Três horas da manhã. Dona Maria se levanta da cama, abre a porta do quarto cuidadosamente e recebe uma lufada de vento frio de inverno junquense. Vai até a cozinha preparar o café, aproveita o tempo em que a água borbulha ao calor do fogo para acondicionar os quitutes em vasilhas adequadas. Tudo preparado na noite anterior e ainda frescos. Serão saboreados durante a viagem. Ao longe se ouve o ronco do motor do ônibus sendo aquecido. Abre a janela e pode ver que há muitas estrelas no céu azul e claro, descartando qualquer possibilidade de chuvas para o dia que se aproxima.
Há anos tenta convencer o seu marido José Paulo da necessidade daquela viagem à gruta de Nossa Senhora das Candeias. Precisavam pagar a promessa feita quando Aloísio, o filho do casal, ainda pequeno adoeceu. O menino tossia muito, os vizinhos especulavam, falavam a boca pequena em asma, bronquite, até em tuberculose. Levaram-no aos médicos, farmacêuticos e nada combatia aquela tosse seca. Foi o padre João Batista quem sugeriu uma promessa à Santa. Pois que prometessem levar o filho a beber água da fonte milagrosa e com a fé seria curado.
O barulho do motor da velha marinete acordou o pai e o filho. Levantaram-se e foram ao encontro de Maria que os aguardava com a mesa posta para o desjejum.
- Se alimentem bem, a viagem será longa e cansativa. Mas valerá a pena.
Todo ano sempre há pessoas com compromissos a serem saldados com a Santa. Fretam o ônibus de Seu Mané e seguem pela estrada, cantando benditos em alegre viagem. Maria de Venânçia é sempre a mais animada. São algumas horas até o Santuário Nossa Senhora das Candeias, é lá na cidade que está ao final da rua, uma gruta de onde brota da pedra, a água mais pura e mais santificada, pois dela, curas do corpo e da alma acontecem.
A primeira providência a ser tomada é procurar a secretária da paróquia e encomendar a missa. Muitas acontecem no decorrer do dia, todos os dias. Maria fez questão de assistir à missa celebrada pelo Frei Alberto Nozes acompanhado de Paulo e da criança. Havia outras mulheres com crianças naquela viagem. Os meninos ficavam brincando ao redor da igreja em reforma, estavam proibidas de distanciarem-se da porta lateral, onde podiam ser vistas.
- Que todos tenham um bom dia, sigam em paz e o Senhor vos acompanhe. – Disse, ao meio-dia, o religioso dando por encerrada a celebração e foi ouvido em coro o amém enviado pela assembleia.
Maria dava por cumprida a sua missão, com a certeza do dever cumprido e da cura do pequeno Aloísio.
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