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Livrai-nos do “Mala Men”
Erivelto Reis

Livrai-nos do “Mala Men”



Em primeiro lugar: Mala Men são nossos amigos (que não vamos dar trela pra inimigos!) e também somos nós em algum momento. Quando e como? Quando somos chatos e inconvenientes. Esse texto é, antes de tudo, uma homenagem àqueles que nos dão boas histórias pra contar.

Mala Men é aquele colega de trabalho, aquele amigo, vizinho ou parente que enche a paciência de qualquer um.

Mala Men nunca diz bom dia; e se diz, é aos berros, abrindo os braços e chovendo perdigotos. Gosta de contar os segundos, a todo o momento pergunta as horas. Se lhe perguntam como vai, ele responde explicando. Cuidado enquanto me lêem, pois neste exato momento ele pode estar se aproximando!

Mala Men pede tudo emprestado e nunca devolve. É ranzinza, mal humorado, desbocado e “descolado”. É metido a saber tudo sobre qualquer assunto. Sempre diz que leu qualquer livro (sem ter lido!), que viu qualquer filme (sem ter visto! E dos que viu, entrega o final!). Não gosta de viajar: diz que o estrangeiro é sem graça. Mas, se algum conhecido vai ao exterior, encomenda perfume, videogame e computador portátil – que ele acredita chamar-se Top-Top – (sem falar da exigência de chaveiros e postais). Se o turista em questão viaja pelo Brasil, na volta ele só quer saber das mazelas: pergunta se não teve dengue, malária, febre amarela... Interrompe quem está com a palavra, desde a roda de amigos ao seminário sobre o meio ambiente. É auto-suficiente. Às vezes mente tanto que nem sente. Nunca cumpre o que promete.

Mala Men é assim: fala, anda, come... Só não pensa!

Mala Men é “pegajoso”: fala tocando nas pessoas o tempo todo. Gosta de se apoiar nos ombros dos outros. Gargalha em velório. Monopoliza a atenção do anfitrião em aniversários. Chega sempre atrasado. Diz que esqueceu a carteira pra não dividir a conta. Dá tapa forte nas costas quando encontra um conhecido. Aperta demais a mão daqueles a quem é apresentado, ou cumprimenta com a mão mole, apenas com a ponta dos dedos. Gesticula demais. Aprecia vinhos e charutos e joga papel de bala no chão.

Mala Men é metido a entender de História, Filosofia e esoterismo. Teatro e Literatura são parte do seu ofício. Pra ele, Getúlio se enforcou com um tiro; Dom Quixote é obra de Camões e Santos Drummond de Andrade inventou os aviões. Acha que Sócrates era fraco pra bebida e que O Avarento foi escrito por Molinete. Gosta dos poemas de Mario Quitanda, das músicas de Lourival Caymmi e sua filosofia de vida é: “Quem bate apanha, quem esquece não!” Seu sonho é aprender várias línguas e tornar-se um troglodita.    Pode ser culto ou não, mas sempre erra com convicção. Acha-se irresistível. É o gostosão do pedaço. Tenta (apenas tenta) praticar qualquer esporte. Diz ter sido o voto de Minerva do concurso que elegeu o maior anão do mundo.

Mala Men descobriu que o sol é a maior coisa que tem na Terra e agora pesquisa como o astronauta fez pra pousar a nave espacial na lua minguante. É puxa-saco, fofoqueiro e palpiteiro. Não cede o lugar aos idosos na condução. Não tem carteira de habilitação, mas é exímio co-piloto. De carro, avança o sinal vermelho, fecha todos os motoqueiros; se está de moto, quebra os retrovisores dos carros e usa o capacete no cotovelo. É cheio de preconceitos. Inventa simpatias. Aproveita o primeiro incauto que aparece pra desabafar. Tudo o que alguém faz de bom, ela já fez muito mais e melhor. E de ruim, ele já tinha avisado! Quando se faz de coitado, se reclamam fica bravo.

Mala Men só gosta de discutir futebol, política e religião. Assovia quando passa um “mulherão”. Entrega panfleto de propaganda no calçadão. Reutiliza papel de presente, não tampa a pasta de dente; liga a cobrar, de celular, pro telefone da casa da gente. Gosta de beber uísque, e de oferecer aguardente. De comer caviar e servir bolo de fubá. Gosta de falar difícil pra se fazer entender. Faz gozação com os amigos e lhes causa embaraço. Quer sempre o maior pedaço. Lambe a tampa do iogurte; bota foto que tirou com um artista no orkut.

Mala Men sempre aparece sem ter avisado. Ilustra os relatos com velhos ditados. Acha-se superior, faz questão de ser chamado de Doutor, mas não sabe informar no que é que se formou. Diz que pra ele dinheiro não é problema, mas pechincha até pra comprar um Sonrrisal e um Eparema.

Mala Men é o maior cara-de-pau: “Você engordou? Sabe com quem está falando? Você usa lente? Pagou quanto? Lembra de mim? Você ainda vai querer isso? Bonito sapato! É ortopédico? Não conta o que eu te contei pra ninguém...”

Tenho certeza que vocês que me lêem, devem ter se lembrado de muitos outros (de) feitos perfeitos do Mala Men. E que a essa altura estão implorando: “Livrai-nos!”–até de um cronista mala também...





                                                                                   Erivelto Reis



Biografia:
Erivelto Reis nasceu em 1976, em Rio Verde, Goiás. Veio para o Rio de Janeiro, aos três anos, com sua família. Filho de José de Arimatéia e Maria Aparecida da Silva Reis e irmão de Erivaldo, Erialdo e Elton. Erivelto é casado com a professora Gloria Regina e o casal tem três filhos: Allynie, Erick e Ian. Poeta, escritor, cronista, ativista e produtor cultural. Tem dois livros publicados: “Sem Rima” (Poesias - 2004) e “Somos” (Crônicas e Poesias - 2007). Escreveu crônicas para os jornais “O Guarazão”, da região de Guaratiba e “O Amarelinho”, de Campo Grande, ambos na cidade do Rio de Janeiro, o que lhe valeu uma Moção da Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro em 2004. É professor formado em Letras (Português – Literaturas) e pós-graduando em Estudos Literários pelas Faculdades Integradas Campo-grandenses. Em 1998, no curso de Teatro Laboratório, no Teatro Arthur Azevedo, conheceu o poeta Primitivo Paes, seu amigo e grande incentivador. A partir de então, passou a dedicar-se efetivamente à carreira como escritor. Juntos, Primitivo e Erivelto, já somam, em onze anos de carreira, mais de mil apresentações em escolas, praças públicas, teatros, centros culturais e eventos em todo o Estado. Como ativista e produtor cultural, coordenou em 2006, o I Encontro de Poetas do Rio de Janeiro, na Lona Cultural de Campo Grande. Ingressou, em 2005, no Instituto Campograndense de Cultura, a convite da então presidente Marly Monte Araújo, e participou da produção da I Jornada de Letras do Instituto Campograndense de Cultura e da confecção da Revista comemorativa dos 40 anos do Instituto em 2007, além de ter participado, como jurado e, posteriormente ao seu ingresso no Instituto, da produção do Projeto “Novos Talentos do ICC”. Em 2008, passou a fazer parte do quadro de membros efetivos do renomado instituto, ocupando a cadeira número 8, que pertencera à professora Leda Lúcia e cujo patrono é Freire Alemão. Em 2007, participou, com um poema, de uma Mostra de Poesia e Artes Plásticas no Centro Cultural Ariano Suassuna, na Barra da Tijuca/RJ. Em 2008, participou como jurado, do concurso nacional de poesias da Revista Day By Night e em 2009, sempre ao lado do poeta Primitivo Paes, da I Mostra de Poesia Brasileira na Cidade de Maricá. Vencedor do Prêmio FEUC de Literatura em 2005 e 2009, seus poemas constam de inúmeras coletâneas e antologias pelo Brasil. Recebeu também o Prêmio Expressão Cultural da Coordenadoria Regional de Cultura da Zona Oeste em 2005 (coordenador de grupo), 2006 (ativista cultural) e 2008 (escritor). Participou da organização e da produção das XVI, XVII e XVIII edições da Semana de Letras da FEUC e dos XI e XII Fórum de Educação, Ciência e Cultura da mesma instituição. Recebeu o troféu comemorativo da I Jornada de Letras do ICC. Em 2005, por indicação do escritor Roberto Sobral, foi agraciado com a Medalha de Honra ao Mérito comemorativa dos 46 anos da Associação dos Taifeiros da Armada da Marinha do Brasil. Participou de diversas edições do Aniversário de Campo Grande, o que fez com que em 2007, recebesse mais uma Moção da Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro. Em 2005 foi citado, por suas atividades culturais, pelo Ministério da Cultura no Programa Nacional de Incentivo à Leitura e à Literatura, como um dos fomentadores da leitura e da Literatura no Brasil. Frequenta eventos culturais em toda a cidade. Seus poemas e suas crônicas estão disponíveis para leitura em diversos sites. Contato: eriveltoreis@yahoo.com.br
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