A Busca
A busca parece ser, antes de uma ação, um sentimento humano. A inquietação, a pergunta que não quer calar, a discrepância entre o que ouvimos e o que vemos, são os principais móveis para a procura constante de uma resposta . Evidentemente este mal (ou bem, a depender do ponto de vista e do indivíduo) não se estende a todos. A maioria dos homens parecem satisfeitos com as explicações que receberam desde a infância. A busca, essa necessidade de saber mais sobre os rumos do nosso destino, são reservados àqueles que desejam sinceramente exercer a sua humanidade . Os que não necessitam buscar, já estão satisfeitos com as explicações oferecidas pelos noticiários, pelas igrejas, professores, livros de auto-ajuda, etc.
Aqui, refiro-me à busca genuína, aquela que nos incomoda quando estamos sozinhos, nos colocam diante de dilemas toda vez que um novo caminho se apresenta. Normalmente é sugerida pelo espírito que deseja um remédio, um calmante para ficar dentro de nós quietinho e deixar de nos incomodar não definitiva, mas apenas temporariamente.
Não posso dizer que pelo menos uma vez na vida nos questionamos a respeito do real motivo de se estar aqui neste mundo. Efetivamente há pessoas que jamais se interrogarão a esse respeito. Isso não quer dizer que se trata de seres inferiores na escala da existência. Definitivamente, não. A necessidade de abrandar a turbulência que agita o espírito é o que conduz o homem na direção da busca. Quando se está acomodado confortavelmente neste mundo, a última coisa que desejamos é sair deste lugar e se expor aos perigos da inquietação, correndo o risco de perder o seu refúgio e ficar vagando sem paradeiro certo, sem pátria e sem exílio. Se já decidimos o caminho a ser percorrido e estamos certos de que esta é a única estrada possível, só nos resta a resignação e tentar aproveitar a viagem comodamente. Por outro lado, se inúmeras possibilidades são apresentadas, a escolha é muito dolorida. Optar por um dos caminhos é negar e deixar para trás todos os outros. É abandonar todas as outras formas possíveis de viver.
Vez ou outra, aparece um filósofo, um profeta, um pastor ou cantor de banda de rock que diz algo diferente sobre a forma de se viver. Decerto, é sempre bom ter alternativas quando temos que fazer escolhas. O problema é que algumas pessoas, irrefletidamente, vão muito mais além do que isso. Aderem esses pontos de vista como única realidade possível. A opinião passa a ter o mesmo valor que a verdade. Blindada por todos os lados, transforma-se em seitas, partidos, sociedades, etc. Os indivíduos absorvidos por esta “verdade” são capazes de sacrificar até a própria vida em nome da “causa”. Tentam desesperadamente convencer outros a aceitarem a mesma idéia. Dessa forma validam a ação, na medida em sentem-se seguros “todo mundo” acredita na mesma coisa que ele.
Como diz um antigo adágio, “em terra de cego, quem tem um olho é rei”. Pois bem, não se quer dizer que o pastor, o filósofo, o profeta, o cantor de rock, ou qualquer outro que apresente uma ideologia como orientação para a ação, estejam maldosamente intencionado a conduzir as pessoas que fazem parte de sua audiência ao caminho do engodo. A crítica reside somente na postura de aceitar a unilateralidade como via para julgar a realidade. Não há equívoco em se escolher uma ideologia para viver. O problema é que muitas pessoas não investigam o caminho proposto antes de percorrê-lo. É como receber uma encomenda sem olhar o que tem dentro e acreditar piamente que conteúdo declarado está dentro da caixa certamente. É justamente nesse ponto frágil que agem os aproveitadores, aqueles que “possuem um olho só” em meio aos cegos. Se sabem de antemão que o outro não costuma olhar o que tem dentro pacote, o que os impediria de oferecer um pacote vazio ou com conteúdo diferente ao receptor negligente? Absolutamente nada a não ser os valores que cultiva. Como bem sabemos, nem sempre os valores éticos são observados quando se deseja chegar a um objetivo. “Os fins justificam os meios”, mesmo que os meios sejam injustificados. Mas o que se quer dizer em verdade? É que desejo de acreditar em vez do desejo de buscar pode custar a liberdade. Muitos caem nas presas de toda sorte de demagogos e espertalhões exatamente por esse motivo. O caminho mais fácil, ou o mais confortável, pode nos conduzir a um lugar que não gostaríamos de estar ou então pior do que aquele em que estamos agora.
Para onde ir então? Não se sabe. Está em aberto. É o preço a ser pago por escolher a busca, lugar onde moram a angústia e a incerteza. É semelhante a viver em um deserto, em uma floresta ou nas ruas. No entanto parece ainda ser uma via melhor do que optar pela prisão onde tudo é explicado, porém sem nenhuma garantia final.
Rafael Dias.
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