Mosaico de Natal
Eis-me aqui. Faltam trinta dias para o Natal. Revejo meu interior repleto de lembranças de tempos passados. Algumas super engraçadas com o colorido dos sorrisos, os rostos felizes, outras espalhadas na névoa do esquecimento desejado, por nos levarem a momentos doloridos e sofridos.
Desde que comecei a escrever especialmente na época do Natal, o tempo passou rapidamente. Da adolescente insegura a mulher madura caminhei um longo caminho. Alguns passos foram decisivos para o meu crescimento, e algumas vezes feri meus pés nas pedras ao longo da jornada. Passei por margens de rios, jardins floridos, florestas com árvores altas, dormi ao relento, observando com olhar romântico o movimento das estrelas da lua, e no amanhecer sentindo os primeiros raios de sol, acordei em minha casa longe do tumulto da cidade, com o vento acariciando as mangueiras e jaqueiras no quintal, e o bater das asas dos gansos. Hoje vivo asilada na casa materna, longe da paz do sitio, tão repousante em tempos de outrora, atualmente um local assustador, cheio de tiroteios ao longo do dia, deposito de armamentos de guerra e terrorismo nas ruas próximas.
Em meu ser não habita mais o consumismo nefasto e hipócrita que preenche os seres humanos na comemoração do Natal. Guardo as boas lembranças de tudo o que vivi. Me olho no espelho, meus cabelos estão grisalhos num aspecto saudável e natural que só conheci na maturidade de meus cinquenta e tantos anos.
Sou mais feliz do que qualquer outra época de minha vida. Alheia aos comentários e sem sequer me preocupar com a famosa turma “fofoqueiros de plantao”, tenho muito menos amigos do que os falsos do passado, a casa já não é tão cheia, porque os indesejáveis não encontram mais espaço para desfilar suas sandices, assim tenho mais tempo para acariciar meu cachorro que me espera aflito se demoro na rua, tenho mais ouvidos para ouvir o jabuti batendo o casco no quintal ou empurrando a porta da sala, como a pedir para abrir, e retirá-lo do sol. Sou mais eu com minhas doideiras de me fingir artesã, tecendo casaquinhos e toucas para bebês que ainda virão por esse Brasil, e meu sonho realizado de me tornar escritora na adolescência.
Conheço algumas mulheres que estão como eu, abrindo-se no escuro, como faz a flor da vitória-régia que desabrocha a noite. Escuro do futuro que nos aguarda, pois envelhecer pode ser assustador, devorador ou inovador.
E ai chega o Natal, trazendo-nos na sacola do Papai Noel uma mistura de sonhos a realizar, desejos a serem satisfeitos, esperanças renovadas, alegria para ser compartilhada, brilho do amor maior de Jesus.
Já não espero com ansiedade o Natal, ele chega cada ano mais rápido, e é tão breve. Sinto que alguns nem percebem sua existência. Que pena! Cada vez que perdemos cada minuto desta dia mágico, matamos um pouco o brilho do menino Jesus, e escurecemos a Terra que já vive num binômio terrível guerra x paz.
Mesmo assim, conservo a essência e tento passa-la como gotas de perfume muito especial para aqueles que me rodeiam e as compartilho nas lembranças lindas que tenho num mosaico de Natal no meu interior.
Cabe a cada um de nós, levar adiante o Natal símbolo do amor maior de Jesus.
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