Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
A SACOLA REGINALDA
Lasana Lukata

Nesse inverno-quente, abrindo os jornais, dei com notícias de que leis proibirão o consumo de sacos plásticos. São Paulo, Rio e outros estados. Em São Paulo o governo já vetou. Políticos de um lado e outro não se entendem. Uns dizem ser benéfica outros que é trocar seis por meia dúzia. A questão é a substituição das sacolas plásticas por outras sacolas plásticas biodegradáveis que se decompõe mais rapidamente na natureza.
Parece que estes legisladores nunca foram ao teatro ou ao cinema ou recitais de poesias. Estão apresentando estes projetos por não conhecerem a sacola Reginalda. Se conhecessem, optariam pela sacola de pano.
Uma lei tem que combater todos os casos de poluição. Não adianta nada trocar uma sacola plástica por outra sacola plástica porque se, em tese, acaba com a poluição nos rios e lagoas, não acaba com a poluição nos teatros, cinemas e recitais poéticos, nos nossos ouvidos. Poluição sonora. Quem já não foi perturbado por um barulho de sacola plástica durante a apresentação de uma peça, filme ou poesia? Proibindo a sacola plástica mataremos dois coelhos com uma sacolada só. Sacolada de pano. É atirar no que viu e acertar no que não viu: o barulhinho chato dessas sacolas plásticas nos espetáculos. Acho que daria para esse povo ser mais fino como os personagens do mensalão que usam malas e cuecas. Eles nunca foram pegos , fazendo barulho, com dólar numa sacola plástica.
No Centro Cultural Banco do Brasil há uma jovem senhora que sempre leva uma sacola plástica. É o terror. E se reclamarmos ela só falta nos bater. Um dia assistindo à comédia “Fama para Todos”, ela sentou-se ao meu lado e as poltronas já estavam todas ocupadas. Tive de agüentar. Não agüentei. Pedi que parasse de mexer na sacola e senhora ficou uma fera porque chamei de sacola a sacola. Que gracinha! Era Reginalda o nome da sacola de supermercado dela. Gigi para os íntimos. Desbotada, parecia uma bolsa crepe. Toda enrugada.
No teatro foi mais interessante ainda: um casal, ele careca, bola de bilhar, ela rolicinha, sentado ao meu lado com duas sacolas plásticas, uma delas se mexendo sozinha. Olhei duas vezes de cara feia, feio aqui é redundância, sou feio mesmo, e a mulher se desculpou dizendo que estava com desejo de comer galinha com batata. Não acreditei que uma galinha havia entrado no teatro, mas enfim: é Brasil... Daí a pouco a galinha querendo respirar, furou a sacola. Pior, desamarrou-se e fugiu. O pessoal naquela capacidade de improvisação incorporou a galinha, o careca e a rolicinha à peça e tudo terminou bem que era comédia, mas nem tudo é comédia nessa vida, às vezes há uma reflexão e a sacola plástica, as Reginaldas, atrapalham. A peça é feito a crônica, às vezes é uma sacola plástica, vazia, leve, às vezes é pesadinha com três quilos de batata dentro para cozinhar. Já pensaram a Bárbara Heliodora no teatro, coitada, atenta para fazer a sua crítica e uma galinha com três quilos de batata ao lado atrapalhando e ainda tendo que chama-la de Reginalda?
Quando saí do teatro, dezenas de sacolas plásticas pelas ruas. Umas nas esquinas, conversando com os bueiros, outras correndo para lá e para cá nos cruzamentos...Uma até veio conversar com o bico do meu sapato, mas tranquei-a na lixeira. As ruas pareciam pertencer a elas.
Um redemoinho passou e levou muitas sacolas para o céu. Em lá chegando, espero que aquele rio puro da água da vida prometido, claro como cristal, não esteja cheio de sacolas plásticas.


Biografia:
Lasana Lukata é poeta, escritor por usucapião, São João do Meriti, RJ.
Número de vezes que este texto foi lido: 59423


Outros títulos do mesmo autor

Poesias LASANA LUKATA
Artigos Pagliarin e a Língua Portuguesa LASANA LUKATA
Ensaios prudentes como as serpentes, simples como as pombas LASANA LUKATA
Ensaios Rodas emperradas LASANA LUKATA
Artigos A emoção nos peitos de Olenka LASANA LUKATA
Crônicas Fanini, Juanribe Pagliarin, Guilhermino Cunha e Cia. LASANA LUKATA
Crônicas De mãos vazias LASANA LUKATA
Crônicas Jato Sólido LASANA LUKATA
Crônicas A estufa não está vazia LASANA LUKATA
Crônicas Tony Maneiro: O vampiro de Meriti Lasana Lukata

Páginas: Próxima Última

Publicações de número 1 até 10 de um total de 88.


escrita@komedi.com.br © 2024
 
  Textos mais lidos
RECORDE ESTAS PALAVRAS... - MARCO AURÉLIO BICALHO DE ABREU CHAGAS 61656 Visitas
Fragmento-me - Condorcet Aranha 61603 Visitas
RODOVIA RÉGIS BITTENCOURT - BR 116 - Arnaldo Agria Huss 61488 Visitas
🔵 SP 470 — Edifício Itália - Rafael da Silva Claro 61068 Visitas
O Banquete - Anderson F. Morales 59985 Visitas
ABSTINENCIA POÉTICA - JANIA MARIA SOUZA DA SILVA 59978 Visitas
a historia de que me lembro - cristina 59968 Visitas
Meu desamor por mim mesmo - Alexandre Engel 59956 Visitas
Colunista social português assassinado por suposto namorado - Carlos Rogério Lima da Mota 59909 Visitas
O tempo todo tempo - André Francisco Gil 59868 Visitas

Páginas: Próxima Última