OS LAÇOS POÉTICOS DA LUA
“Lua
Traz ela pra mim”
–Lua Nova: Roberto Carlos/Erasmo Carlos
Os laços poéticos da Lua com a humanidade não foram desfeitos com a conquista do satélite pelo homem. Como ele se arvora a ser conquistador de tudo, desde que ergueu os olhos para as estrelas inaugurou uma nova era.
Na Literatura infantil e juvenil e até na adulta, surgiu um novo elemento, o ser alienígena, o marciano, o extraterrestre. No cinema tivemos grandes produções, algumas na memória recente de todos por terem sido reprisadas, como “Guerra dos Mundos”. Outros como “Vampiros de Almas”, clássico de 1956, dirigido por Don Siegel, (que reaparecerá nas telas do mundo em nova versão na refilmagem de Joel Schumacher), ajudaram a consolidar uma nova consciência.
O cineasta Steven Spielberg, ao espalhar nas telas cinematográficas o seu ET, apresentou o seu personagem de comoventes olhos azuis, e com ele um novo parâmetro para os contos de fadas. A magia não é mais privilégio de florestas e vales distantes. Ela vem do espaço, para comover.
O imaginário infantil do início do século XXI não abarca apenas fadas, príncipes e dragões, também seres espaciais e alienígenas, sempre prontos a invadir e destruir o nosso planeta, mas, sobretudo viagens maravilhosas e encantadoras regadas pelo brilho estelar. E também devemos agradecer ao Alex Raymond por isso.
Crianças de todos os lugares deixaram de conviver com as emoções de batalhas terrestres e vangloriaram-se com as guerras celestiais, os grandes confrontos espaciais, as lutas que vieram do alto, as grandes viagens. A “Guerra nas estrelas”.
A Terra perdeu faz tempo a condição de centro do universo, visão bíblica que imperou séculos e séculos e levou à fogueira diversas vidas, como a de Giordano Bruno, apenas para lembrarmos de uma.
Despontou o século XX como o século das luzes, não as luzes filosóficas, mas as que jorram das estrelas, do misterioso cósmico, das profundezas universais. O céu deixou de ser céu e tornou-se um espaço infinito. Outros mundos emergiram nas consciências humanas, mundos distantes e inatingíveis, mundos em confrontos, misteriosos, insondáveis.
Temores foram deslocados de florestas impenetráveis e oceanos assustadores. Depois de conquistar as matas e destruir diversas espécies de animais, e escravizar ou aniquilar povos nativos, e sondar o fundo do mar..., para não cair no tédio a saída exemplar foi erguer os olhos para o alto.
A glória nas alturas estaria entre as estrelas, e causou um impacto na alma a descoberta de que a luz que vemos às vezes não está mais lá, que uma estrela avistada, na verdade explodiu milhões de anos atrás e o que vemos é o seu espectro, e a luz que nos chega é a da sua morte.
E o Sol caminha em direção à estrela Vega, e novas catástrofes viriam, e talvez num futuro distante algo virá mesmo do espaço e a humanidade desaparecerá.
Fantástico viajar na imaginação e na possibilidade de se criar fantasia. Habilidade humana sem igual. Se não fosse a imaginação quão pobre e reduzida a vida seria! Ela que propicia viagens infindáveis e aventuras extraordinárias mesmo quando estamos apenas olhando o crepitar das faíscas de uma fogueira numa noite enluarada. Às vezes a imaginação antecipa a realidade.
Seriamos apenas ficção científica e somente ciências, se não fôssemos também poéticos, seres nascidos da poesia, esse batizado primordial do homem. Poesia que nos leva à Lua, numa viagem distinta, que não necessita de foguetes, apenas do envolvimento com os laços que não se desfazem, e não se desfazem justamente porque uma criança numa noite qualquer olha para a Lua e pela primeira vez se encanta. E esse encantamento cria raízes.
São os laços estabelecidos pelos mistérios do coração humano. Laços prateados que percorrem os labirintos da alma humana, laços poéticos da Lua.
MARCIANO VASQUES
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