“Mas a sabedoria é justificada por todos os seus filhos.” (Lucas 7.35)
Estas palavras foram proferidas por nosso Senhor Jesus Cristo quando protestou contra a insensatez dos homens na avaliação das coisas relativas ao reino de Deus, pois criticavam João por ter vivido de forma rigorosamente ascética, e a Ele, Jesus, por ser, segundo eles, um comilão e bebedor de vinho, e amigo de publicanos e pecadores. Assim, usando estes argumentos por pretexto, pensavam estarem justificados para não darem ouvido a João ou a Jesus.
Todavia, conhecendo-lhes a dureza de seus corações e cegueira espiritual, o Senhor não se adiantou para lhes apresentar razões para mudarem o seu modo de ver, e limitou-se apenas a lhes dizer que a “sabedoria é justificada por todos os seus filhos”, ou seja, a verdadeira vida espiritual, celestial e divina sempre é vindicada naqueles que são tornados filhos de Deus, por meio da fé nEle, pois não somente a conhecem, como dão testemunho da sabedoria de Deus em suas vidas santificadas.
A isto, juntamos, que esta forma de vida piedosa, santa, e que dá testemunho da obra de Deus no coração humano, é mais vista em uns do que em outros, segundo a medida do crescimento espiritual no conhecimento e apreensão desta vida de Deus na alma, à qual estamos chamando de excelência, conforme assim é referida no próprio texto bíblico.
Não há nenhum outro campo em que a excelência possa atingir o seu maior grau do que na vida espiritual, pois sendo chamados a serem à imagem dAquele que é infinito e eterno e perfeito em sabedoria, não há limites para o crescimento dos crentes em Jesus Cristo.
A excelência a que somos convocados tem por modelo uma Pessoa Perfeita e não um mero ramo do conhecimento natural. Além disso não se trata de conhecimento meramente intelectual ou de algo nocional fora de nós mesmos, mas o crescimento segundo a medida da estatura divina sendo implantada em nosso próprio ser, ou seja, pela transformação do que somos no que Deus planejou desde antes da fundação do mundo para que nós fôssemos perante ele em amor.
É em Cristo que os crentes estão aperfeiçoados, e é somente nele que podem obter o crescimento espiritual que os amadurecerá para a frutificação, conforme se observa nas seguintes palavras do apóstolo:
I Coríntios 1.4 Sempre dou graças a Deus por vós, pela graça de Deus que vos foi dada em Cristo Jesus;
5 porque em tudo fostes enriquecidos nele, em toda palavra e em todo o conhecimento,
6 assim como o testemunho de Cristo foi confirmado entre vós;
7 de maneira que nenhum dom vos falta, enquanto aguardais a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo,
8 o qual também vos confirmará até o fim, para serdes irrepreensíveis no dia de nosso Senhor Jesus Cristo.
Há portanto um trabalho designado para ser feito em todo aquele que Deus tem recebido como filho, e o nível que este trabalho deve alcançar é o de formar a excelência do caráter do crente para que seja também excelente em todo o seu proceder.
A sabedoria celestial e espiritual é um trabalho realizado por Deus na alma. Não é mera aplicação de conhecimentos adquiridos, pois, muito do que é implantado pelo Espírito Santo no caráter dos crentes é experimentado até mesmo em muitos casos, antes de se obter o conhecimento das realidades espirituais às quais o conhecimento racional se refere.
Isto pode ser visto nas palavras do apóstolo na seguinte passagem bíblica:
I Coríntios 2.4 A minha linguagem e a minha pregação não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria, mas em demonstração do Espírito de poder;
5 para que a vossa fé não se apoiasse na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus.
6 Na verdade, entre os perfeitos falamos sabedoria, não porém a sabedoria deste mundo, nem dos príncipes deste mundo, que estão sendo reduzidos a nada;
7 mas falamos a sabedoria de Deus em mistério, que esteve oculta, a qual Deus preordenou antes dos séculos para nossa glória;
8 a qual nenhum dos príncipes deste mundo compreendeu; porque se a tivessem compreendido, não teriam crucificado o Senhor da glória.
Observe que o apóstolo está falando de uma sabedoria que não se manifesta apenas em palavras, mas na operação do poder de Deus na alma. E que esta sabedoria que é de procedência celestial nada tem a ver com a sabedoria natural do intelecto humano. Pois, quem é aquele que conhece o caminho da Águia Divina no céu senão o Espírito Santo, e aquele a quem Ele o revelar?
Não é algo que se obtenha por mera leitura, mas sobretudo por se caminhar com Deus, por se andar no Espírito, e aprender das circunstâncias nas diversas operações do Seu poder, sobretudo nas tribulações, à medida que estas sejam suportadas com paciência e fé.
“sede pacientes na tribulação” (Romanos 12.12)
I Pedro 2.18 Vós, servos, sujeitai-vos com todo o temor aos vossos senhores, não somente aos bons e moderados, mas também aos maus.
19 Porque isto é agradável, que alguém, por causa da consciência para com Deus, suporte tristezas, padecendo injustamente.
20 Pois, que glória é essa, se, quando cometeis pecado e sois por isso esbofeteados, sofreis com paciência? Mas se, quando fazeis o bem e sois afligidos, o sofreis com paciência, isso é agradável a Deus.
21 Porque para isso fostes chamados, porquanto também Cristo padeceu por vós, deixando-vos exemplo, para que sigais as suas pisadas.
Como ser paciente na tribulação e cumprir a ordenança apostólica tanto de Paulo, quanto de Pedro, que na verdade, é uma repetição do ensino direto de nosso Senhor Jesus Cristo em seu ministério terreno, a não ser por um aprendizado real e experimental da negação do ego e do carregar diário da cruz?
Quem pode ministrar e implantar este ensino senão o próprio Espírito Santo, na medida em que estejamos bem esclarecidos e convictos desta necessidade de sermos pacientes, pois Deus é paciente em Sua própria natureza, e nada é mais natural do que os filhos imitarem a Seu Pai amado.
Daí a importância do conhecimento exato do que nos é ordenado nas Escrituras, pois não poderíamos buscar aquilo que não sabemos que deve ser buscado, como por exemplo, neste caso, que importa sermos pacientes na tribulação, e suportar toda sorte de ofensas com espírito brando e manso, conforme este é concedido pelo poder de Deus.
Então, pelas Escrituras somos ensinados quanto ao que deve ser buscado, e no assentimento à verdade e na sujeição às operações da graça para tal propósito, podemos recebê-lo mediante o poder de Deus.
Não se pense, contudo, que isto nos virá como por um simples ato instantâneo do poder divino, capacitando-nos para tal de um dado momento em diante. Muita negação da justiça própria está envolvida neste processo de continuados exercícios de autonegação, conforme as oportunidades que recebemos de manifestar paciência segundo as ofensas que sofremos.
A cruz é um instrumento de dor, e certamente sofreremos em constatar que não há em nossa própria natureza a referida disposição de sofrer contrariedades com paciência e gozo espiritual no Senhor.
Por isso somos ordenados a sermos praticantes da Palavra e não meros ouvintes, pois se não houver tal disposição a nos submetermos ao trabalho de humilhação da cruz, jamais seremos transformados pelo poder do Espírito Santo, nas pessoas pacientes que importa sermos para darmos testemunho por meio de nossas próprias vidas do caráter longânimo de Deus.
O apóstolo Pedro afirma que é coisa grata a Deus que seus filhos suportem injustiças com paciência. Qual é a principal razão disso senão que se tornem semelhantes a Ele no seu atributo de paciência, de muita longanimidade com o mundo de pecado, tendo adiado a aplicação do juízo para revelar todo o domínio que tem sobre Si mesmo, para não manifestar a Sua ira contra o pecado, de forma a não destruir imediatamente os pecadores que lhe ofendem.
Assim, importa que o testemunho do cristão siga na mesma linha e direção, de forma a manifestar ao mundo qual é o caráter do Nome que ele carrega e que é sobre todo nome, e o único em que se pode obter a salvação.
Como nossa natureza terrena decaída no pecado não possui esta disposição divina de ser misericordiosa, perdoadora e paciente, há necessidade do trabalho da cruz para a crucificação e despojamento do velho homem, de modo que se viva e se ande segundo a nova criatura que é procedente de Deus, e que é a única que está habilitada a proceder de tal forma, segundo o caráter paciente do próprio Senhor.
Isto é obtido por se pedir a Deus em oração e pela disposição de suportar injustiças por amor a Cristo, para que o Espírito Santo possa nos capacitar para tal propósito.
Filipenses 1.9 E isto peço em oração: que o vosso amor aumente mais e mais no pleno conhecimento e em todo o discernimento,
10 para que aproveis as coisas excelentes, a fim de que sejais sinceros, e sem ofensa até o dia de Cristo;
11 cheios do fruto de justiça, que vem por meio de Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus.
Colossenses 1.9 Por esta razão, nós também, desde o dia em que ouvimos, não cessamos de orar por vós, e de pedir que sejais cheios do pleno conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e entendimento espiritual;
10 para que possais andar de maneira digna do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus,
11 corroborados com toda a fortaleza, segundo o poder da sua glória, para toda a perseverança e longanimidade com gozo; (Observe que no final deste versículo é dito que a longanimidade deve ser com gozo, ou seja, com alegria espiritual em sofrermos injustiças e perseguições com paciência, sabendo que assim agindo, teremos o consolo e fortificação do Espírito Santo, em aprovação ao nosso testemunho de que a paciência que há em Cristo para o perdão dos pecadores pode ser vista naqueles que são seus discípulos.)
Colossenses 3.16 A palavra de Cristo habite em vós ricamente, em toda a sabedoria; ensinai-vos e admoestai-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, louvando a Deus com gratidão em vossos corações.
Tiago 3.13 Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom procedimento as suas obras em mansidão de sabedoria. (O apóstolo associa o conhecimento de Deus e a verdadeira sabedoria que dele procede como sendo algo revelado em nossas obras feitas com mansidão, ou seja com longanimidade, com paciência cristã.)
14 Mas, se tendes amargo ciúme e sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade.
15 Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica.
16 Porque onde há ciúme e sentimento faccioso, aí há confusão e toda obra má.
17 Mas a sabedoria que vem do alto é, primeiramente, pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, e sem hipocrisia.
18 Ora, o fruto da justiça semeia-se em paz para aqueles que promovem a paz. (Quando alguém julga estar fazendo a vontade de Deus por estar agindo com ira contra aqueles que praticam males, na verdade está anulando o testemunho do evangelho de que Deus está sendo paciente com os pecadores na presente dispensação da graça. Ainda que não caiba a aprovação do mal, senão que seja reprovado, todavia, há o modo de fazê-lo, ou seja, com mansidão de espirito e longanimidade, pois é desta forma que o próprio Deus age, por ser longânimo e manso em sua natureza.)
Observamos pelas Escrituras e pela experiência que não é possível se alcançar a excelência sem que haja santificação, ou seja, sem que sejamos espirituais, pois a mente carnal não somente não entende as coisas do Espírito, como também não pode experimentá-las.
Paulo o define como sendo o caminho sobremodo excelente do amor, cujas características são destacadas por ele, especialmente no que se relaciona a suportar as ofensas sofridas no mundo e perdoá-las, em mansidão de espírito, seguindo o exemplo que nos foi deixado por nosso Senhor Jesus Cristo
I Coríntios 12.31 Mas procurai com zelo os maiores dons. Ademais, eu vos mostrarei um caminho sobremodo excelente.
I Coríntios 13.4 O amor é paciente, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não se vangloria, não se ensoberbece,
5 não se porta inconvenientemente, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal;
6 não se regozija com a injustiça, mas se regozija com a verdade;
7 tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
A primeira característica essencial do caráter cristão, dita excelente, é a paciência (v.4) pois se diz que o amor é paciente, ou seja, longânimo. E isto é fechado com as palavras do verso 7, ao se dizer que tudo sofre, tudo crê, tudo espera e tudo suporta.
Por vivermos num mundo sujeito ao pecado, não se poderia revelar o amor de Deus aos pecadores sem que houvesse em nós tal disposição em sofrer com paciência as injustiças que recebemos da parte deles, as quais, a propósito, são em grande parte inspiradas pelo Inimigo de nossa almas. Devemos vê-las então como oportunidades para o nosso crescimento na paciência, pedindo a Deus em oração que nos dê um coração perdoador como o dEle, e que não fiquemos ressentidos com as ofensas que sofremos.
Observe que o apóstolo destaca a paciência divina em sua vida como uma das características essenciais da excelência do seu ministério:
II Coríntios 1.6 Mas, se somos atribulados, é para vossa consolação e salvação; ou, se somos consolados, para vossa consolação é a qual se opera suportando com paciência as mesmas aflições que nós também padecemos; (É destacado pelo apóstolo que o consolo do Espírito Santo é dado aos crentes que suportam com paciência as aflições. Enquanto exasperados, murmuradores, e ainda que pretextando estar agindo em nome da justiça por termos sido injuriados, é bom que lembremos que esta condição anula o conforto do Espírito Santo, pois não pode validar com sua consolação um comportamento que é reprovado por Deus em seus filhos. A justiça e retribuição pertencem ao Senhor, e ainda assim, ele é tardio para se irar e lento para aplicação do juízo, especialmente nesta chamada dispensação da sua paciência, em razão de estar adiando a aplicação da justiça exígua até mesmo sobre cada palavra proferida ociosamente, para o dia do Juízo Final, quando então a paciência abrirá espaço para a aplicação da justiça. Mas, é bom que lembremos que isto não ocorrerá até que Deus tenha conduzido ao arrependimento a última alma que está destinada para a salvação em Jesus Cristo.)
7 e a nossa esperança acerca de vós é firme, sabendo que, como sois participantes das aflições, assim o sereis também da consolação.
II Coríntios 12.12 Os sinais do meu apostolado foram, de fato, operados entre vós com toda a paciência, por sinais, prodígios e milagres. (Neste versículo, o apóstolo dá o testemunho da sua longanimidade, pois sabia o quanto Deus espera que sejamos longânimos para com todos (I Tes 5.14)-
II Coríntios 11.5 Ora, julgo que em nada tenho sido inferior aos mais excelentes apóstolos.
II Coríntios 12.11 Tornei-me insensato; vós a isso me obrigastes; porque eu devia ser louvado por vós, visto que em nada fui inferior aos demais excelentes apóstolos, ainda que nada sou.
Há portanto uma excelência a ser buscada por todos os filhos de Deus, e temos visto que esta consiste principalmente na paciência de Deus implantada em nós, de forma a aprendermos a sermos tardios para nos irarmos, ou seja, a sermos longânimos como é o próprio Senhor.
Todavia, não há atributo divino que seja mais desconsiderado pela Igreja de nossos dias do que este que nos é tão recomendado e ordenado pelas Escrituras.
É aos mansos que é prometida a bem-aventurança da posse final da terra.
É aos pacificadores que se refere a bem-aventurança de serem conhecidos pelo mundo como filhos de Deus, em face do seu testemunho em suportar com paciência as injúrias que sofrem por causa do seu amor a Cristo.
São estes, que segundo a promessa do Senhor, poderão exultar em espírito e muito se alegrarem nas injúrias e perseguições que receberem por causa do seu procedimento santo.
Nosso Senhor nos ordena a aprendermos da Sua humildade e mansidão, por tomarmos sobre nós o seu fardo e jugo, que é aquilo que ele nos impõe como dever de obediência (jugo) e de trabalho (fardo).
Mas, quão pouco é visto deste comportamento genuinamente cristão em nossos dias.
A vinha do Senhor tem esta tendência a se degenerar, apesar da sua vocação para ser uma vinha excelente. Todavia, importa, uma vez esclarecido o nosso entendimento quanto à verdade bíblica que nos ensina acerca da vontade de Deus, buscarmos a restauração prometida, para que possamos produzir os devidos frutos para a Sua exclusiva glória.
A vocação:
Ezequiel 17.8 Numa boa terra, junto a muitas águas, estava ela plantada, para produzir ramos, e para dar fruto, a fim de que fosse videira excelente.
A degeneração:
Jeremias 2.21 Todavia eu mesmo te plantei como vide excelente, uma semente inteiramente fiel; como, pois, te tornaste para mim uma planta degenerada, de vida estranha?
A restauração:
23 No monte alto de Israel o plantarei; e produzirá ramos, e dará fruto, e se fará um cedro excelente. Habitarão debaixo dele aves de toda a sorte; à sombra dos seus ramos habitarão.
Muito da degeneração que é produzida na vinha do Senhor, a saber, na sua igreja, é produzida pelo pensamento incorreto de que é possível sustentar um bom testemunho enquanto se abriga iras, dissensões, amarguras e toda sorte de impureza espiritual, reveladas num comportamento em que há gritarias e irritações, como se houvesse ocasiões em que tais comportamentos fossem justificados.
Então, com os lábios se glorifica a Deus e também se amaldiçoa os homens. Em nome do zelo pela justiça, sentimentos implacáveis e rancorosos são despejados sobre aqueles que pratiquem males ou que nos contrariem.
Não é sem razão que haja tantas exortações na Bíblia no sentido de se banir definitivamente estas coisas da nossa vida, para que possa haver um real testemunho que manifeste ao mundo que somos de fato discípulos de Cristo.
Efésios 4.30 E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção.
31 Toda a amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmia sejam tiradas dentre vós, bem como toda a malícia.
32 Antes sede bondosos uns para com os outros, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo.
Seria sem motivo que o Senhor nos ordenou a perdoar setenta vezes sete? Que oremos pelos nossos perseguidores? Que não amaldiçoemos os que nos amaldiçoam, senão que os abençoemos? Que amemos os nossos inimigos? Que não resistamos ao perversos, mas que estejamos dispostos a oferecer a outra face a quem nos agrida?
Não é meramente por sermos crentes que somos perseguidos, mas quando manifestamos as virtudes destacadas no Sermão do Monte em nossa vida. Sempre precipitará alguma forma de resistência ou perseguição quando vivemos de maneira verdadeiramente piedosa, pois a carne sempre se levanta contra o Espírito. Por isso somos recomendados a ser pacientes nas perseguições que sofremos e até mesmo a exultar nelas porque elas evidenciam que estamos de fato vivendo no centro da vontade de Deus. É a manifestação desta vida divina no crente que o inferno persegue e odeia.
Não obstante, foi pelo meio de prever e permitir que nos sobrevenham todas estas provações, em forma de tribulações, tentações, angústias infernais ou não, que somos aperfeiçoados na paciência, que segundo o apóstolo Tiago deve ter o seu trabalho perfeito, em nada faltando, ou seja, devemos aprender juntamente com o apóstolo Paulo a nos gloriarmos nas próprias tribulações, sabendo que é por meio delas que o Senhor pode operar em nós a paciência cristã, e esta uma vez tendo sido incorporada ao nosso ser, nos conduzirá à experiência de que o Senhor é poderoso e bom, estando habilitados a fazer enfim a Sua obra, e assim, procedendo, a esperança da glória futura será uma firme convicção cada vez mais forte em nós, em razão do trabalho de Deus que observamos sendo realizado em nossas próprias vidas.
Daí se dizer, no contexto de uma criação que geme, que todas as coisas cooperam juntamente para o bem daqueles que amam a Deus.
Remova-se a tribulação, e com ela ter-se-á ido o nosso crescimento espiritual em santificação. Não é à toa que se afirma que importa entrarmos no Reino de Deus por meio de muitas tribulações, e que devemos ter por motivo de toda a alegria sermos provados por várias tentações.
A provação da fé é preciosa aos olhos de Deus porque produz vasos de honra para a Sua glória, que tendo sido purificados estão habilitados para toda a boa obra.
A graça é fortificada em nós conforme a paciência com que enfrentamos toda a sorte de resistência que se levanta contra o trabalho de Deus na nossa vida. Em alguma medida seremos participantes dos sofrimentos de Cristo para que sejamos glorificados juntamente com Ele. Importa estarmos identificados em tudo à Cabeça, tanto no que se refere aos sofrimentos quanto à glória. Se sofrermos com ele, com ele também reinaremos, e é na paciência que ganhamos as nossas almas. Aquela mesma paciência que Ele demonstrou abundantemente em seu ministério terreno, e pela qual foi imitado por seus apóstolos.
Importa, portanto, fazer silenciar os anseios da mente carnal, e ter a prontidão de se agradar ao Senhor por ficarmos quietos e sossegados em meio às situações que nos afligem, para que possamos aprender dele a verdadeira sabedoria, e conhecer a plenitude do seu poder para nos guardar e conduzir no caminho elevado da santidade.
A sabedoria divina em nós levar-nos-á sempre a detestar o mal e a amar o bem. E isso sucede quando andamos de fato no temor do Senhor, ou seja, quando tememos pecar para não entristecer o Espírito, e buscamos tudo fazer segundo a Sua vontade, para que possa se agradar de nós, pois somente assim podemos estar habilitados a dar o bom testemunho que glorifica o seu santo nome.
Jó 28.28 E disse ao homem: Eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e o apartar-se do mal é o entendimento.
I Coríntios 1.19 porque está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, e aniquilarei a sabedoria o entendimento dos entendidos.
20 Onde está o sábio? Onde o escriba? Onde o questionador deste século? Porventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo?
21 Visto como na sabedoria de Deus o mundo pela sua sabedoria não conheceu a Deus, aprouve a Deus salvar pela loucura da pregação os que creem.
Salmo 51.6 Eis que desejas que a verdade esteja no íntimo; faze-me, pois, conhecer a sabedoria no secreto da minha alma.
Provérbios 2.6 Porque o Senhor dá a sabedoria; da sua boca procedem o conhecimento e o entendimento;
7 ele reserva a verdadeira sabedoria para os retos; e escudo para os que caminham em integridade,
8 guardando-lhes as veredas da justiça, e preservando o caminho dos seus santos.
9 Então entenderás a retidão, a justiça, a equidade, e todas as boas veredas.
10 Pois a sabedoria entrará no teu coração, e o conhecimento será aprazível à tua alma;
Provérbios 4.7 A sabedoria é a coisa principal; adquire, pois, a sabedoria; sim, com tudo o que possuis adquire o entendimento.
Provérbios 8.12 Eu, a sabedoria, habito com a prudência, e possuo o conhecimento e a discrição.
Daniel 2.20 Disse Daniel: Seja bendito o nome de Deus para todo o sempre, porque são dele a sabedoria e a força.
21 Ele muda os tempos e as estações; ele remove os reis e estabelece os reis; é ele quem dá a sabedoria aos sábios e o entendimento aos entendidos.
22 Ele revela o profundo e o escondido; conhece o que está em trevas, e com ele mora a luz.
I Coríntios 3.19 Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus; pois está escrito: Ele apanha os sábios na sua própria astúcia;
20 e outra vez: O Senhor conhece as cogitações dos sábios, que são vãs.
Por estes e por muitos outros textos da Palavra somos concitados a buscar a sabedoria que é do alto, a saber que procede de Deus e que é incorporada no nosso viver transformando-nos à Sua imagem e semelhança, segundo o propósito para o qual nos criou.
Sendo Deus espírito, importa que seja conhecido e adorado também em espírito, e isto deve ser feito segundo a verdade revelada nas Escrituras.
Como carregamos, ainda que crentes, o velho homem do qual devemos nos despojar diariamente, faremos bem em seguir a ordenança bíblica pela qual somos exortados a nos despojarmos não apenas do velho homem, mas a nos revestirmos do novo, por um andar constante no Espírito, de modo que não sigamos a inclinação da carne, pois a carne para nada aproveita, e somente o espírito vivifica. Em outras palavras, por sermos espirituais, e não carnais.
Ser espiritual é uma necessidade vital, pois é a única forma de agradarmos a Deus e termos real comunhão com ele. Não é possível discernir sequer a Sua vontade que é boa, perfeita e agradável, caso não sejamos espirituais.
Daí as ordenanças como as seguintes:
Romanos 8.5 Pois os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo o Espírito para as coisas do Espírito.
6 Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz.
7 Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem em verdade o pode ser;
8 e os que estão na carne não podem agradar a Deus.
9 Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele.
10 Ora, se Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito vive por causa da justiça.
11 E, se o Espírito daquele que dos mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, aquele que dos mortos ressuscitou a Cristo Jesus há de vivificar também os vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que em vós habita.
12 Portanto, irmãos, somos devedores, não à carne para vivermos segundo a carne;
13 porque se viverdes segundo a carne, haveis de morrer; mas, se pelo Espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis.
14 Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus.
Romanos 12.1 Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos como um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.
2 E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.
Efésios 4.20 Mas vós não aprendestes assim a Cristo.
21 se é que o ouvistes, e nele fostes instruídos, conforme é a verdade em Jesus,
22 a despojar-vos, quanto ao procedimento anterior, do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano;
23 a vos renovar no espírito da vossa mente;
24 e a vos revestir do novo homem, que segundo Deus foi criado em verdadeira justiça e santidade.
25 Pelo que deixai a mentira, e falai a verdade cada um com o seu próximo, pois somos membros uns dos outros.
26 Irai-vos, e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira;
27 nem deis lugar ao Diabo.
Gálatas 5.13 Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Mas não useis da liberdade para dar ocasião à carne, antes pelo amor servi-vos uns aos outros.
14 Pois toda a lei se cumpre numa só palavra, a saber: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.
15 Se vós, porém, vos mordeis e devorais uns aos outros, vede não vos consumais uns aos outros.
16 Digo, porém: Andai pelo Espírito, e não haveis de cumprir a cobiça da carne.
17 Porque a carne luta contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes se opõem um ao outro, para que não façais o que quereis.
18 Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei.
19 Ora, as obras da carne são manifestas, as quais são: a prostituição, a impureza, a lascívia,
20 a idolatria, a feitiçaria, as inimizades, as contendas, os ciúmes, as iras, as facções, as dissensões, os partidos,
21 as invejas, as bebedices, as orgias, e coisas semelhantes a estas, contra as quais vos previno, como já antes vos preveni, que os que tais coisas praticam não herdarão o reino de Deus.
22 Mas o fruto do Espírito é: o amor, o gozo, a paz, a longanimidade, a benignidade, a bondade, a fidelidade.
23 a mansidão, o domínio próprio; contra estas coisas não há lei.
24 E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências.
25 Se vivemos pelo Espírito, andemos também pelo Espírito.
Agora, de quantas outras virtudes é composta a excelência do caráter cristão, além da paciência a que temos tanto nos referido?
São tantas que não podem ser esgotadas assim como é o caráter infinito do próprio Criador.
Quanto pode ser dito sobre a fé, o domínio próprio, o amor, a humildade, a justiça, a mansidão, a verdade, a bondade, a misericórdia, e tudo o mais que faz parte da Pessoa de Jesus Cristo?
É de tal ordem e importância tudo o que deve ser considerado no viver cristão que o apóstolo chama o episcopado (a superintendência da Igreja) de obra excelente, porque se exige o mesmo caráter excelente daqueles que aspiram à referida obra.
Em tudo isso, o que se tem em vista é antes de tudo o trabalho transformador de Deus em nossa alma e espirito, qualificando-nos para a obra do ministério, de maneira que se a falta de excelência pode ser suportada em alguns membros da Igreja, todavia, esta não deve faltar na pessoa dos ministros do evangelho, pois são colocados antes de tudo para serem modelos para o rebanho.
É pelo que se vê principalmente em suas próprias vidas, em todo o seu comportamento santo, que os que se encontram debaixo do seu cuidado pastoral aprenderão o que convém a serem imitadores de Cristo, assim como os seus pastores o imitam em suas próprias vidas.
Vemos assim, que o que se requer é muito mais do que mera exposição da sã ortodoxia, que se resumindo em palavras e não espelhando a santidade de Deus incorporada à vida, soará como letra morta aos ouvintes.
Além das virtudes chamadas passivas que se referem ao trabalho do Espírito na santificação voltada para a renovação e restauração do nosso interior, há também as virtudes ativas que são demonstradas sobretudo em nossas ações exteriores, no cumprimento das ordenanças, sobretudo daquelas relativas às obras manifestadas em benefício do nosso próximo, e especialmente dos domésticos da fé.
Como Paulo perguntamos: quem é suficiente para estas coisas? A não ser pela capacitação da graça de Jesus, sem quem nada podemos fazer? Esta é uma obra do céu e não da terra. É operada por meio da nova criatura que deve crescer em santidade a cada dia, pela instrumentalidade da Palavra de Deus implantada pelo Espírito Santo.
Que o Senhor abra o nosso coração para receber com mansidão a Palavra pela qual nos é dado crescimento até a plenitude de varão perfeito. De graça sobre graça, de fé em fé, de glória em glória, somos transformados na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor.
Que o Senhor nos confirme em toda a boa palavra e obra, de modo que se veja em nós a excelência de toda a sua bondade, misericórdia e amor para conosco em Cristo Jesus, estando instruídos de antemão, que isto não é possível sem que antes haja uma consagração real de nossas vidas à Sua santa vontade.
A tal respeito somos ensinados didaticamente na forma com que os dez mandamentos foram promulgados, sendo inscrito em duas tábuas, sendo que na primeira são descritos os deveres para com o próprio Deus, de forma a entendermos que ele deve ser buscado em primeiro lugar, o seu reino, a sua justiça, e na segunda os deveres para com o próximo, que não deixam de ser também deveres para com Deus.
Se não houver vida real e espiritual decorrente da comunhão com o Senhor, tudo o mais será em vão na religião. Nenhuma boa obra pode ser assim designada caso não seja feita em Deus, em fé e em amor, gerados pelo Espírito Santo.
Não se pode representar devidamente a tão elevado Ser caso não conheçamos o seu caráter. E, como temos visto, tal caráter não pode ser conhecido aparte do trabalho do Espírito Santo em iluminação do nosso entendimento, no fortalecimento do homem interior, para que possamos conhecer as coisas que importam ser conhecidas experimentalmente na própria vida, numa mente renovada pela Palavra e pelo Espírito Santo.
A falta deste conhecimento do caráter de Deus é a principal causa de ser oferecido tanto culto de adoração ou mesmo serviço em seu nome, que começam na carne e terminam na carne, e deste modo para nada aproveita, pois tudo o que a carne pode gerar é carne. Somente aquilo que é nascido do espírito e gerado pelo espírito pode ser aceitável a Deus como culto racional e oferta de aroma agradável.
Tudo isto se reflete não somente nos atos dos crentes como também na sua forma de conversação, pois daquilo que o coração está cheio a boca fala.
Conhece-se a árvore pelo tipo de fruto que ele dá. De uma fonte boa não pode fluir água amarga, e nem de fonte má, água potável. Faça-se bom o coração e o fruto dos lábios também será bom.
Quando não se leva em conta estas verdades bíblicas na formação de nossa conduta e caráter, é inevitável que não será possível ser visto em nós um caminhar que seja agradável ao Senhor, pois como temos aprendido, este caráter e conduta santos são forjados em nós, sempre pela purificação e renovação que são operadas pela Palavra de Deus e pela operação do Espírito Santo.
O iracundo se justificará como piedoso pelo fato de estar empenhado nos trabalhos de sua igreja? O que assenta tijolos no edifício do templo será considerado santo pelo trabalho que realiza, quando não anda em conformidade com as ordenanças de Cristo?
Toda forma de trabalho realizado debaixo do nome de Deus, sem que haja uma real consagração da vida à santificação que é ordenada na Palavra, não pode ser classificado como forma de se tomar o Seu santo nome em vão?
Não importa que o nome do Senhor seja santificado na terra da mesma forma como é santificado no céu pelos anjos, arcanjos, querubins e serafins e pelos espíritos dos santos aperfeiçoados?
Quando revelou os mandamentos através de Moisés o Senhor declarou que não teria por inocente aquele que tomasse o seu nome em vão.
E ao nos advertir que devemos viver para a Sua glória, e adorar exclusivamente a ele, interpôs a advertência de que visita a iniquidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração, como forma de punição à desobediência ao mandamento, e ao mesmo tempo apresentou o encorajamento à fidelidade pela promessa de fazer misericórdia até mil gerações daqueles que o amam e guardam os seus mandamentos.
Estas palavras foram proferidas na sequência das ameaças contra a idolatria, de modo que pontualmente consideradas sendo aplicadas à nação de Israel, visava alertar-lhes que a prática da idolatria culminaria com a fixação de juízos que viriam a ser promulgados em razão do desvio de uma geração, e cuja execução ocorreria, segundo a deliberação de Deus, na terceira ou quarta geração depois deles. Isto está claramente exemplificado em várias passagens bíblicas e especialmente na ida do povo para o cativeiro nos dias dos reis de Israel, quando o rei de Babilônia foi o executor do juízo nos dias do rei Zedequias, do juízo determinado pelo Senhor desde os dias do rei Manassés de Judá, muitos anos antes, conforme se lê em II Reis 24.3,4: “E, na verdade, conforme o mandado do Senhor, assim sucedeu a Judá, para o afastar da sua presença por causa dos pecados de Manassés, conforme tudo quanto fizera.
Como também por causa do sangue inocente que derramou; pois encheu a Jerusalém de sangue inocente; e por isso o Senhor não quis perdoar.”
Vemos assim que a iniquidade da geração dos dias de Manassés teve a execução do juízo predeterminado pelo Senhor somente muitos anos depois, por causa da Sua longanimidade. Isto sucedeu às gerações seguintes conforme a promessa de visitar a iniquidade dos pais nos filhos.
Agora, quanto a fazer misericórdia até mil gerações daqueles que o amam e guardam os seus mandamentos, vemos isto também sendo exemplificado na prática em muitas passagens bíblicas, mas é digno de nota o caso do rei Davi, cuja fidelidade e amor ao Senhor são declarados por Ele como sendo a causa de ter sido misericordioso para com muitos dos seus descendentes, e que o fazia não por causa deles que mal procederam perante Ele, mas por amor do Seu servo Davi:
Porque eu ampararei esta cidade, para livrá-la, por amor de mim e por amor do meu servo Davi. Isaías 37.25
Porque eu ampararei a esta cidade, para a livrar, por amor de mim e por amor do meu servo Davi. 2 Reis 19.34
Porém todo o reino não rasgarei; uma tribo darei a teu filho, por amor de meu servo Davi, e por amor a Jerusalém, que tenho escolhido. 1 Reis 11.13.
O amor verdadeiro ao Senhor, conforme confirmado por Jesus, é de fato por se guardar os seus mandamentos. É pelo nosso empenho sincero em aprender e guardar os seus mandamentos que somos agradáveis a ele, e não pelos meros louvores de nossos lábios, que podem, como é comum ocorrer, não estarem de acordo com o nosso caráter e comportamento.
Jesus nos exorta a permanecermos nele para que ele permaneça em nós; se o buscarmos se deixará achar; em caso contrário, não o acharemos, e assim, ficarmos desprovidos da vida santa e espiritual que nos torna excelentes em nossa vida e ministério.
Disto tudo aprendemos que é simplesmente impossível seguir a Cristo e imitá-lo sem autonegação. Se o ego não for negado e crucificado não podemos conhecer a vida ressurreta, poderosa em Deus e cheia de amor, paciência e de todo o fruto do Espírito.
Quando somos desmamados do mundo, quando não buscamos mais o nosso apoio e felicidade na criatura, mas quando temos somente todo o nosso amparo e regozijo no Senhor, isto é um bom sinal do avanço da obra da graça em nosso coração, preparando-nos para aquela excelência do conhecimento real do que é celestial, espiritual e divino.
Quando, como Paulo, temos prazer nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, por amor a Cristo e ao evangelho, é então que podemos conhecer a manifestação do poder de Deus em nossa fraqueza, capacitando-nos a suportar tudo com paciência, amor e fé em nosso coração, estando habilitados a perdoar e a evangelizar os pecadores pelo bom testemunho de um coração perdoador e profundamente interessado na salvação do perdido, assim como é o coração do próprio Cristo.
Já não temeremos mal algum no vale da sombra e da morte pois sabemos que o Senhor caminha conosco, e já não teremos nossas vidas preciosas a nossos próprios olhos, pois sabemos que temos alcançado a vida eterna e que nada mais poderá nos separar do amor de Deus que se manifestou a nós em Cristo Jesus, e que importa gastar o nosso tempo e trabalho em prol da salvação e edificação dos pecadores.
Deus quer se prover de muitos filhos, e estes filhos são gerados pelo trabalho de pregação da Palavra em vidas santificadas.
Conscientes disso podemos dizer juntamente com o profeta Isaías: “Eis-me aqui Senhor, envia-me a mim”; ou com o apóstolo Paulo: “Senhor o que queres que eu faça?”
Em tudo e em todas as áreas será o nosso desejo ver Deus glorificado através do nosso testemunho, quer no casamento, quer no trabalho, na escola, na igreja ou onde for.
A vida cristã não será um anexo para ser observada apenas no no Dia do Senhor, mas a razão da própria vida e de tudo o que formos e fizermos. Nosso desejo será sempre o de ser o bom aroma de Cristo tanto nos que se salvam quanto nos que se perdem. Será nosso desejo que em tudo seja Cristo engrandecido quer pela nossa vida ou pela nossa morte.
A vida que temos agora e sempre é pela fé no Filho de Deus, de modo que não vivemos mais para nós mesmos mas por Aquele que morreu e se entregou por nós, para que fôssemos recuperados para aquela vida de santidade que Deus planejou para os seus filhos, desde antes da fundação do mundo.
De tal ordem é o crescimento em excelência espiritual depende da comunhão pessoal com Cristo que pouco progresso será feito na medida em que for também negligenciada a vida de oração, pois é por este meio designado que nos comunicamos com Deus e ele conosco. É na nossa comunhão com o Senhor em espírito que o trabalho de transformação e crescimento é realizado em nós. É muito mais por se contemplar a santidade do Senhor em espírito que somos santificados, assim como o rosto de Moisés brilhava depois de ter estado na presença de Deus no Monte Sinai.
É pela meditação das coisas divinas em espírito que somos amoldados ao seu caráter, assim como a imagem é refletida em um espelho ou uma moeda cunhada em um molde.
Há assim um molde de doutrina ao qual somos entregues, e que é o único que é capaz de nos levar a sermos conformados à imagem de Deus. Por nenhum outro meio este trabalho pode ser realizado, de maneira que aquele que não estiver disposto a se purificar e a confessar os seus pecados para que seja digno de entrar na presença do Altíssimo, jamais poderá contemplar a sua face, ainda que como por espelho, de modo a ser transformado.
Na verdade, aleijões espirituais são encontrados aos montes pela falta dessa disposição de buscar a face do Senhor com um coração sincero, e que esteja também disposto a pagar o preço da consagração que for necessária para obter ainda que seja uma gota do favor celestial em sua vida.
Por esta medida podemos verificar de quanta busca egoísta, carnal, e por conseguinte, contrária à vontade de Deus, está cheia a religião moderna, onde se busca o que é do próprio interesse e não o que é do Senhor, onde o que se deseja é receber uma bênção e não ser uma bênção nas mãos de Deus para um mundo em trevas.
Acrescente-se a isso o amor aos prazeres, e até mesmo às coisas deste mundo e desta vida que são lícitas em si mesmas, mas que agem como pesos que impedem uma real consagração ao Senhor, uma vez que elas ocupam inteiramente o coração, agindo como coisas idolatradas, sem abrir espaço e tempo para se dedicar às coisas que são espirituais, celestiais e divinas.
São os milhões de Laodiceia que são cegos, pobres, miseráveis e nus na religião, que no entanto se consideram o oposto de tudo isso, e que pensam nada mais necessitarem para agradarem a Deus.
São os milhões de Sardes que têm a forma de piedade mas que lhe negam o poder, porque estão como mortos espirituais diante do Senhor. Como estão mortos não podem ter um gosto e fome pelo pão espiritual que desceu do céu, e tudo o que fazem está relacionado aos seus interesses pelas coisas que são visíveis e passageiras.
Outros estão enlaçados em entretenimentos que conquistaram completamente a dedicação do seu tempo e seus corações, de forma que não estariam dispostos a reservar tempo para tocar a vida da forma que é recomendada nas Escrituras, buscando ser úteis nas mãos do Senhor para o benefício dos seus próximos.
Mas, bem-aventurados são todos aqueles que entre eles se arrependem por ouvir o que o Espírito está dizendo às igrejas, para que corram a carreira da vida cristã com perseverança, renunciando ao pecado e a todos os pesos que impedem a sua corrida.
Aos que vencerem o mundo são feitas promessas preciosas que deveriam ser devidamente consideradas.
Com o que poderiam ser comparadas as renúncias ao mundo e aos desejos carnais pecaminosos, que são breves e passageiros, com a vida eterna e imarcescível que é prometida ao crente no porvir?
Com que poderiam ser comparadas as tribulações suportadas com paciência, e pelas quais teriam a transformação do seu caráter à imagem e semelhança ao de Cristo, com as facilidades e coisas deste mundo que produzem um viver indolente e indiferente à vontade de Deus?
Porém, estas realidades não podem ser conhecidas por argumentos persuasivos, pois estão disponíveis apenas àqueles que as experimentarem por terem decidido mergulhar no oceano do conhecimento pessoal e experimental de Deus.
As coisas espirituais são reveladas aos pequeninos, aos que se humilham, aos que pedem, batem à porta e que as buscam de todo o coração, e permanecem vedadas àqueles que não lhes dão o devido valor.
A pérola de grande valor não será achada se não for procurada diligentemente.
A cegueira espiritual não será curada se não comprarmos pela consagração o colírio que somente Jesus pode vender.
Nossa nudez não pode ser vestida a não ser pela veste de justiça de Jesus.
Enquanto o nosso cálice estiver cheio de nós mesmos e de nossa vontade carnal e caprichosa, jamais poderá ser enchido com a graça de Deus.
Há uma excelência de poder que é o próprio Espírito Santo que pode habitar em vasos de barro como nós, mas somente em vasos que estiverem limpos pela Palavra de Cristo; de modo que a excelência do poder não é propriamente nossa, mas de Deus.
Assim, Paulo, ao dizer que não era inferior aos mais excelentes apóstolos, por duas vezes, fez questão de afirmar “ainda que nada sou”, reconhecendo que tudo o que fazia era pela graça de Cristo que o capacitava, e muito além disso, sabia que foi justificado pela justiça do Senhor, uma vez que se considerava o principal dos pecadores.
II Coríntios 11.5 Ora, julgo que em nada tenho sido inferior aos mais excelentes apóstolos.
II Coríntios 12.11 Tornei-me insensato; vós a isso me obrigastes; porque eu devia ser louvado por vós, visto que em nada fui inferior aos demais excelentes apóstolos, ainda que nada sou.
É completamente justo que Deus perdoe aqueles que se arrependem e entregam suas vidas a Cristo para serem regenerados e santificados, pois a exigência da justiça divina foi inteiramente satisfeita quando Jesus morreu no lugar do pecador carregando sobre si os pecados deles na cruz.
A excelência é portanto do Senhor e não propriamente nossa, pecadores que somos e que nos encontrávamos sujeitos a uma condenação eterna.
A obra de Jesus em nosso favor é a razão de Deus poder ser longânimo para com o pecador, e isto desde o pecado do próprio Adão, pois, o sacrifício de Jesus tem os seus efeitos aplicáveis desde a fundação do mundo.
Desta forma, buscar a excelência é buscar o próprio Cristo, pois quanto mais se tem da sua vida divina mais excelente somos, a par de termos que dizer e reconhecer como Paulo: “ainda que nada somos”.
Glórias sejam dadas a Deus por sua infinita sabedoria, pois por este modo de sermos restaurados e conduzidos à perfeição fica excluída toda a possibilidade de jactância. Todos somos obrigados a reconhecer que toda a glória, honra e louvor pertencem exclusivamente ao Senhor.
Tudo foi criado por meio de Cristo e para ele, de modo que ao não terem reconhecido e aceito o seu domínio, muitos anjos caíram e se tornaram demônios, e em sua rebelião vieram a conhecer que é impossível ter a vida santa e justa que é mantida e sustentada somente por Jesus, porque detém a primazia sobre todas as coisas.
Todo ser moral que se encontrar separado dele está morto para a vida de Deus, pois esta é encontrada somente nele.
Quando, então, aqueles que entre os homens se reconhecem afastados da vida santa de Deus e recorrem a Cristo para serem perdoados e justificados pela Sua Justiça, conforme Ele tem prometido, estes acharão e terão a vida eterna, pois voltarão à sua fonte, a fonte de água viva que sacia a nossa sede para sempre, e que nos lava de toda impureza.
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