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O que é um filme popular?
(cinema como negócio e expressão popular)
Roberto Queiroz

A academia de artes e ciências cinematográficas dos EUA está cogitando a possibilidade de criar uma categoria no Oscar para filmes populares. Em outras palavras: a Academia está mesmo é interessada em trazer para a festa os chamados blockbusters de super-heróis feitos pela Marvel e pela DC (e, claro, quem mais fizer parte desta categoria popularmente conhecida aqui no país como cinema pipoca).

Reclamações, lógico, virão de todos os lados. Tanto dos que defendem a medida quanto os do que acusam a intenção de puramente mercadológica e vazia. Já tem, inclusive, crítico de cinema na internet dizendo que o gesto da Academia é duplamente equivocado, pois rotula os filmes populares de "filmes de segunda classe", e portanto precisam de uma categoria só para eles, para não encherem o saco dos votantes dos sindicatos (lá chamados de Guilds) e engessa os chamados "filmes de arte" que, a partir de agora, ficarão reféns da mentalidade de que para serem rotulados como tal, não poderão gerar bilheterias astronômicas.

Entretanto, não é este o tema principal para mim aqui. Na verdade, nem me preocupo tanto assim com o Oscar (que considero uma festa baba-ovo para homenagear os puxa-sacos e queridinhos da indústria cinematográfica). O que me chamou a atenção nesse começo de discussão - a categoria melhor filme popular ainda não existe de fato - foi a expressão em si.

Pergunto-me e pergunto-lhes: o que faz de um filme de cinema um filme popular?

À primeira vista, lógico, nos deixamos levar pelo caráter comercial do projeto (o que ele é capaz de arrecadar, de gerar público). Contudo, alguns filmes ditos populares ao longo da história não arrecadaram tanto assim em termos de bilheteria (e em alguns casos, acabaram por ganhar décadas depois de seu lançamento a pecha de filmes cults. Mas isso é assunto para outra conversa, tá bom!)

Pantera negra, O cavaleiro das trevas, Os caça-fantasmas, Rocky - um lutador, Karatê Kid, Mulher maravilha, Homem-aranha, Transformers, Os goonies, De volta para o futuro, Cocoon, Alien - o oitavo passageiro, O exterminador do futuro, Robocop, E.T - o extraterrestre, Star Wars, Missão impossível, Top gun - ases indomáveis, Rambo, Conan - o bárbaro, Tubarão, a trilogia Onze homens e um segredo, Duro de matar, Desejo de matar, etc etc etc etc (milhões de etcs)... Todos, sem exceção, podem ser facilmente incluídos na categoria filme popular. E o que todos eles têm em comum? A capacidade de fazer suas plateias se sentirem parte da história.

Tirem a prova dos nove: quem já não pensou em praticar algum tipo de luta (não necessariamente o boxe) depois de ver o embate entre Rocky Balboa e Apolo Creed? Quem não gostaria de poder ser à prova de balas como o andróide interpretado por Arnold Schwarzenneger, à procura de John Connor? Quem já não se imaginou pilotando um caça das forças armadas como Maverick e Iceman? Ou não daria tudo para voltar ou avançar no tempo como Marty McFly e o Dr. Brown? Quem já não teve receio de entrar na água, na praia, depois de ouvir Roy Scheider gritando para os banhistas "saiam da água!"? Ou já entrou num prédio gigantesco e achou que era o Nakatomi Plaza? Pois é... Eu também.

Filmes populares são assim: entram em nosso subconsciente e bagunçam tudo lá por dentro. Nos fazem entrar de cabeça na história, viver intensamente a vida dos protagonistas, copiar estilos, gostos, costumes, imitar trajes. Digo mais: se pudéssemos, entraríamos literalmente no filme, como aquele garoto, Danny, do longa O último grande herói, de John McTiernan.

Se olharmos para o passado da sétima arte e o início de hollywood nos depararemos com pessoas que começaram a fumar por causa do cinema; namoraram pessoas que se pareciam com seus ídolos do cinema; compraram um Aston Martin idêntico ao do James Bond; usaram roupas justas, estilosas, berrantes, por causa de personagens específicos do cinema; teve muita mulher que tingiu o cabelo de loiro para ficar parecida com Marilyn Monroe, Lana Turner, Kim Bassinger e Sharon Stone; Já entrou na academia na vã esperança de construir um corpo como o do Stallone, do Jean-Claude Van Damme; já imitou e reimitou seus ídolos máximos da tela grande.

Como? Por causa dos filmes populares.

Fala-se em crise de criatividade no cinema americano e não há dúvidas: há remakes e spin-offs em demasia. Contudo, eles continuam - guardadas as devidas proporções de época a época - faturando mais do que os filmes ditos sérios, de arte, feitos para ganhar prêmios.

Que me perdoem Almodóvar, Woody Allen, Martin Scorsese, Stanley Kubrick, Fellini, Kurosawa e companhia limitada, mas assim como todos eles têm um papel fundamental para a história do cinema (e foram reconhecidos por isso por seu devido público), o filme popular também o tem: o de encantar multidões e gerações. Não fosse assim novas versões, recriações de velhos clássicos não seriam apresentadas à novas plateias, ávidas por essas releituras.

Estão vindo aí novas versões de Duna, Suspiria, um seriado de tv para O senhor dos anéis (um dos últimos fenômenos da indústria, que chegou a faturar na época 14 oscars), uma continuação para Top Gun, e muito mais. Aliás, a expressão muito mais aqui perde-se além do infinito (como bem diria o personagem Buzz Lightyear de Toy Story).

Enquanto houver público que ria, chore, torça, se encanta, repita gestos, falas, cante as canções, haverá mais filmes de gosto popular. Vocês, haters, deixe-os em paz! Não gosta? Simples. Não vá ao cinema. Procure outra coisa para fazer. Já para os que curtem o bom e velho cinema, enquanto houver filmes que faturem, que encantem nerds e gerem repercussões, continuações, haverá indústria, mercado.

E enquanto houver mercado, sempre haverá um motivo para ir até às salas exibidoras, não é mesmo?


Biografia:
Crítico cultural, morador da Leopoldina, amante do cinema, da literatura, do teatro e da música e sempre cheio de novas ideias.
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