Sara tenta esquecer o que aconteceu, mas não é possível porque as lembranças estão na sua mala como roupas amarrotadas.
As roupas dão indício do que fez e de onde esteve.
Mas a mala está trancada.
Ninguém pode saber...
Sara não contou diretamente para ninguém o que aconteceu por puro receio do que pudessem dizer.
Com certeza, a julgariam e não a entenderiam, mas é a verdade: Sara viu a morte...
As roupas dela estavam encharcadas de angústia ou culpa. Sim... Seria possível?!
Podem-se dizer e ver que as roupas dela estavam encharcadas do sangue que escorria do seu braço auto-mutilado, violentado, punido por agir... Afinal, quando errava, merecia ser punida... e por ser quem é também... tão insuficiente...
Mas Sara só conseguia ver que estava encharcada de angústia ou culpa.
Sara tentou se matar e chegou a ver a morte de muito perto.
Ela guardou no armário do seu quarto escuro seu segredo numa mala trancada sem falar para ninguém pela vergonha de confessar seu desejo de se matar.
Sara via as fotos do seu passado com cor de gris...
Desde o ocorrido, Sara pendurou na porta do seu armário fotos pretas do futuro desconhecido. Fotos pretas de amigos e amigas sem rosto. Fotos pretas de momentos com a família ... Fotos pretas de novos amores... Fotos pretas de planos que poderia vir a realizar... Fotos pretas de novos aprendizados... Fotos pretas que escondem outras possibilidades.
O medo do desconhecido é latente e gritante. Além disso, Sara também sentiu, sem querer assumir, um vislumbre do que parecia ser uma curiosidade...
Mas com a possibilidade de continuar sendo machucada e decepcionada, Sara não quis ver essas fotos no futuro com mais cor. Sara não quis experimentar porque para ela a angústia era o mesmo do que a culpa. Não conseguia ver a possibilidade de se sentir frustrada ou angustiada sem tanto remorso ou culpa por como agiu ou se sentiu porque ela não se permitia experimentar coisas novas e por vezes se entristecer e/ou se alegrar com elas.
As fotos permaneceram escuras na porta do seu armário...
Com roupas encharcadas de uma profunda angústia ou culpa, agora o coração de Sara estava mutilado, sangrando, punido por sentir...
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