Daqui algumas dezenas de séculos quando a evolução humana merecer um novo capítulo, ele certamente falará sobre a tecnologia. Creio que lá na frente, ela terá tanta importância como o fogo teve lá atrás. No momento, já é possível afirmar que moramos em cavernas tecnológicas.
Hoje é sabido que o fogo foi fundamental para o desenvolvimento do cérebro humano. Tudo começou quando nossos antepassados começaram a assar seus alimentos. Se foi bom para o sabor, devemos ao fogo a comodidade das nossas cavernas tecnológicas atuais. Eles não se davam conta de que estavam mudando a História. Nem nós.
Quando estudamos a nossa evolução é assustador perceber os perigos que a inteligência esconde. Nos nossos dias nos acostumamos associar inteligência com genialidade. Com toda a certeza os humanos não ascenderam como raça dominante no planeta pela genialidade.
Chegamos até aqui sempre navegando por mares vermelhos de sangue. Inteligência também é guerra, matança, dominação, escravidão, estupros, racismo e limpezas étnicas. Uma abominação pelas ideias, crenças e princípios que ferem conceitos estabelecidos. Livros que desejam contar apenas um lado da verdade. A dos vitoriosos.
Agradecidos ao fogo dispomos de todo o conhecimento imaginável com um simples toque de dedo. Torço para que esse toque faça com nosso cérebro o mesmo que os alimentos assados no fogo fizeram. Ao mesmo tempo que torço, temo pelo futuro da minha raça. A tecnologia terá a capacidade de nos fazer desaparecer do planeta.
Escondidos e anônimos em nossas cavernas tecnológicas, continuamos querendo navegar pelos mesmos mares vermelhos. Nossa inteligência continua sendo usada para os mesmos fins. Queremos a História contando apenas uma única verdade. A nossa. Com viés de alta, nossa abominação pelo diferente nunca esteve tão em evidência.
Algumas variáveis nos deixaram mais perigosos. Nas cavernas originais a aberração da ignorância não era conhecida. É quase insensato fazer tal afirmação, mas é um fato. Enquanto a genialidade é um produto escasso da inteligência, a ignorância é um subproduto extremamente abundante.
Das lanças com pedra lascada na ponta evoluímos para armas atômicas. Transformamos os jardins de Hiroshima em campos de testes. Por algum tempo inteligência era destruir com a opção de ser destruído. Tudo e a todos.
Ainda moramos em cavernas tecnológicas. Outra vez, a inteligência enxerga na tecnologia a arma mais potente do futuro próximo. Estamos ajudando a testá-la. A munição é a ignorância. Distribuída à vontade e gratuitamente.
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