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Mesa Farta
Luiz Eudes

Mês de setembro é mês de comemorar o nascimento dos santos gêmeos Cosme e Damião. Quem nasceu neste mês tem por devoção oferecer caruru a doze crianças. Capitão, que nasceu no dia 25 de setembro, desde a sua mocidade oferece a comilança em honra aos santos sírios.
Depois do casamento, sua esposa, uma jovem senhora que aprecia a fartura, resolveu estender a oferenda aos amigos do casal. Contratou ajudante e foi para o comando da cozinha, mandou que matassem galinhas, cozinhassem panelas de arroz, feijão fradinho e quiabo, que preparassem um bom vatapá e que não esquecessem da farofa. Telefonou para a distribuidora de Abinael e solicitou bebidas: vinhos, cervejas e refrigerantes em boa quantidade. Esperava por muitos convidados, inclusive o prefeito.
     Ocorreu que no dia 25 de setembro, o alcaide possuísse várias obras para inaugurar e até contratara um trio elétrico para animar um evento que aconteceria em um povoado distante da sede. Todos os junquenses para lá seguiram em busca da farra. O povo gosta de pão e circo, já disseram isto.
Na hora marcada os convidados não apareceram. Estavam na festa da prefeitura. Um famoso artista apresentava o seu espetáculo aos presentes. E agora, o que fazer com tanta bebida e com todas as panelas cheias sobre a mesa da ampla cozinha?
     O aniversariante Capitão, solidário à dor da sua amada, prometeu-lhe que encontraria quem fizesse o favor de comer toda aquela fartura da culinária baiana, porque com a cerveja ele não se preocupava, sabia que o prefeito viria à sua morada, ao final das inaugurações e fartar-se-ia em copos de cerveja, sua bebida favorita.
     Virgulino, que estava em viagem de férias pelo sul do país, chegou à cidade. Como estava fora, não tinha conhecimento dos dois eventos. Ficou a vagar pelas ruas e praças em busca de um companheiro com quem pudesse compartilhar alguns copos de cerveja e que tivesse tempo para ouvi-lo contar das belezas que vira em sua estada pelos estados do sul.
     Capitão também circulava pela cidade deserta em busca de quem pudesse convidar. O encontro aconteceu no Bar das Sete. Os conterrâneos alegraram-se ao avistarem-se. Cada um imaginando ter a solução para o seu problema.
     - Capitão, que bom te ver meu amigo. Estava aqui procurando um companheiro para uma farra.
     O aniversariante quis persuadi-lo da idéia e lhe fez de imediato o convite, embora temendo uma negativa, devido ao tardio do chamado:
     - Virgulino, eu gosto de você porque você é da verdade, não tem meias palavras, o que tem de ser dito deve ser dito. Mas sabe o que se passa meu amigo? Hoje é meu aniversário e mulher é bicho sem juízo como você sabe. A patroa lá em casa mandou cozinhar um mundo sem fim de comida, tá lá tudo sobre a mesa e vai para o lixão se não aparecer um filho de Deus que consiga dar vencimento naquilo tudo. Então quero chamar o amigo velho para ir lá comer, porque do contrário vou ter que jogar fora.
     A fama de Virgulino em ser agressivo verbalmente quando sentido ofendido é de todos conhecida. Depois de ouvir atentamente o convite que lhe fora feito, olhou com firmeza dentro dos olhos do jubiloso e lhes disse, segurando em seu ombro:
     - Rapaz, você adivinhou os meus pensamentos. Eu estava aqui pensando onde e com quem eu iria almoçar, tendo em vista que a cidade está vazia.
E seguiram em direção à morada de Capitão, onde encontraram uma mesa farta, repleta de guloseimas da culinária baiana.


Biografia:
Luiz Eudes é autor de Noite de Festas e Tempo de Sonhos
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