OS LOBOS E AS OVELHAS
Há muitos anos os lobos e as ovelhas se achavam em guerra total. Não havia trégua, pois os lobos sempre devoravam as pobres ovelhinhas que cada vez mais se sentiam presas e acuadas e com medo de servirem de almoço.
Como sempre, os lobos levavam a melhor, pois eram mais astutos, fortes e as ovelhas o seu prato predileto.
Porém, um dia nasceu Cheitã, um carneiro muito forte e disposto a acabar com essa situação. Estava cansado de tanta chacina e carnificina.
A primeira iniciativa foi estabelecer um tratado de amizade e cooperação com os cães. Porém, para Cheitã os cachorros poderiam de uma hora para outra se rebelarem e atacarem as ovelhas também.
Todavia, os cães eram liderados por Pirineu, cachorro sábio, íntegro, honesto e inteligente. Diziam até que ele gostava de ler romances, pois tinha um grande coração.
O tratado de cooperação era conveniente às ovelhas, pois os cachorros conheciam muito bem os lobos e sabiam todos os seus golpes e estratégias de ataque.
Estava claro que mesmo um exército de ovelhas e cachorros não poderia vencer os lobos, pois eles eram numerosos, selvagens, precisavam saciar sua fome e eram carnívoros. Cheitã e Pirineu sabiam disso. Desse modo, como poderiam vencer os lobos, ou como expulsá-los da floresta? A tarefa parecia impossível.
Por outro lado, os cachorros eram desorganizados, passavam necessidades e também eram vítimas dos lobos.
Os dois líderes escolheram o macaco Sergio para ir espionar os lobos. Seria uma espécie de 007 selvagem, na tentativa de descobrir todos os pontos fracos dos lobos.
Imediatamente, o macaco Sérgio colocou uma roupa azul sem brilho para não ser visto e partiu rumo ao acampamento dos lobos. Não levava armas, pois acreditava na sua peraltice. Passou quinze dias espionando e descobriu que os lobos são animais com um senso de hierarquia altamente desenvolvido, vivem em sociedade organizada e cooperativa, sem necessidade de se recorrer a combates mortais pela liderança.
Ele também descobriu que o lobo simboliza a relação entre o homem a natureza. O lobo é uma peça-chave do equilíbrio ecológico, é um animal emotivo e ensina aos homens e animais as regras fundamentais para um convívio harmonioso, pois ele vive muito bem em família.
O macaco Sérgio coçou as suas longas barbas e começou a pensar. Ele sabia que as ovelhas são muito indefesas, tem pouco senso de direção e nenhuma capacidade para encontrar seus alimentos. Em outras palavras, elas são dependentes do homem para quase tudo.
Por sua vez, os cães também tem uma estrutura social muito semelhante aos lobos, estabelecem relações amistosas com os humanos, tem sentimentos e emoções muito aguçadas e são muito amigos dos homens.
Assim, o macaco estava com um grande abacaxi em suas mãos. Não sabia que rumo tomar. Num belo dia de sol, ele viu passar a sua frente, uma formiguinha marrom. Ela levava uma folha grande nas suas costas e já fizera uma grande caminhada. Sérgio perguntou:
- Dize-me formiga, como fazer paz entre lobos, ovelhas e cães? Ao que ela respondeu:
- Clama aos céus, ó infeliz criatura, enxerga a confusão em que estás e procura apoio.
- O macaco Sérgio, desde criança acreditava em Deus, mas como Deus lhe falaria?
Ora, meu leitor, assim como o macaco não sabia o que fazer eu também não saberia continuar esta estória, se não recorresse a Deus.
Contudo, o macaco seguiu outro caminho. Ele preferiu antes, falar com o Leão, o Rei das Selvas. Imediatamente foi à corte de sua majestade pedir conselhos.
Chegando lá foi recebido pelo Leão, mas teve que esperar um pouco pois o animal estava dormindo e não podia ser acordado, segundo a sua esposa.
Depois de uma longa espera, o Leão falou:
- Dize, ó criatura, o que quer de mim?
- O macaco, sempre um pouco longe prá não ser devorado, explicou toda a situação à sua majestade.
- O quê? Fazer paz entre lobos, ovelhas e cachorros? O que é isso? Desse modo todos os lobos vão morrer, pois não terão o que comer. Você ficaria sem comer? Ora, meu amigo, existem milhares de ovelhas no mundo que precisam ser devoradas. Eu adoro ovelhas, é meu prato predileto. Vá embora, não vou ajudá-lo!
Cabisbaixo, Sérgio retirou-se no local. Após longa caminhada, parou embaixo de uma árvore e começou a meditar. Realmente, estava numa enrascada. Mas, não podia voltar de mãos vazias, afinal diante de algumas pesquisas do IBOPE ela era o mais inteligente dos animais. Ele teria que ter uma solução. Cansado adormeceu.
Ele teve um sonho: vira um menino envolto numa grande luz. Ao acordar ainda se lembrava do sonho, mas o menino não lhe falara nada. O macaco ficou perplexo, foi correndo à sua biblioteca, e especular o que significava este sonho. Lera Freud, Jung e uma porção de escritores e não obtera respostas. Afinal, tudo era conjecturas.
Mas, o menino que vira estava bem vivo em sua memória. Ele começou a analisar profundamente o garoto. Tinha uns sete anos, estava pensativo. Em pé. Olhar fixo à frente. Uma mão abaixada, indicando a terra, mas a outra estava levantada como indicando os céus.
Os céus. Os céus. Parecia resolver a charada. Nos céus estava Deus, refletiu o macaco. Era lá que ele deveria procurar auxílio. Porém, suas inquietações aumentavam. Como atingir Deus, pensava ele? Além, disso um cachorro enviado por seu líder, queria saber como estava a espionagem dos lobos.
Ora, dificilmente o macaco poderia contar toda a história esperando que tanto cachorros como ovelhas acreditassem ou lhe dessem crédito. Sem esmorecer ele foi em todas as igrejas, todas as seitas e filosofias, procurando respostas. Um dia um mago lhe falou: “Deus é como o vento que passa; sentímo-lo por toda a parte e não o vemos em parte alguma”.
- Se Deus é assim, ele está comigo, posso sentí-lo! Mandou imediatamente o cachorro voltar aos seus conterrâneos e ovelhas, dizendo que logo, logo, teria uma resposta para tudo.
- O macaco voltou ao seu sonho e tentou interpretá-lo: se o menino me indicou onde está Deus, se o menino me mostrou a terra, significa que eu posso resolver toda a pendenga entre lobos e ovelhas através da ajuda divina. Resolveu assim, procurar o homem, que certamente lhe teria a resposta, pois acreditava que o mesmo personificava Deus na terra.
Na beira da floresta morava Adão, um sujeito muito culto e que entendia a linguagem dos animais. Foi lá que o macaco Sérgio procurou ajuda.
Ao chegar à casa, foi recebido amavelmente pelo homem. Este lhe perguntou:
- O que você quer aqui, como posso ajudá-lo?
Esta acolhida generosa estimulou o macaco. Imediatamente o macaco contou toda a história, ao que o homem lhe respondeu:
- Fica difícil fazer paz entre lobos e ovelhas e mesmo com a ajuda dos cachorros, acredito que não haverá paz. Você, macaco já vai saber a minha proposta de paz.
- É preciso dizer que os lobos tem uma mensagem muito encorajadora ao mundo: são os seus laços familiares e a harmonia que vivem dentro de casa, isto precisa ser passado para todos. Os cachorros tem na amizade o seu jeito de ser. A amizade é uma coisa que une todos os seres, sejam animais ou homens. As ovelhas são humildes e dependentes. A humildade é uma lição que precisa fazer parte do modo de viver de todos.
- O que eu sugiro, disse o homem é que todos os envolvidos precisam deixar suas diferenças de lado e se unirem num objetivo comum que é a paz.
- Em primeiro lugar vamos abrir uma escola para lobos, ovelhas e cachorros, sem esquecer de você meu caro macaco, onde cada um deles vai contar suas experiências, seus modos de vida e assim podermos resolver todas as diferenças.
- Ora, disse o macaco, isso é loucura. Só para entrar na escola, os lobos devorarão as ovelhas, os cachorros tentando defendê-las também vão morrer! E eu, pobre coitado, também vou virar almoço de lobo.
- É preciso oferecer soluções disse Adão. Para a fome dos lobos, indique as rações que substituirão a carne. Assim, os lobos poderão ir aos supermercados e comprarem comida acabando com a matança das pobres ovelhinhas.
- A escola funcionaria assim, disse Adão: o homem seria quem estimularia a paz entre os animais em conflito. Para isso, contaria com a lição de vida familiar dos lobos, a amizade dos cachorros, a humildade das ovelhas e o macaco funcionaria como um mediador, ou seja, por sua inteligência, sua intuição e fé em Deus, a ele caberia a tarefa de fazer a aproximação entre os bichos, sendo sempre ladeado pelo homem, que seria o incentivador da educação entre todos. Certamente, com todos esses ingredientes a paz poderia ser assegurada entre os bichos.
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