"Ay de Aquellos que no saben gramática"
Octávio Paz
Foi de arrepiar! Dizem que no carnaval pode tudo, já na Língua Portuguesa há limites. Contudo, nesse fevereiro fizeram um carnaval no português:
O primeiro arrepio a cair na gandaia foi o professor Desleixado, pesquisador da história da Baixada Fluminense, com duas alas principais: a Ala dos Cacófatos e a Ala da Concordância Verbal. Na ala dos cacófatos brilham, respectivamente, o mestre-sala “Por Razão” e a porta-bandeira “Vespa Assada”. Na ala da concordância verbal é mais complicado pois, nos textos do professor Desleixado, o sujeito e o verbo nunca estão em harmonia como estão a lixeirinha de mais de mil e o saca-rolha da Universidade de Brasília. Tem que haver harmonia, até na corrupção, mas o professor não entende isso e põe o sujeito pra sambar no plural e o verbo no singular, sem ser caso especial, e a G.R.E.S Acadêmicos dos Erros perde pontos na Marquês de Gramaticaí! Principalmente se cair nas mãos do jurado, Prof. Rafael Cândido.
Mas vejam o que publicou o professor Desleixado no texto “O Carnaval e a sua História”: “Faziam-se esferas de cera, bem finas, com o interior cheio de água-de-cheiro e depois atirava-se nas pessoas”. Atirava-se ou atiravam-se? Olha aí! Estão atirando na Língua Portuguesa e não é esfera de cera, não. É armamento pesado para destruir de uma vez a língua. Melhor seria o professor Desleixado ter escrito, “Atiravam-se” para concordar com “Faziam-se”; melhor ainda seria ter escrito, “atirando-as nas pessoas” porque o advérbio “depois” atrai o pronome. Mas vamos que vamos porque o professor Desleixado é reincidente de outros carnavais, quando nos 60 anos de São João de Meriti ele saiu com essa no jornal: “Em São João de Meriti, trinta quilômetros do centro do Rio de Janeiro, a capital política, econômica, cultural e social do Brasil, borbulhava os desejos de emancipação”. Êpa! Borbulhava ou borbulhavam? E o professor já presidente de Academia de Letras! “Borbulhas de amor” à parte, parece que é borbulhavam porque desejos está no plural. No mesmo texto ele escreveu: somava-se a esta demanda, os poucos recursos e uma política populista demagógica, que visava acima de tudo a obtenção do poder a qualquer custo. É somava-se ou somavam-se?! É “somavam-se” para sambar em harmonia com “os poucos recursos” e não fazer feio na avenida. Isso é pior do que perder o tapa sexo. Numa revista ele escreveu: Nos 34 Km que compõe São João de Meriti. Compõe ou compõem? É compõe! Assim a Acadêmicos dos Erros vai descer para o grupo de acesso. Veja mais umazinha dele: “Levando em conta que estes dados até 1947 não correspondia ao território que hoje forma o município de São João de Meriti...” correspondia ou correspondiam? Olha o que derruba uma escola é a tal da harmonia! É correspondiam, para sambar harmonicamente com “os dados”.
Vejam senhores, errar é humano, mas insistir no erro não é burrice! O burro é muito inteligente para ser ofendido dessa forma. Um professor meu, especialista em “Burrinho Pedrês”, já tendo vivido em fazendas, conta que nas enchentes a água cobria os estrados e os bois ao passarem, ali, quebravam as patas, mas o burro sabia, direitinho, onde pisar. Burrinho é tão inteligente que enxerga até anjos. Não enxergou o anjo do Senhor com a espada desembainhada para decapitar o cego e ganancioso Balaão?
Mas o segundo arrepio a cair na gandaia, na rádio relógio, foi o analfabeto funcional, Bispo R. R.Soares que continua dizendo, mundo afora, para ficar em “espírito de oração” e não, “orando em espírito”. Dos anos 60 para cá, já era para o Bispo ter aprendido que João 5:39 não se lê no modo imperativo e sim no indicativo, porque Jesus não está dando ordem nenhuma, se fosse ordem, seria “Examinai” e não “Examinais”. “Examinais as escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna...”. Ai! Ai! Bispo! Assim o senhor acaba confundindo Jesus com o diabo. Olha o que diz o Bispo: “o que é que Jesus tá dizendo aqui (João 5:39)? Nós temos que examinar as escrituras”. É de arrepiar!
O terceiro arrepio foi Juanribe Pagliarin que, no sábado de carnaval, falou sobre as obras da carne, bem coerente com o Carnaval, festa da carne. Definiu o que era prostituição, feitiçaria, orgia...Mas quando chegou na emulação, a Mula de Balaão empacou. Emulação – dizia – é uma mágoa, um ressentimento. Ora, mágoa é tristeza, desgosto; ressentimento é magoar-se profundamente, é sentir de novo e na emulação não há tristeza, pelo contrário, cada um dá o melhor de si, há muita animação, às vezes até demais que chega a prejudicar o colega na disputa pelo prêmio, por exemplo, com falcatrua, trapaça... Emulação não tem nada a ver com mula. Diz o dicionário: é sentimento nobre que nos leva a igualar ou exceder outra pessoa. E a competição, o estímulo, o incentivo pode gerar rivalidade. E aí sim, a mágoa e o ressentimento podem surgir da emulação. Mágoa e ressentimento são efeitos da emulação, a causa. O pastor confunde causa e efeito. Erra ao definir. Assim até os demônios se arrepiam, né, gente!
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