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REFÚGIO INTERIOR
Flora Fernweh

Como sentir-se bem com os seus pais te alertando diariamente sobre suicídio? Uma menina indagava a si mesma a respeito das circunstâncias que a sua vida havia tomado, já não sabia se sua família era um refúgio no meio de tantas bombas psicológicas e de um solo massacrado, manchado não apenas de sangue, mas também por memórias. Fazia parte de uma família paquistanesa rumo a tornar-se refugiada em um pequeno país na América, seu berço fora bombardeado pelo Talibã, sua nacionalidade dividida entre o ocidente e o oriente e sua alma, entre a infância e a adolescência.
     Sua avó era uma das únicas pessoas que a compreendia, ambas compartilhavam semelhantes angústias e alegrias, porém, durante o itinerário rumo a uma nova e ao Novo Mundo, desbravado pol Colombo, sua progenitora enfrentou uma terrível batalha cancerosa: de um lado, células mutantes, malignamente aglomeradas e do outro, tecidos humanos já desgastados pelo tempo, lutando pela vitória; mesmo após estudos oncológicos por parte de sua neta, estes, foram derrotados. A menina, sempre muito informada, trabalhara duro para encontrar estratégias a fim de solucionar a metastásica catástrofe interna de sua avó, lera inclusive estudos de Marie Curie, porém suas pesquisas e levantamentos não surtiram efeitos práticos, antes mesmo de a garota absorver o ocorrido, as cinzas de sua avó já haviam sido jogadas ao mar.
     A embarcação estava abarrotada de emigrantes, muitos passaram despercebidos pela menina, outros fortaleceriam vínculos mais adiante, e outros, jamais seriam esquecidos em suas lembranças. Como era possível se sentir solitária em meio a tantos indivíduos? Pensava ela. Por vezes, chegava à conclusão, através de vislumbres do Atlântico na proa do navio, de que o mundo raso em que vivia não era tão raso para se mergulhar de cabeça quanto o oceano a sua frente, ela vivia em dimensões muito distintas. A fome e principalmente a sede assolavam a tripulação, o que parecia impossível com a abundância líquida proporcionada pelo mar, porém o sal tornava a água inapropriada para o consumo, e era assim que a menina se sentia em relação aos demais: tão raro e valioso era conseguir água potável em uma imensidão azul, quanto encontrar mentes extraordinárias em uma multidão humana.
     A jornada até a América foi difícil e repleta de ensinamentos, o tempo e o amadurecimento a levaram a superar perturbações, a juventude idealizou-se em um casulo de aflição e ao mesmo tempo, auto-cohecimento, as asas com as quais ela sobrevoaria o mundo foram o resultado dessas transformações. Quais desafios a esperariam na América? A sua chegada ao continente marcaria o início de uma nova fase em sua vida?


Biografia:
Sobre minha pessoa, pouco sei, mas posso dizer que sou aquela que na vida anda só, que faz da escrita sua amante, que desvenda as veredas mais profundas do deserto que nela existe, que transborda suas paixões do modo mais feroz, que nunca está em lugar algum, mas que jamais deixará de ser um mistério a ser desvendado pelas ventanias. 
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