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A invenção do século que passou
(Meu walkman: uma memória)
Roberto Queiroz

Já tem tudo isso?

Leio em vários artigos e matérias jornalísticas na internet que o walkman completou 40 anos de existência e minha mente sempre saudosista viaja no tempo, mais especificamente o final dos anos 80 quando ganhei de presente de aniversário o meu aparelho.

Ele era vermelho e a marca, CCE, era detonada por 9 entre 10 brasileiros metidos a entendedores de eletrônica. Qualquer um que comprasse um aparelho da marca em algum momento da vida ouviria a seguinte frase: "jogou seu dinheiro fora; ninguém quer uma porcaria dessas!". No meu caso não tive do que reclamar: o walkman nunca deu defeito, nunca precisei levá-lo a uma assistência técnica. Já o videocassete Sony - marca líder em vendas no país - foi pra autorizada mais de uma vez. Enfim...

Que saudades do meu walkman! A primeira lembrança viva que tenho do período foi o meu fascínio pelo que hoje a mídia chama de playlists. Eu adorava fazer trilhas sonoras com as fitas cassete BASF que eu comprava nas antigas Lojas Arapuã. Eu sei... Faz tempo!

Naquela época Rádio Cidade, Transamérica e Joven Pan disputavam minha preferência no dial e todas, claro, tocavam rock. INXS era meio que uma banda fetiche minha e fiquei arrasado quando Michael Hutchence, líder do grupo, morreu. Mas sempre havia espaço nas minhas fitas para Aerosmith, Scorpions, Whitesnake (meu primo tinha um álbum da banda que foi minha primeira experiência gravando com a ajuda do toca-fitas. Já deu pra imaginal o resultado?) e, claro, Legião Urbana e Cazuza.

Eu virava as noites esperando as programações especiais das rádios (algum show internacional exibido ao vivo ou algum arquivo musical pertencente ao catálogo da estação. Para entenderem um pouco do clima dessa época, procurem no you tube o programa Sarcófago com relíquias daquele período!) e volta e meia fuçava os vinis dos meus pais à procura de algo diferente, que não fosse da minha época. Acho que foi nesse momento que entendi que a minha relação com música seria diferenciada desses fanáticos por rock e sertanejo universitário de hoje em dia.

A praticidade proporcionada pelo walkman - não mais ter de ficar preso a sala, tendo de levantar do sofá para mudar de estação - está entre os maiores legados já propiciados à humanidade em toda a história universal. Pode parecer loucura às novas gerações, tão antenadas e práticas, mas vocês não fazem a menor ideia da revolução que foi poder segurar, por exemplo, um controle remoto nas mãos. E acreditem: isso era liberdade!

Tem quem considere, após a invenção do CD player, do laptop, das câmeras digitais, etc, etc, etc, o walkman um objeto obsoleto, relegado ao passado. "Ninguém mais quer lembrar disso!", dirão alguns. Contudo, ele foi - e é até hoje - precursor da era da portabilidade e, porque não dizer também, da miniaturização.

Reza a lenda (e lendas são sempre complexas e, às vezes, contraditórias) que a ideia do aparelho nasceu por conta de antigos habitantes das comunidades negras dos EUA que andavam pelas ruas do Harlem e do Brooklyn segurando por cima do ombro gigantescos micro-system, levando seus criadores a fabricar uma versão menor do produto, permitindo um manuseio mais confortável do produto. A ideia não só pegou como, com a chegada dos CDs ao mercado fonográfico, gerou o também inovador Discman. Eu tenho até hoje o meu guardado aqui em casa, mas confesso que não construí com ele a mesma relação de intimidade.

Fitas que se desenrolavam, prendendo nos circuitos e levando os usuários à loucura; pilhas alcalinas que sempre se esgotavam mais rápido do que nós gostaríamos (e eu gastei uma grana com pilhas!); estações de rádio que nunca sintonizavam da forma ideal, sempre gerando estática e na hora das melhores músicas... Polêmicas à parte, o walkman mereceu o seu status de cult e foi visionário em todos os sentidos. Mudou a maneira de nos relacionarmos com a música e até hoje gera subprodutos que não envelheceram um segundo sequer (ainda mais em tempos tão vintage como os atuais!).

Você nunca teve um? Sinto muito, mas você não foi adolescente. Pelo menos não na minha época. E para resumir este humilde artigo em poucas palavras: o walkman, gostem ou não, foi a invenção do século que passou.

Acham exagero? Podem pesquisar e tirar suas próprias dúvidas.


Biografia:
Crítico cultural, morador da Leopoldina, amante do cinema, da literatura, do teatro e da música e sempre cheio de novas ideias.
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