Meu galo me acorda toda manhã,
aos gritos,
acorda os vizinhos,
o sapo, a rã,
me dou por lúcido quando o escuto,
seu roufenho cantar,
galo de tantas cordas,
de cocoricar aos surdos...
As notícias me dão medo logo cedo,
o Papa condena,
Trump absolve,
cai a casa do povo venezuelano,
o político invade o recinto
e sem a menor vergonha diz: não minto,
desligo o televisor,
assumo o sol,
me entrego ao mundo,
arco com as consequências,
um pouco de poesia, um pouco de ciência...
Entro dentro de um livro
e começo a andar pelos seus corredores,
vejo sangue nas paredes,
vejo a tela de Da Vinci,
um homem crucificado,
bombas caindo do céu,
fecho o livro,
nada mais faz sentido,
penso em Galileu,
abro o vidro de cicuta,
nada mais se ajusta,
ouço um cigano a cantar,
bebo um gole,
digo para mim (não é mole!),
aceito a vida como ela é,
saio por aí a andar a pé...
|