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Retrospectiva 2020
Flora Fernweh

O quintal florido de minha infância queimou em chamas
Com tristeza vi as árvores sendo engolidas pelo fogo
Com a esperança de um dia melhor, fui dormir
Sonhei que meu tio havia sido morto no Irã
A mando de uma grande nação
Durante o pesadelo, faltou-me ar
Não conseguia respirar
Tive a sensação de que minha vida não valia
De que minha pele era uma vergonha
De que minha cor era medonha
Tive medo
A terceira guerra se anunciava
Acordei dolorido no outro dia
Como se uma parte do meu corpo
Quisesse se desprender de mim
Como se a terra da rainha
Quisesse quebrar um pacto
Ainda me faltava ar
Para completar, estava com febre
Estava quente, subia a temperatura
Em mim e ali perto, em nosso tão caro bioma
No pantanal, um fogaréu. Doença
A tosse seca se anunciava como se eu tivesse
Que eliminar uma tristeza de dentro de mim
Minha priminha a muito custo, desfez-se do feto
Fruto de algoz violência
Enquanto isso acontecia, o tempo congelou
O mundo parou, e a natureza quase agradeceu
As ruas vazias, os pombos alegres, a vida nas telas
Logo as ruas se encheram de carros funerários
Os pulmões, de água
A mente, de preocupações
E o coração, de dor e angústia
O inimigo era microscópico
Mas seu efeito era maior que o mundo
Mundo esse, dividido em onda azul e vermelha
No auge da polarização, uma expectativa
Incrível como as autoridades ignoravam
Amenizavam, negavam e negociavam
Brigavam entre si pela banalidade de outrora
Um sai, entra e um entra, sai no ministério
Um sai, entra e um entra, sai no cemitério
Entre explosão de nitrato e destruição de monumentos,
Pobreza, milícias, mídias, recessão, repressão
Lia nauseado o jornal, apreensivo de virar a página
E encontrar a notícia de que o mundo em breve acabaria
Sei que não posso comemorar o triunfo antes da hora
Sempre é cedo para perder vidas, mas meio-vivo estou
O ano está quase lá, mas ainda não acabou
Tarde se vai, demorou, era bissexto
Nos despediremos do ano artificial sem fogos de artifício
Nem mais um susto, nem mais um som de incerteza
Mas há ainda um último dia fatídico
Não cantemos vitória antes da hora...


Biografia:
Sobre minha pessoa, pouco sei, mas posso dizer que sou aquela que na vida anda só, que faz da escrita sua amante, que desvenda as veredas mais profundas do deserto que nela existe, que transborda suas paixões do modo mais feroz, que nunca está em lugar algum, mas que jamais deixará de ser um mistério a ser desvendado pelas ventanias. 
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