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Ayrton! Ayrton! Ayrton Senna do Brasil!!!
(Um herói nacional)
Roberto Queiroz

Este mês que passou eu caí na asneira de assistir o grande prêmio da Alemanha de Fórmula 1 na Rede Globo (digamos, por desencargo de consciência). E qual não foi a minha frustração ao me ver perguntando a mim mesmo ao final da transmissão: o que foi que aconteceu com o automobilismo mundial? Onde foi parar toda aquela emoção de tempos passados? Pois é... A Fórmula 1 não é mais a mesma. Nem de longe.

E que me perdoem os fãs de Lewis Hamilton, Sebastian Vettel, Kimi Raikkonen, Max Verstappen e companhia limitada, mas eu (e minha geração) vimos Ayrton Senna!

Ainda não vi um crítico desportivo ou entendido em automobilismo ser capaz de explicar de fato o que foi o fenômeno Ayrton Senna. Não mesmo. Ele parece ter entrado para a história como uma figura mitológica, dessas impossível de se traduzir em imagens e números.

Minha história como fã de Senna e do automobilismo (porque eu era fã do esporte por causa dele!) começa em 1984, quando em sua segunda corrida pela pequena Toleman ele arrebata uma segunda colocação no GP de Mônaco - onde foi considerado rei por muitos anos -, deixando para trás grandes nomes das pistas. Pensei comigo: esse rapaz brasileiro promete! E olha que eu tinha meros oito anos.

Naquela temporada Senna conseguiu três pódios e fez muito mais do que muitos corredores de renome. No ano seguinte, 1985, devorou a pista de Estoril encharcada de chuva no GP de Portugal com sua Lótus preta John Player Special (marca de cigarros que o meu pai detestava, dizia ser cara e amarga em excesso!) e faturou seu primeiro troféu de campeão. O primeiro de muitos.

Parece pouco aos olhos de hoje (e levando-se em consideração o hexa ganho por Michael Schumacher) pensarmos que Senna é apenas tricampeão. E é. Seus três títulos em 1988, 1990 e 1991, no entanto, me parecem bem mais expressivos do que, por exemplo, o tetra faturado pelo francês Alain Proust (a meu ver, um piloto covarde, cheio de manias e esquisitices, que decidia até mesmo quem queria como parceiro de equipe, tinha medo de chuva e disputava o campeonato com uma calculadora no bolso, computando qualquer pontuação para vencer de forma burocrática).

Mais do que isso: fico com Senna por sua coragem.

Ayrton Senna me ensinou que era possível fazer o inimaginável dentro de um carro. Muitas vezes me peguei pensando se não seria ele louco varrido, um homem disposto a enfrentar a morte. Não, meus caros leitores! Antes fosse... Senna era o imponderável do seu esporte. Torcíamos para que chovesse e ele bailasse nas pistas. Torcia para que chegasse o GP do Japão em Suzuka, pois foi ali que ele decidiu alguns de seus títulos. Torcíamos para que ele fosse eteno.

E tudo isso numa época em que a Fórmula 1 ainda nos oferecia grandes pilotos como Nikki Lauda, Nelson Piquet (também tricampeão merecidamente), Nigel Mansell e Ricardo Patrese. Isso sem contar o colega de equipe na McLaren, onde passou mais tempo, Gerard Berger, a quem presenteou com a vitória na última corrida em 1991 (ano do tri).

Hoje muitos o veem como um arrogante e não é para menos. Vivemos tempos de recontar nossa própria história e a de nossos ídolos de maneira amarga, desdenhando seus feitos. Senna era complexo, imperfeito, competitivo até a medula e não levava desaforo para casa, como tantos outros gigantes do esporte. Misturar seu lado atleta com sua figura humana nunca será uma boa ideia nem muito menos explicará sua história como ela é. Pena que muitos nesse país repleto de analfabetos funcionais não entendam isso...

Em 1º de maio de 1994 Senna nos deixou após bater com sua Williams na curva Tamburello em Ímola, na Itália. Lembro-me que na noite anterior havia ido com minha tia e minhas primas numa festa de 15 anos e dormira na casa delas. Acordei no dia seguinte com a voz embargada de Galvão Bueno na tv. O acidente já havia ocorrido e a emissora repetia o momento da batida de diversos ângulos diferentes. Seria a última vez que nosso tricampeão atravessaria aquelas pistas.

Do enterro em diante perdi qualquer relação ou intimidade com o esporte. Nunca mais (quer dizer: até semana passada) assisti à um GP de Fórmula 1. Digo mais: ainda sonho com Ayrton Senna vivo, correndo a temporada disfarçado, com uma máscara, como o personagem Frankenstein do filme, hoje cult, Corrida da morte do ano 2000, do diretor Paul Bartel (realizado em 1975). Agora vejam vocês: um marmanjo na casa dos 40 tenho sonhos de menino!

Só mesmo Senna - o Ayrton Senna do Brasil, como ficou conhecido nas transmissões, sempre acompanhado do tema da vitória toda vez que vencia - para fazer esse quarentão se emocionar!

De certeza somente uma, meus amigos e leitores fãs do esporte: a Fórmula 1 nunca mais será a mesma... Mesmo.


Biografia:
Crítico cultural, morador da Leopoldina, amante do cinema, da literatura, do teatro e da música e sempre cheio de novas ideias.
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