Já era tarde da noite quando Joselie caminhava em companhia de Carlos e Thyerre, que sempre a acompanhavam até sua casa depois da aula. As ruas pareciam tranquilas e nada poderia acontecer naquele momento, não fosse por uma coruja que passou grasnando e cortando os ventos entre as cabeças de Joselie e Thyerre.
-- Ai que susto! - exclama Joselie.
-- Ah, você é uma medrosa com M maiúsculo! - diz Carlos revirando os olhos.
Nesse exato instante, passam pela frente do cemitério.
-- Urr... esse cemitério me dá arrepios... Ainda mais agora que foi abandonado. - fala Thyerre.
Joselie pensava consigo "não tem nada de assustador ai, só um monte de covas e seus esqueletos podres". Seus pensamentos são interrompidos por Carlos, que os fez parar na entrada do cemitério de portões enferrujados e observava seu interior escuro e estranho.
-- Eu também sinto arrepios ao passar por aqui - diz Carlos - ainda mais depois de saber que aí dentro vive um antigo coveiro psicopata, que mata apenas para ter o que fazer e se distrair, porque perdeu o emprego quando interditaram o cemitério. Joselie ri.
-- Fala sério, seu otário, você acredita mesmo nisso? Vamos embora!
-- Isso não passa de uma lenda Carlos - diz Thyerre, aos risos.
Outra noite, ao passarem novamente pela rua do antigo cemitério, um pouco mais cedo, Joselie percebeu a inquietação de seus amigos e resolveu lhes provar que não havia nada la dentro. "Esses idiotas acreditam em tudo que ouvem". Ela chega à entrada do cemitério e grita:
-- Tem alguém ou alguma coisa idiota ai? Apareça!
A única coisa que ouvem em resposta é o pio de uma coruja que a encara ameaçadoramente em uma moita próxima à entrada onde estão.
Joselie encara a coruja, ri e se vira para os amigos.
-- Viram? Agora vamos.
-- Depois do que meu pai falou ontem sobre o sobrinho do amigo dele, até estou acreditando no tal coveiro. O garoto veio ao cemitério com alguns amigos e desapareceu misteriosamente - fala Thyerre, enquanto vão seguindo, noite adentro, para casa.
Outra noite de aula termina e dessa vez, somente Joselie e Carlos voltam caminhando para casa, fazem a mesma trajetória de sempre, mas ao chegarem ao cemitério, percebem que algo nele mudou. Os portões, que antes eram enferrujados, agora pareciam novos e estavam pintados. Pararam para observar.
-- Nossa, parece que o velho coveiro enfim arrumou outro trabalho, não é? - diz Joselie, rindo debochadamente - Vamos?
Nesse instante, gritos os fazem parar. Gritos agudos e choros soluçosos de um pedido de socorro.
-- V-vamos embora! - exclama Carlos, assustado.
-- Ok, vamos!
Socoooorroo!!!...
-- Vamos embora, Joselie!
-- Não, Carlos, precisamos ajudar.
-- Mas esses gritos vem lá de dentro do cemitério e se a lenda for verdadeira?
-- Que lenda o quê, vamos!
Ela o puxa pelo braço e eles adentraram no cemitério. Ligam as lanternas dos celulares e caminham pelas estreitas ruas de covas. Os gritos começam a ficar mais altos à medida que caminham em frente. Cree.
-- Ai! - exclama Carlos.
Joselie se vira e vê Carlos com a mão na orelha, toda ensanguentada.
-- Carlos, o que houve? Ela estava assustada agora.
-- Aquela maldita coruja... ai... chega! Vou embora!
-- Não, você não vai me deixar sozinha aqui não.
-- Vou sim, tchau.
E lá se foi ele.
"Eu consigo, eu não tenho medo de nada. Muito menos desse coveiro idiota. É só uma lenda urbana" - pensa Joselie.
AAAAAAAAAAAAAA
Ao escutar mais gritos, ela corre pela escuridão, tropeçando em galhos secos e em covas pelo caminho.
AAAAAAAAAAAAAA
-- Cadê você? - grita!
-- Hahaha! Estou aqui - fala uma voz sinistra.
Uma figura estranha, alta sai de trás de uma árvore com um aparelho de som, o qual pausa e retira um cd.
-- Criança estúpida, você diz por ai que não existo, resolvi chamar a sua atenção.
-- O que você quer? - diz Joselie, com a respiração acelerada.
-- Eu? Só quero uma ocupação, distração, como você é seus amigos dizem. Não quero ser mais um idiota, como você mesma me chama.
Ele tira uma enorme tesoura de podar árvores e diz:
-- Isso vai ser divertido, hehehe.
-- O que você vai fazer? - diz Joselie, de olhos arregalados.
-- Você vai ver.
AAAAAAAAAAAAAA
Seus gritos foram ouvidos por Carlos, que ainda estava próximo ao cemitério e que rapidamente, reconheceu a voz da amiga e procurou ajuda da Polícia.
Isso aconteceu há 10 anos e até hoje não encontraram sinais ou restos do corpo da tal Joselie. Ainda hoje ninguém entra naquele cemitério sozinho, muito menos acompanhado à noite.
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