Publicado originalmente em 1940, A invenção de Morel, do argentino Adolfo Bioy Casares, poderia se encaixar em vários estilos literários – fantástico, policial, ficção-científica –, mas nenhum deles seria suficiente para descrever a maravilhosa história deste livro, que Borges classificou como "tecnicamente perfeito".
O romance é narrado em primeira pessoa, e escrever um diário parece ser a única forma que este fugitivo da justiça encontra para manter a lucidez diante dos fatos excêntricos que invadem sua vida enquanto ele decide esconder-se em uma ilha aparentemente deserta.
Segundo um comerciante italiano, a ilha era evitada por todos, já que abrigava uma misteriosa moléstia que "mata de fora para dentro". Mas como o futuro não prometia ser dos melhores, o narrador resolve ir para a ilha.
Após um período solitário, ele descobre que há um grupo de pessoas no lugar anteriormente imaginado ermo. A aparição das pessoas de uma hora para outra na ilha é inexplicável e ele tenta investigar como elas foram parar ali.
Durante suas buscas, dois sentimentos o dominam: o medo de ser descoberto e preso e a louca paixão por uma estranha mulher que observa o pôr-do-sol todas as tardes.
Depois de inúmeras tentativas de declarar seu amor à misteriosa Faustine, o pobre fugitivo descobre que ela não pode ouvi-lo nem vê-lo. Ela e todos os demais habitantes da ilha vivem em outra dimensão, não são pessoas reais, são apenas espectros.
A explicação para esse mistério vem trazer uma angústia ainda maior. Morel (um dos recém-descobertos moradores da ilha) inventou uma máquina capaz de extrair, armazenar e projetar a essência da pessoas. As imagens gravadas poderiam ser reproduzidas infinitamente, o que os tornaria imortais. Entretanto, algo errado durante esse processo levava as pessoas à famosa morte de fora para dentro: "caem as unhas, o cabelo, morrem a pele e as córneas dos olhos, e o corpo vive oito, quinze dias".
Essa descoberta faz o narrador (e também o leitor) refletir sobre o sentido da vida. "Todas as vidas [...] dependem de botões que seres desconhecidos podem apertar? E vocês mesmos, quantas vezes não terão interrogado o destino dos homens e levantado as velhas perguntas: aonde vamos? Seremos como músicas inauditas, gravadas num disco até que Deus nos manda nascer? Não percebem um paralelismo entre os destinos dos homens e das imagens?"
Com prólogo do genial Jorge Luis Borges e posfácio do admirável Otto Maria Carpeaux, A invenção de Morel é uma publicação da Cosac Naify, dentro da coleção Prosa do Observatório (coleção coordenada por Davi Arrigucci Jr, que reúne textos imperdíveis de autores hispano-americanos e brasileiros).
Texto publicado originalmente em www.leialivro.com.br
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