa, 3 anos de amor, agora por causa de um mau entendido você vem com isso.
- Não quero mais viver com você.
- E os nossos filhos?
- Pare, são cachorros.
- Até ontem, eram nossos filhos.
- Por favor Dejanira, seja capaz de assumir teus erros.
- Meu maior erro foi te querer.
- Estou saindo.
- Não vá.
Lindomar sai daquele casebre de 2 peças, um dos cachorros perdido nas pulgas a tocar viola imaginária segue o homem até o portão de ripa que ao bater se despenca por completo, na frente um pé de chapéu de couro faz a rua encher-se de folhas, as crianças em sua maioria desnutridas, lutam pelos frutos das árvores, alguns já degustados pelos morcegos da madruga.
Dejanira vai até o quarto e de uma caixa de papelão retira 6 calcinhas meio que encardidas, as cheira e logo repuna, abre outras 3 caixas e logo 2 sacos de stopa com roupas, pega os sapatos que ganhara de seu primo Jacinto, coloca nos pés, sujos, tenta firmar ali e sai meio cambaleando, na sala, numa estante que insiste cair tendo base tijolos que foram furtados de uma obra onde Lindomar trabalhou na pintura, ela passa batom, lápis nos olhos, não que aquilo lhe faça jus a tanta feiúra.
Seu Macedo para o carro de aluguel ali, dois cães quase mortos em carrapatos vem até as rodas, preparam o lance e urinam.
- Seus cachorros nojentos, por isso que eu odeio vir até esse lugar, o povo que gosta de criar imundíce.
Dejanira se aproxima ensaiando um riso.
Macedo leva um susto com ela em maquiagem, ficara mais parecida com a Anabelle boneca do mal.
- Olá seu Macedo, aquele traste do Lindo me mandou embora.
- De novo, o que foi dessa vez?
- Nada, o sr acredita que ele ciúmou do Gilmar?
- Se não me engano, o mês passado foi do Matias.
- Credo seu Macedo, o sr sabe que eu gosto de falar com qualquer um.
- Para onde?
- O quê?
- Para onde você vai?
- Me deixa no mesmo lugar de sempre.
- Sei, fale para mim, por que sempre retorna para lá?
- Vamos seu Macedo, tenho meus compromissos e o sr mais viagens para fazer.
- Sei, sempre a mesma resposta.
O carro sai, Dejanira ensaia alguns choros para desespero do motorista que se assusta ainda mais com a belezura que esta levando.
- Com certeza terei de ir a igreja amanhã.
- Fazer o quê, seu Macedo?
- Benzer o meu carro.
Dez minutos depois ele pára o veiculo na última quadra da rua dos Guaranis.
- Dejanira.
- Ai mãe, aquele seu filho, acredite me mandou embora.
- Vamos, desça.
Madalena paga ao motorista que fica feliz em ver Dejanira sair com sua feiúra aumentada me makes de seu carro.
Ali no bar alguns senhores conversam sobre futebol, politica e mulheres.
- Olá rapazes, eu voltei.
É visível o assombro de quase todos ali com a genuína falta de beleza de Dejanira.
Goles depois, o som ligado, ela dança um forró com Gumercindo um funcionário da prefeitura, nisso Lindo adentra o bar.
- Deja.
- Lindo.
Madalena sai da mesa e vai até o filho que nada ouve, ele tira a mulher dos braços do homem vesgo e de pouquissimos dentes na boca.
- O que faz aqui no bar da mãe?
- Para onde achas que eu iria?
- Arrume tudo, quero jantar, tenho fome, vamos logo.
FIM 020321....
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