O que eu sou é um caos de gente.
Indefinida.
Como o meu quarto,
eu sou um amontoado de coisas sem importância.
Que brilham apenas no meu mundo.
Só lá são especiais e só lá fazem sentido.
São as memórias de um passado ou de um sonho.
Tudo dessarumadamente no seu lugar.
Atafulhado.
A desordem do meu refúgio reflecte a do meu íntimo,
incompreendida por todos,
desapropriada.
Mas os livros desalinhados são a minha curiosidade inesgotável por quase tudo,
as caixas dos CDs vazias são a minha dependência musical,
as capas dos álbuns empilhadas são a voracidade com que devoro as palavras de outros poetas,
os sapatos pelo chão são os pés descalços, a ligação à terra,
os pincéis e as aquarelas são a sensibilidade, a ingenuidade e a utopia,
os sininhos e canas pendurados à janela são a melodia do vento.
Tudo isto para quê?
Para nada.
Não posso simplesmente ser, existir.
Tenho que ter uma utilidade.
Quando era pequena, na Igreja diziam que Deus a todos dava um dom.
Esqueceu-se de mim.
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