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Calou-se a voz
(R.I.P Aretha Franklin)
Roberto Queiroz

Hoje, de certeza, certeza mesmo, somente uma: a música ficou mais pobre. Perdemos a rainha do soul. E acreditem: quem ouviu essa senhora sabe por a+b que não perdemos qualquer rainha. Já ouvi de tudo nesta vida de Meu Deus!, mas poucas chegaram tão longe e me tiraram do chão tão fácil quanto a diva Aretha Franklin.

Pode parecer estranho aos leitores dos meus textos no facebook que um indivíduo formado nas raias do rock n' roll (à base de Legião Urbana, Cazuza, The Who, Beatles e companhia ltda) curtisse também a diva do soul. Mas curtia (e muito). E tenho algo a confessar: é com enorme esforço que realizo esse epitáfio, pois ele traz uma carga emocional embutida nele, muito forte. Meu pai (que o Deus o tenha onde ele estiver!) era grande fã de Aretha, colecionava seus discos com uma paixão indescritível. E perder Aretha ontem foi meio que perder também uma parte dele, de seu bom gosto musical.

Pois bem: perdemos. Aretha nos deixou, aos 76 anos, após uma dura batalha contra o câncer de pâncreas.

A primeira vez que ouvi a rainha cantar era bem novo e assistira em casa à tarde uma sessão do filme Os irmãos cara-de-pau, de John Landis, com a dupla de comediantes Dan Aykroyd e John Belushi (este, então, um gênio morto prematuramente). Aretha aparecia num bloco cantando "think" e me deixou de queixo caído. Meu pai passara em frente à tv e disse: "se tem uma pessoa que merece o rótulo de artista é essa mulher aí". E passei a ficar de olho.

Dali em diante, toda vez que uma música interpretada por ela tocava no rádio eu parava para ouvir: "I say a little prayer", "Respect", "Baby, I love you", "Chain of fools" (e aqui uma dica: procure no youtube uma participação dela cantando esta música no show Divas, ao lado de Mariah Carey), "Oh happy day", e o que mais pintasse na área. Aretha não era só soul, não! Era gospel também. Até a medula. E tem álbuns dedicados exclusivamente ao tema. Procure-os também. Aliás, se tiver tempo sobrando porcure por toda a sua discografia. Que inveja dos colecionadores da obra dessa mulher!!!

Aretha Franklin foi a trilha sonora gostosa, agradável de ouvir, de muita gente, de muitos casais apaixonados, certamente de todos os fãs de boa música. E se pararmos para pensar na grande competição que havia na sua época em termos de black music - Diana Ross, Gloria Gaynor, Roberta Flack, Tina Turner, etc etc etc - podem ter certeza que ganhar o título de rainha do soul não foi tarefa das mais fáceis.

Leio numa matéria sobre seu falecimento que ela era "um coro gospel inteiro". Digo mais: numa versão mais século XXI ela era um flash mob sozinho. Daquele tipo de cantora que leva uma festa, um festival de música nas costas com uma extrema facilidade.

É com tristeza que vejo mais um capítulo da história da música se encerrando e não sinto a presença de nenhuma renovação à altura. Onde iremos parar - em termos musicais - se continuarmos perdendo grandes vozes como Aretha? Será esse o fim dos tempos, e teremos de nos contentar com reouvir velhos clássicos, por conta da carência de novas vozes? Queira Deus que não, pois a vida já anda difícil por demais...

Só nos resta desejar que a rainha leve sua festa para platéias mais celestiais. Não tenho a menor dúvida de que eles (os anjos) irão se refestelar até dizer chega. Calou-se a voz, não o mito.

Fica com Deus, Aretha! Você merece.


Biografia:
Crítico cultural, morador da Leopoldina, amante do cinema, da literatura, do teatro e da música e sempre cheio de novas ideias.
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