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O AGUACEIRO
Juarez Fragata

A chuva já estava próxima. O cheiro agradável de terra molhada dava esta certeza. Numa expressão de contentamento a passarada pulava de galho em galho, e gorjeava de contínuo, formando uma sinfonia regida pela espera. Que chegue a chuva sem demora!
Para avisar que estava prestes a chegar enviou um emissário: o vento.
Fraco talvez moderado. A única certeza é que tinha força suficiente para levantar a poeira do terreiro (área de terra que fica em frente de uma casa), causando correria. Era preciso trancar portas e janelas.
Logo após o vento foi à vez da noite invadir o dia por alguns minutos. A noite antecipada fizera com que todas as galinhas do terreiro subissem ao poleiro antes do horário habitual.
Depois de um tempo de espera a chuva mostrou seu cartão de visita: pingos espessos e espaçados. Na medida em que foi se intensificando o breu foi se dissipando restando apenas um tom amarelado.
Correr na chuva de pés descalços tornou-se uma diversão momentânea para a criançada. Os garotos vestiam apenas um calção, já as meninas mantinham todo o corpo coberto.
A chuva adentrou a noite num ritmo intenso, varou-a, e quando o dia amanheceu ainda mantinha o mesmo ritmo.
As crianças que estudavam na parte da manhã tinham uma boa desculpa para faltar à aula, e após um breve argumento voltaram a dormir. Já os adultos, como de costume, levantaram cedo, e depois do chimarrão, do feijão mexido acompanhado de um ovo frito e café preto, a lida do dia começou.
A primeira função foi alimentar as galinhas. Os punhados de milho eram lançados no terreiro barrento. As galinhas iam catando os grãos, em alguns pontos, praticamente encobertos pelo barro.
Em seguida foi à vez dos porcos receberem o seu quinhão matutino, e na sequência vieram os demais bichos.
Enquanto isso outros tiravam leite das vacas.
Nos dias chuvosos as funções eram diferentes. Trabalhar na lavoura era inviável, por isso, trabalhava-se em outros seguimentos, e naquele dia, exceto tio Chico que, envolveu-se com o feitio de soiteira e bainhas para facas e facões, os demais dedicaram o tempo a debulhar milho.
Entre incontáveis espigas e uma quantidade razoável de sabugo as crianças encontraram um pequeno espaço no paiol para brincar.
Bois de sabugos e bonecas de sabugos. Meninos e meninas brincando de ser adultos. Eles, lavradores, donos de três, quatro juntas de bois, mais vacas leiteiras no potreiro. Elas, mães zelosas, cuidando com todo zelo às filhas.
Os que tinham aula na parte da tarde não tiveram escapatória: tiveram que ir ao colégio mesmo abaixo de chuva.
O riacho já estava transbordando, por isso, tiveram que caminhar um pouco mais, e cruzar a ponte sobre a sanga, agora, furiosa e barulhenta.
Numa tarde chuvosa uma coisa não pode faltar: pipoca.
As espigas estavam presas pela palha, num fio de arame sobre o fogão. Após colocar mais lenha no fogo, tia Margarida pegou umas espigas, as debulhou, e depois da banha derretida, as lançou na panela para estourar.
Se a criançada estivesse ao seu derredor, certamente, estariam cantando: Estoura pipoca Maria pororoca!
Os dias de chuva, costumeiramente, demoram mais a findar. A manhã havia passado dentro de um tempo razoável, contudo, a tarde parecia infindável. Mas como tudo passa a segunda parte daquele dia estava prestes a acabar, e a chuva que até então não tinha dado trégua, agora da uma calmada, trazendo a baila um momento propício para alimentar uma vez mais a bicharada.
Não demorou, e a chuva voltou a cair de modo intenso até a madrugada. A partir de então foi diminuído, e quando o dia clareou o sol surgiu no céu com ares de preguiça.
O que restou do aguaceiro foi mais de uma saca de milho debulhado, e muitas soiteiras, e uma quantidade razoável de bainhas de facas e facões!




Biografia:
Evangelista e músico! Livros publicados mediante demanda:Mecânica Quântica e a Bíblia, As Pedras Grandes e Benai Elohim e Nephilim
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