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O infinito na finitude
Europa Sanzio

Somos tão acostumados com a vida e tão desacostumados com a morte. Desconectamos uma coisa da outra, quando, na verdade, uma só existe pela outra. Ficamos chocados quando a última nos aparece, quando elas são irmãs gêmeas que caminham de mãos dadas. Temos tendência a ignorar o que tende a nos destruir, mas a destruição maior vem quando o que ignoramos nos encara. Nessas vezes, o destruir nos é fatal. O que estamos acostumados a presumir que inexistiria, salta, ganha mais vida do que nós próprios.

Olhe para todas essas coisas que respiram a sua volta, cada rosto. Elas vivem, por isso mesmo, morrerão. Reconheça isso e só então perceberá que não precisa de todo tempo do mundo com elas. Isso é bobagem. Uma vida inteira pode se passar em um único dia. Aquilo que é mais verdadeiro, não tende a durar. Ir de contrário a isso é enfiarmo-nos em uma luta contra a própria natureza das coisas. Tudo funciona dessa maneira, finita, e se analisar bem, verá o quanto tudo é suficiente, por isso mesmo, belo.

Todos nós somos instantes. Momentos ainda mais efêmeros vivemos com aqueles outros. Somos pequenos de tempo, porém, paradoxalmente, podemos vivenciar o eterno. Viva este fato; és minúsculo na história humana e isso não te é um fardo. É uma dádiva da existência limitada. O duradouro tende ao enfadonho e repetitivo. O presente que a existência nos dá é este; construir tudo com base nas efemeridades, tornar as coisas em estreias a cada novo tempo. A vida vive para seguir assim. Nós que tendemos a ir de contrário a essa oferta, por isso há tanta frustração em tudo.

Nós somos suficientes e nosso tempo aqui também o é. Nossa mania de exceder a tudo não deve se ocupar a isso. Hesite e verá beleza em todas as coisas momentâneas que o envolvem. Elas são lindas por serem assim, não duráveis; terá só mais algum tempo com elas, pois você é finito, elas próprias são. Por isso, deve aprecia-las em sua totalidade. Se um dia eterno nós fossemos, toda a beleza passageira perderia seu encanto. Seria como ouvir por incontáveis vezes uma melodia que nos era bela, fazendo dela algo banal. Não nessa vida! Nela, ouvimos a canção únicas vezes e, quando tu ou ela se for, não se desespere. Entendas que todas aquelas vezes que a ouviu, foram o suficiente. Mais uma escutada e ela teria se autodestruído no infinito, perdendo todo o seu encanto de ser passageira. De nada vale toda essa superestimação pela existência quando ela já se tornou inútil; desprezível em sua durabilidade. O belo é o eterno; e este, só encontramos na efemeridade.


Biografia:
Leio desde criança, quando comecei a achar o mundo enfadonho em demasia. Escrevo desde a adolescência, quando senti a necessidade de dissertar sobre aquele mundo tão tedioso. Prazer, sou Europa!
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