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COMO FOI A MINHA MORTE
COMO FOI A MINHA MORTE
Henrique Pompilio de Araujo

Resumo:
Depois de mais de 300 anos, consegui como saber como foi a minha morte tão sofrida.

COMO FOI A MINHA MORTE

          Este espírito viveu por volta do ano 1700 e resolveu nos dar o depoimento sobre a sua morte. Ele sofreu muito nesta terra e sua morte não foi tão problemática.
        “Aquele dia eu estava muito cansado e ofegante em casa. Parece que alguma coisa estranha estava acontecendo comigo. Às vezes eu me sentia mais leve, às vezes parece que eu pesava mais que uma bola de chumbo. Uma sonolência muito grande vinha em mim e eu dormia aquele sono estranho. Tinha muito pesadelo e acordava muito assustado.
     Os meus criados começaram a trazer benzedores em minha casa. Alguns benziam a casa, os animais, a plantação e vinham me benzer também. Antes eles me perguntavam se eu gostaria de receber um benzimento. Eu apenas concordava com a cabeça e eles começavam as suas rezas. Eu não acreditava muito no que eles diziam, mas eu não gostava de decepcionar as pessoas que vinham por livre e espontânea vontade e gostariam de que e sarasse logo. Eu dizia a eles que já estava de partida que até a passagem já estava reservada. Eu iria fazer uma viagem sem volta.
     No meu quarto estava sempre cheio de gente. Eles apelavam para as grandes conversações. Ali se falava de tudo, mas eu havia proibido de se falar alguma coisa ali com respeito a cidade, pois eu acabava morrendo de tristeza. Eles concordaram e diziam que nada falariam nada sobre a cidade. Às vezes eu até me arriscava a dar alguns palpites.
     Foi um mês inteiro de cama. Eu já não agüentava mais ficar deitado, mas tinha muita dificuldade para me levantar.
     Eu me lembro que naquele dia havia dado uma chuva enorme no sítio. Foi um grande temporal acompanhado de trovões, coriscos e vento para todos os lados. Depois disso abriu um sol lindo e maravilhoso. Tudo se renovava por aquelas bandas. Eu me lembro que estava tudo clarinho, mas de repente tudo começou a escurecer e fui perdendo a noção do tempo.
     Foi então que um clarão enorme parece ter entrado em meu quarto e eu me vi num grande foco de luz. E de repente eu me vejo caindo dentro dele. Aí meu Deus! Me acudam aqui” Estou caindo neste buraco enorme.” Uma falta de ar enorme avançou em mim, tosse, muita tosse. Senti também um grande nervosismo, mas não sabia do que, pois sempre fora uma pessoa muito calma.
     O grande terror começou a apoderar-se de mim. Agora a falta de ar foi ainda maior, eu procurava respirar, mas não conseguia sugar o ar. Tentei gritar e pedir socorro, mas a minha voz não saía mais. Por que ninguém me acode? Pensava eu e este torpor foi assim por algumas horas. Às vezes melhorava, mas muitas vezes piorava. Nesta luta constante pela vida, eu me vi como se algo me apertasse a garganta. A falta de ar foi enorme e de repente uma escuridão total apoderou-se de mim e eu não vi mais nada.
               -67-
     Eu tinha acabado de morrer nesta terra. Não sei nada sobre a minha chegada e vida na espiritualidade, pois parece que dormi o tempo todo.
     Daqui para frente descrevo como foi a minha morte naquele dia. Estes fatos foram narrados por alguns criados meus daquele tempo.
     Assim que eu faleci, eles prepararam uma grande mesa. Eles me banharam, me colocaram em cima da mesa, sem caixão é claro. Eu fui colocado na área da casa, pois era mais fresca e cabia mais gente. Muita gente foi chegando e daí a pouco a minha antiga casa estava lotada. Eu não via nada, não sentia nada e praticamente era o nada como sempre pensei. Ali naquele mesa eu fiquei durante o resto do dia e a noite toda. Muita gente se lamentava e chorava a minha morte. Lá pelas 4 horas da tarde trouxeram um caixão feito lá mesmo no sítio. Fui colocado dentro deste caixão.
     O velório continuou durante toda a noite. Minha casa encheu de gente. Todos estavam muito tristes. As mulheres faziam e distribuíam bolos com chás para o povo. A noite varou e no outro dia lá pelas 10 horas um cortejo me levou ao cemitério da vila. O cemitério era novo ali e havia pouca gente enterrada. Encheram minha cova de flores principalmente da cor branca que era a minha cor preferida na época. Taparam a minha cova, colocaram algumas flores na sepultura. Grande parte foi embora, mas algumas pessoas ficaram ali orando em minha memória.
     Não tenho a mínima lembrança do que me ocorreu na espiritualidade. É como se eu tivesse me apagado de uma vez. Não encontrei Juliana, minha esposa que já tinha partido antes. Perdi completamente a noção de tudo. Só fui me despertar mesmo em outra reencarnação. Talvez no futuro eu possa me lembrar deste momento que passei no mundo espiritual.
     Ali estava encerrada a vida de um jovem que era belo, que era forte, que era alegre. Não vivi muito tempo, mas o tempo que vivi foi de felicidade. Infelizmente esta felicidade me trouxe muita dor e muito sofrimento no final da vida. Não me arrependo de nada que fiz naquela vida. Faria tudo de novo do mesmo jeito. Eu havia encontrado a verdadeira felicidade. Nunca me faltou nada, tive centenas de amigos, nunca tivera doenças antes. Juliana foi a minha alegria, mas trouxe muita tristeza no final. Afinal quem era Juliana que mudou os passos de minha vida?













                         -68-


Biografia:
Henrique Pompilio de Araújo, nascido em Campo Mourão PR e radicado em Cuiabá MT. Começou a escrever desde cedo. Professor aposentado, bacharel em Direito e Teologia. Trabalhou em diversas escolas em Cuiabá e alguns jornais do Estado. Publicou sua primeira obra em 1977: Secos & Molhados - Poemas. Ultimamente publicou outros livros: "Flores do Além" Poemas, "Contos da Espiritualidade" - Contos, "Nas curvas da vida" Memórias, "Cinquenta contos" Contos. Há muitas obras ainda esperando edição.
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