Por: Silvio Dutra
O sangue de Jesus nos justificou do pecado, mas dependemos do lavar renovador diário do Espírito Santo, uma vez que fomos submetidos ao seu lavar regenerador na conversão.
Como temos ainda um velho homem habitando em nós, que muitas vezes se levanta numa ousadia não santa, que é na verdade um espírito de independência orgulhoso, obstinado, desobediente, presunçoso; ele somente pode ser quebrado pelas humilhações que nos são impostas pelas provações que Deus reserva para nós, às quais Tiago chama de tentações, porque na verdade, configuram uma parte das diversas provações que nos são administradas pelo Senhor em Sua infinita sabedoria, para que aprendamos a ser mansos, quietos, humildes e desconfiados de nossas próprias habilidades, especialmente no que se refere às coisas que são espirituais, celestiais e divinas.
Pensamos ter o que não temos.
Pensamos ser o que não somos.
E, quando pensávamos estar atingindo os arcanos da santidade celestial, como sendo arrebatados ao terceiro céu, julgando incorretamente, que enquanto no corpo seria possível manter permanentemente um grau elevadíssimo de santificação, veio o espinho na carne, um mensageiro de Satanás para nos esbofetear, para o nosso próprio bem, de maneira a não ficarmos ensoberbecidos com a obra de santificação que o Espírito Santo tem produzido em nossas vidas.
Isto pode vir na forma de pensamentos de derrota, de pensamentos vexatórios, ou de reações não cristãs; então conhecemos pela graça de Deus, que não somos ainda os anjos que seremos no céu, e desta forma podemos ser mais úteis em Suas mãos para interceder pelos pecadores, lhes pregar e ensinar o evangelho de Cristo com humildade e mansidão.
Convém que se diga, que tanto nos pensamentos ou nos sonhos involuntários que temos e sejam pecaminosos, no entanto no caso dos crentes não os tornam em nenhuma condição, culpados diante de Deus, porque de tudo isso foram absolvidos por meio do sacrifício de Jesus.
Os pensamentos voluntários pecaminosos podem seguramente impedir a comunhão com Deus; o que não é o caso dos pensamentos involuntários e sonhos pecaminosos.
Não cremos que seja dado ao diabo livre acesso ao nosso subconsciente enquanto dormimos, gerando sonhos e pesadelos que ofendam a justiça e a santidade de Deus. Mas, não é desconhecido que os demônios podem insuflar pensamentos pecaminosos quando não os desejamos, em estado consciente, e neste caso não são postos em nossa conta, de modo que cheguem a atrapalhar a comunhão com Deus.
Esta guerra é complexa, e a maioria dos crentes não têm sequer conhecimento das muitas estratégias envolvidas na batalha espiritual que ocorre em seu próprio espírito, alma e corpo, os quais, a propósito devem ser inteiramente santificados.
Assim, muitos se sentem condenados e culpados por sentimentos e pensamentos a que não deram origem, senão por sugestão maligna do Inimigo de suas almas, importando que continuassem, uma vez repreendidos tais sentimentos e pensamentos, em comunhão com o Senhor na realização dos deveres que lhes são ordenados, na prática do bem.
Nisto se aprende também a não se confiar em si mesmo, mas na graça de Jesus e Sua obra de justificação pelo sangue derramado na cruz.
Quanto a pensamentos voluntários pecaminosos, estes devem ser confessados e insistir em oração até que se seja libertado deles, não importando quantas vezes sejam necessárias para se orar por libertação. Isto também se aplica aos pensamentos pecaminosos involuntários, que não sejam de origem satânica, mas em muitos casos, decorrentes de práticas pecaminosas passadas que vez por outra surgem na mente, e há grande dificuldade de serem evitadas, pois como dissemos, eles surgem sem terem sido invocados ou desejados de forma consciente.
Deus, em Sua grande misericórdia e amor possui um controle total sobre os pensamentos, sonhos e reações do subconsciente que nos aterrorizam, e sobre os quais não temos qualquer controle próprio para evitá-los. Devemos confiar inteiramente nEle e na Sua graça, para que no tempo oportuno recebamos alívio e descanso destas provações, que como quaisquer outras sempre chegam a um fim, ainda que seja por um determinado período, pois está na soberania do Senhor, se necessitaremos ou não ser ainda submetidos no futuro, a novas provações do mesmo caráter.
Em todo o caso, se permanecermos fiéis ao Senhor e à Sua vontade de modo consciente, tudo estará agindo para o nosso próprio bem, e todas as provações vencidas por meio da fé em Jesus somente contribuirão para aperfeiçoar a nossa fé, e nos amadurecer espiritualmente fazendo com que aprendamos a perseverança, a experiência e a esperança.
Em todas estas tribulações da alma ou do espírito temos motivo de nos gloriarmos nelas e no Senhor, porque estas cruzes estão nos ensinando a conhecer a excessiva malignidade do pecado, a valorizarmos a santidade do Senhor e a ansiarmos por ela.
Queremos ser revestidos do que é imortal, a ponto de desejar deixar o nosso tabernáculo terreno, para que sejamos inteiramente absorvidos pela vida que está escondida em Cristo Jesus.
Enquanto no corpo gememos, mas vem a hora em que já não haverá mais lágrima, gemido e clamor, porque assim como Ele, também seremos, a saber, inteiramente santos.
Apesar da plenitude da perfeição da santificação ser alcançada somente no porvir, entretanto é imperioso que se busque a perfeição (maturidade) da santificação do homem total. Quando a Bíblia se refere ao homem total (espírito, alma e corpo), aí também está incluído o subconsciente, que portanto também deve ser santificado progressivamente pelo poder do Espírito Santo de Deus, à medida que crescemos e somos fortalecidos no homem interior, mediante a prática da Palavra de Deus, cujos preceitos vão sendo implantados mais e mais em nosso ser, à medida da nossa consagração.
“E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.” (1 Tessalonicenses 5.23)
Antes de tudo deve ser entendido, que a conversão e santificação operadas pelo Espírito Santo, por meio da fé em Jesus Cristo abrangem o homem total (corpo, alma e espírito, incluindo-se o subconsciente).
Na conversão a Cristo, indubitavelmente, o subconsciente e o consciente regenerados e renovados, por meio do poder do Espírito Santo permanecem debaixo do Seu poder e controle de maneira efetiva e eficaz, mas isto é somente realizado quando andamos no Espírito.
Se antes da conversão, tanto o consciente quanto o inconsciente eram governados pela natureza pecaminosa não regenerada pelo Espírito Santo, exercendo completo domínio sobre a vontade, os pensamentos, os afetos e as ações, a partir da conversão a graça passa a reinar onde antes reinava o pecado como senhor absoluto, e então todo um conflito passa a ser estabelecido no interior do crente, entre o que a Bíblia chama de velha criatura ou velho homem, e a nova criatura ou novo homem.
Como a antiga natureza permanece no crente mesmo depois da conversão em que recebe uma nova natureza, é-lhe ordenado que pela consagração ao Senhor, se despoje progressiva e continuamente do velho homem, e de igual modo se revista do novo.
Assim, onde um deve crescer e aumentar, o outro deve enfraquecer e diminuir.
Todavia, não se trata de haver duas personalidades no crente, quando se fala em velho e novo homem habitando nele, mas de duas influências distintas operando na mesma pessoa, sendo que uma está sujeita à ação cooperativa com a graça de Deus (nova), e a outra se lhe opõe (velha).
Esta influência, tanto do velho homem, quanto do novo se encontram atuando em todas as partes do corpo, da alma e do espírito, e em todas as suas faculdades: afetos, vontade, razão, pensamentos, o consciente, e subconsciente, os quais são faculdades da alma; em todos os membros do corpo; e nas faculdades do espírito sobre o qual atuam as obras da carne (velho homem) ou o fruto do Espírito (novo homem).
Podemos identificar isto de modo prático, pelas manifestações tanto do nosso consciente, quanto do nosso subconsciente.
Quando o crente se encontra em estado de vigília, estando com suas faculdades bem despertadas para a vontade de Deus e sujeitadas à operação do Espírito Santo, ele pode e deve vencer as investidas pecaminosas do subconsciente, sobretudo em pensamentos e imaginações pecaminosos. Há, portanto o que se pode chamar de vitória do espírito sobre a carne, ou seja, do homem espiritual sobre o homem carnal.
Mas, quando há o estado de inconsciência, especialmente durante o sono pode-se ainda observar, quando se desperta e se sonhou, que ainda havia uma manifestação da nova criatura (sem um controle consciente, evidentemente), pela presença de sonhos que podemos chamar de abençoados, em que agimos conforme a vontade de Deus em nossas ações e reações.
Estes sonhos santificados, embora totalmente fora do nosso próprio controle consciente comprovam a existência de uma ação e controle do Espírito Santo em nossa natureza regenerada, porque onde abundou o pecado a graça de Cristo está destinada a reinar em seu lugar. Comprova-se assim, até mesmo pelos sonhos que tivemos, nos quais agimos segundo a vontade de Deus, parcial ou totalmente, que tivemos de fato um encontro pessoal com Cristo, porque Ele exerce domínio sobre o homem total quando nos convertemos.
Agora, para fins diversos e entre estes, para nos manter humildes e conhecedores que de fato habita em nós uma natureza corrompida, da qual seremos totalmente despojados somente depois da morte do corpo, Deus permite que tenhamos tanto em estado de vigília, quanto durante o sono, ações e reações pecaminosas, sobre as quais não há em nós qualquer poder para que possam ser vencidas, especialmente aquelas que se referem a pensamentos pecaminosos.
Nada podemos fazer além de evitar as fontes de tentação e orar a Deus para que nos purifique de tais pensamentos, ações e reações, e que nos leve a pensar somente naquilo que é santo, bom e de boa fama, e a agir e a reagir somente do modo que Lhe seja agradável.
Se há, como temos visto esta ação da graça de Cristo pelas operações do Espírito Santo em todo o homem exterior e interior do crente, não cremos que seria apropriado então, chamar o subconsciente de velho homem, e o consciente do crente de novo homem, porque o pecado pode se manifestar ainda, tanto no consciente quanto no inconsciente, de modo que não é o subconsciente propriamente dito que é pecaminoso, mas a influência da natureza decaída que nele opera.
A guerra da carne contra o Espírito e do Espírito contra a carne há de se estender, conforme afirma a Bíblia, enquanto estivermos aqui embaixo habitando neste corpo mortal.
E se nada podemos fazer no que tange a impedir o surgimento de pensamentos que brotam involuntariamente em nós, ou sonhos que perturbam a nossa paz, todavia podemos, em relação aos pensamentos, quando em estado consciente, rejeitá-los, repreendê-los, elevar orações em busca de libertação ao Senhor, e ocupar a mente com a Palavra de Deus em exercícios que nos levem a nada termos em nós, que venha dificultar a cultivar um coração que não nos condene.
Em todo o caso devemos lembrar, que o sangue de Jesus Cristo nos purifica de todo o pecado quando os confessamos, sejam eles até mesmo em pensamentos, podendo assim confiar inteiramente que Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça.
Além disso, devemos lembrar sempre que não temos um coração puro por sermos impecáveis, mas por levar o pecado a sério e resistir bravamente a ele por meio da fé no sangue de Jesus.
Assim, enquanto gememos pelos pensamentos ou sonhos pecaminosos que nos levam a clamar por libertação, devemos sempre ter em conta que não deixamos de ser aceitáveis a Deus em razão das fraquezas que nos rodeiam, e das lutas que temos contra as investidas da carne.
Por isso nosso Senhor Jesus Cristo nos alertou, que apesar de o espírito estar sempre pronto para nos dar a vitória, a nossa carne é fraca, e devemos exercer fé e confiança na Sua vitória sobre a carne, nos momentos em que nos encontramos enfraquecidos.
É de fato maravilhoso experimentar a força operante do Seu poder se manifestando em nossa fraqueza, assim como sucedeu na experiência do apóstolo Paulo em relação ao espinho na carne que o levava a ser humilhado, a ponto de dizer que tinha prazer nas fraquezas por amor de Cristo, uma vez que quando era fraco, então era fortalecido pela graça do Senhor.
O poder é do Senhor e não nosso.
A graça é do Senhor e não nossa.
Os méritos da nossa conversão, justificação, regeneração e santificação Lhe pertencem e não a nós.
Toda a plenitude está nEle e não em nós.
Estamos engatinhando em busca de crescimento espiritual e revestimento desta plenitude, com a qual Ele está pronto a nos conceder todas as coisas que nos são necessárias para andarmos de modo agradável a Deus.
Pensamentos vãos e pecaminosos que não desejamos ter, sonhos e pesadelos que de igual forma abominamos, e toda sorte de luta que tenhamos que travar contra a carne glorificam o nome do Senhor, quando perseveramos em buscar a santificação a par de tudo o que possa nos abater e afligir.
Nessas coisas estamos aprendendo a andar por fé e não por vista. A andar pelos triunfos do Senhor e não pelas nossos. A confiar inteiramente na Sua graça e justiça e não em nós mesmos.
Por isso somos ordenados a correr nossa carreira olhando não para as nossas possiblidades, mas para o Autor e consumador da nossa fé.
Para refletirmos um pouco mais sobre estas afirmações, apresentamos a seguir alguns pensamentos de Stanley Jones, destacados do décimo quarto capítulo do seu livro intitulado “Conversão”:
Quão profundamente esse instilar da "natureza divina" atinge? Que vai até o consciente, nós sabemos.
Alcança também o subconsciente? Poderemos ter novamente subconsciente?
A questão mais importante para a teologia é: pode o subconsciente ser redimido?
Porque a psicologia nos fala que somos grandemente limitados pelo subconsciente. O Dr. Arnold A. Hutschnecker coloca a questão dessa forma: "Ele (Freud) mostrou como a razão muitas vezes segue docilmente, apressando-se com explicações e justificações - chamaríamos de racionalizações - os atos e as opiniões determinadas sobre a esfera do subconsciente". O Dr. Menninger mais adiante declara: "Muitos que sofrem de conflitos emocionais aceitariam de boa vontade, avidamente até, colocar-se no altar da mesa de operação e sacrificar uma parte de seu corpo aos terríveis complexos de culpa que inconscientemente o dominavam".
O diretor do Hospital de Senhoras da Universidade de Tübingen diz:
"Sua enfermidade é um conflito psíquico navegando sob a bandeira ginecológica". Esse conflito situa-se grandemente no subconsciente.
O Dr. Hutschnecker logo adiante declara: "Manifeste-se o achaque em fadiga, insônia, indigestão, colite, prisão de ventre, diarreia, ou alergia de uma ou outra espécie; em geral, atrás disso tudo repousa a ansiedade". A sede dessa ansiedade está no subconsciente. Essa ansiedade no subconsciente produz tensão na pessoa toda.
Em tensões prolongadas o corpo se mantém num constante estado de mobilização. As reservas de energia se consomem ininterruptamente, as tensões se sustêm impiedosamente, e órgãos como o coração e os que se envolvem em processos químicos complexos são levados à sua máxima capacidade, sem pausa. Em tensões prolongadas disparamos um motor de alta potência à velocidade extrema - em ponto morto, queimamos combustível e nos consumimos, mas não vamos a parte alguma. Eis o efeito destrutivo das tensões prolongadas.
A sede dessa "tensão" é um subconsciente perturbado.
Pela conversão da consciência se recebe um novo sentido de purificação, nova lealdade, novo amor. Esse instilar é tão real, tão agradável, tão decisivo para a conduta, que o convertido pensa que a batalha terminou, que a vida agora é apenas uma jubilosa canção de vitória. Em geral, esses dias de lua de mel chegam ao fim dentro de um ano.
Os impulsos do subconsciente, que têm estado sufocados no fundo, aparentemente aturdidos em insensibilidade pelo instilar dessa nova, diferente, e autoritária vida na mente consciente, começam agora a reafirmar-se. Gênios, temperamentos, e temores que julgávamos destruídos para sempre erguem suas cabeças dos abrigos contra a tempestade do subconsciente, e lutam entre seguir o consciente ou o subconsciente. Paulo chama-a de guerra entre o "espírito" e a "carne". Goethe assim se expressa:
Duas almas, ai! ai! se aninham em meu peito,
e aí lutam
por um reino indivisível.
Muitos presumem que o empate é o melhor que a fé cristã oferece; por isso se acomodam à condição de se neutralizarem nesse conflito inevitável. O sétimo capítulo da epístola aos Romanos é sua fuga e desculpa - Paulo tinha esse conflito, por que não teremos nós?
Se o sétimo capítulo aos Romanos fosse o único Evangelho que Paulo tivesse para pregar, nunca mais teríamos ouvido falar dele. Mas o sétimo aos Romanos é pré-cristão - um homem sob a lei lutando com o pecado em seu subconsciente, sem os recursos de Cristo à sua disposição. Retrata a experiência do mundo todo sem Cristo. A fé cristã oferece uma saída para esse dilema?
Ela só o fará, se conseguir a conversão do subconsciente, e isso ela faz justamente. A área de trabalho do Espírito Santo está em grande parte, se não inteiramente, no subconsciente. Quem criou o subconsciente fez planos para a sua redenção, sua conversão, sua santificação. Que espécie de Criador seria Ele, se criando o subconsciente, não proporcionasse sua redenção no caso do mal invadi-lo?
E o mal o invadiu. O anelo do ser transformou-se em egoísmo; o impulso do sexo se tornou sexualismo; o instinto gregário transformou-se em subserviência às massas - fazendo da pessoa uma dominada pelas massas.
Tudo isso com o nosso consentimento. Um cavalo de Troia se introduziu em nosso subconsciente e em momentos de crise seus habitantes escondidos saltam e assumem o comando de ações e reações. Uma guerra civil resulta entre a mente consciente convertida e a subconsciente não convertida. Uma mulher assim expressa o fato: "Sou a pior personalidade do mundo. Dou pontapés nas pessoas, nas canelas, e sou a primeira a fazê-lo". Obviamente em sua mente consciente repugnava-lhe ser "a pior personalidade do mundo", contudo em seu subconsciente ela era o que lhe causava nojo.
Uma garotinha de quatro anos num lar missionário levantava-se sempre da mesa e ia para a outra sala, enquanto sua irmã mais velha lia as passagens da Bíblia. Por quê?
Ela sempre queria fazer o que a irmã mais velha fazia, e quando não podia ler como a irmã, retirava-se da situação e fugia. Frequentemente a vontade de fugir, de escapar, a vontade de fracassar reside no subconsciente, e fugimos em vez de enfrentar as situações desagradáveis. A menos que o subconsciente possa ser purificado, convertido e consagrado aos novos objetivos, a pessoa com um subconsciente não convertido está quase vinculada a ser meia pessoa, com meio rendimento.
É, portanto boa nova saber que o trabalho do Espírito Santo se destina a converter o subconsciente, especialmente para o converter. "O Espírito da verdade... habita convosco e estará em vós". Ele passa de "com" para "em". Ele não pode nos redimir do exterior. Essa é uma tarefa do interior. Nenhuma exortação ou repetição de conselhos piedosos do exterior pode tocar tais profundezas interiores. Força dinâmica, redentora deve mover no íntimo e assumir a direção desses impulsos, com o nosso consentimento, purificá-los e controlá-los. Essa Força redentora é o Espírito Santo.
Antes do Pentecoste o Espírito Santo estava "com" os discípulos, mas não "em"; neles. Eis porque vemos se erguerem à superfície, sinais do subconsciente não convertido:
1) Egoísmo obstinado: disputavam os primeiros lugares;
2) Justiça própria: "Ainda que venhas a ser um tropeço para todos, nunca o serás para mim";
3) Ressentimentos: “Queres que mandemos descer fogo do céu para os consumir?";
4) Falta de poder espiritual: "Por que motivo não pudemos nós expulsá-lo!";
5) Crítica: Para que este desperdício?";
6) Intolerância de grupo: "Nós lho proibimos, porque não seguia conosco";
7) Preconceito racial: "Despede-a, pois vem clamando atrás de nós";
8) Avidez egoísta: "Eis que nós tudo deixamos e te seguimos... que será de nós?";
9) Aversão por autossacrifício: "Tem compaixão de ti, Senhor; isso de modo algum te acontecerá";
10) Medo: "Trancadas as portas da casa... com medo".
Assim como as borbulhas surgem à superfície do lago vindas do lodo no fundo, mostrando que há podridão ali, assim essas dez borbulhas se ergueram do subconsciente dos discípulos e revelaram que este não havia ainda sido redimido; havia podridão ainda operando nas profundidades. Todas essas coisas desapareceram quando o Espírito Santo operou no interior e assumiu a direção.
As mesmas coisas se manifestaram entre os cristãos primitivos. Eram cristãos de mentes conscientes, convertidas, mas Paulo podia dizer: “Temo, pois, que, indo ter convosco, não vos encontre na forma em que vos quero; e que também vós me acheis diferente do que esperáveis, e que haja entre vós contendas, invejas, iras porfias, detrações, intrigas, orgulho e tumultos" - 2 Cor 12.20.
Entre as sete coisas, bem no meio está "porfias", a insubmissão do ser. Sempre está no centro de um subconsciente não convertido. O ser insubmisso era a raiz, e a "contenda", o fruto. Um era a causa e o outro o efeito.
Nós racionalizamos essas atitudes e atos errados, mas no fundo são as mesmas manifestações de um subconsciente não convertido. Uma garotinha disse: "Mamãe, quando a coisa é comigo, é o mau gênio, mas quando é com a senhora, são os nervos".
Em ambos os casos agia o subconsciente não convertido. Um pastor assim definiu: "As pessoas que vivem para si mesmas estão constantemente com a sensibilidade ferida". Esta sensibilidade é o aflorar de um subconsciente não convertido.
Quando o Espírito Santo desceu e assumiu a direção da vida dos discípulos, cada um dos dez frutos repulsivos do subconsciente inconvertido desapareceram. Em vez de avidez egoísta houve autoentrega; autorretidão foi substituída por profunda humildade baseada na graça; os ressentimentos se dissolveram; a falta de poder espiritual se transformou em suficiência espiritual; a crítica deu lugar à apreciação; fanatismo de grupo se tornou cooperação do grupo; preconceito racial se transformou em fraternidade humana; cobiça egoísta se transformou na mais surpreendente explosão de caridade de que o mundo jamais ouviu falar; a aversão ao autossacrifício se transformou em autossacrifício que nunca foi igualado; o medo se transformou em coragem que com alegria segue o caminho da perseguição e da morte.
Tudo isso se fez com desembaraço, não porque os discípulos o estivessem fazendo, mas porque estavam permitindo que o Espírito Santo dentro deles o fizesse. Isso soa trivial, mas é a mais importante diferença no mundo, do motivo e da dinâmica humanas para a conduta. Pois isso reduz ao subconsciente a base de nosso viver, aonde podemos fazer as coisas ou não fazê-las. Se o Espírito Santo pode assumir o comando do subconsciente, com o nosso consentimento e cooperação; então nós temos o altíssimo Poder operando no alicerce de nossas vidas, podemos realizar qualquer coisa que devemos realizar, ir a qualquer lugar onde devemos ir, e ser aquilo que devemos ser. A vida é suprida de fundamento suficiente.
Sem esse fundamento tateamos desajeitadamente a vida. Há o que é conhecido como "casa de força". Está sua casa suprida de energia suficiente, para fazer trabalhar todas as coisas de que precisa, para empregar em um viver adequado?
Se não, então você está constantemente queimando fusíveis quando uma carga muito pesada é lançada na "casa de força". Isso ocorre em nossas vidas.
Quando exigências muito pesadas se lançam sobre nossa "energia pessoal", nós queimamos o fusível, "com os nervos à flor da pele", dizemos. É um sinal de frustração, de insuficiência para enfrentar as exigências da vida. Não somos maus, somos apenas insuficientes. Nada há no subconsciente a não ser nossos acionamentos básicos, somente controlados pela mente consciente que os reprime. Isso quer dizer que há uma tensão básica entre o consciente e o subconsciente - somos basicamente tensos.
Paulo assim se expressa:
"Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que porventura seja do vosso querer" (Gál 5.17).
Eis que as mentes consciente e subconsciente estão sob um único controle e uma única redenção - o Espírito Santo. Você se torna uma personalidade unida.
Que o Espírito Santo consagra esses impulsos não somente de início, mas continua a consagrá-los, é algo mais uma parte das boas novas. Ele é o Espírito de consagração, "pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus", Hebreus 9.14.
O eterno Espírito era o poder por trás da oferta de Cristo sobre a cruz. Ele conserva eternamente nossas forças e impulsos consagrados desde que o consintamos. Não há necessidade de nos erguermos nervosos e tensos junto ao altar da consagração para conservar as energias e anelos "diante do altar". O Espírito Santo realiza a consagração; isso abate a tensão de ansiedade interior. Abandone-se e deixe Deus, o Espírito Santo, tomar a direção das profundezas centrais de seu ser, o subconsciente. Assim poderá abandonar nEle o peso total, e realmente se relaxar.
Eis que seus sonhos, que são os afloramentos do subconsciente se transformam em sonhos cristãos. A psiquiatria pagã não tem noção do controle do subconsciente pelo Espírito Santo, portanto nenhuma noção de um sonho cristão. Quando um cristão inteiramente submisso a Deus sonhou que alguém lhe havia feito o pior que se possa fazer contra o próximo, e, ainda em sonhos, apossou-se do inimigo pela garganta com ambas as mãos e disse: "Poderia sufocá-lo até a morte, mas eu o perdoo", um psiquiatra pagão, em vez de ver nisso o sonho de um cristão verdadeiro diante da reação ao mal, deu uma interpretação fantasticamente pagã ao sonho.
Isso me leva a declarar que nossas reações se tornam cristãs quando o Espírito Santo controla o subconsciente. A mente consciente determina as ações, nosso subconsciente determina as reações. E as reações são tão importantes quanto às ações.
Muitos cristãos são cristãos em suas ações; não mentem, não roubam, não cometem adultério, não se embebedam, porém reagem mal ao que lhes sucede, posto que reagem com rancor, mau gênio, autopiedade, ciúmes e inveja. Se ações impróprias deixam a pessoa desolada, e deixam mesmo, então as reações impróprias deixam a pessoa igualmente desolada.
Casos de reações impróprias podem ser retratados assim: "Vejam o que me fizeram". "Vejam o que me aconteceu". Quer a reação imprópria tenha uma causa ou não, os resultados são os mesmos; uma personalidade desolada. Agora, quando as profundezas são dominadas pelo Espírito Santo, então as reações são cristãs.
Em um de meus livros contei a história da reação de uma mulher à morte do marido. Aceitou-a sem uma lágrima. Não era uma reação fortuita, uma aberração moral, era uma atitude inalterável. Ela conta a mesma vitória por ocasião da morte de seu pai: "Meu pai estava sofrendo de câncer de pulmão. Cheguei lá às 13 horas e ele morreu às 19h15. Fui grata a Deus por ter chegado a tempo, pois minha madrasta realmente precisava de mim. O quarto estava cheio de gente, e eu sabia que não havia um ministro presente, então eu mesma dirigi a prece. Envolvi minha madrasta com meu braço e agradeci a Jesus em voz alta pela vida de papai e pela sua nova vida na glória. Disse que nós entregávamos sua vida nas mãos de Jesus e que afinal ele alcançava a Terra Prometida!
Pedi a Jesus que confortasse e ajudasse a mamãe a viver sem a presença física do papai em sua vida e que todos naquele quarto amassem a Jesus mais do que a própria vida, porque Ele é a Vida. Parece que minha prece ajudou a todos. Fiquei tão feliz, porque papai estava salvo e por saber que na verdade, ele tinha atravessado a Grande Linha Divisória. Tinha vontade de gritar: Aleluia, Jesus é Senhor! Mas, por amor a eles deixei que meu semblante refulgisse a vitória, cuja alegria minha alma mal podia conter!"
Eis aqui a reação à morte do marido e do pai - reação idêntica de alegria! Isso não poderia manifestar-se, a não ser através de um subconsciente convertido. Os Evangelhos relatam que Jesus: "Na mesma hora ele (Jesus) regozijou-se no Espírito Santo".
Quando você não pode regozijar-se diante das circunstâncias, das coisas que ocorrem à sua volta e em si mesmo, você pode regozijar-se sempre no Espírito Santo. Ele habita nas profundezas do subconsciente e é sempre manancial de alegria. "Habitará convosco para sempre", a única constante no meio de um mundo de incertezas e mudanças.
O Espírito Santo faz três coisas; Ele purifica e consagra os impulsos do subconsciente, harmoniza o íntimo, e nos ajuda a reagir às coisas que nos ocorrem de maneira cristã.
A soma total disso significa que agora há poder em nossas vidas, e não somos impelidos de um lado para outro pelas circunstâncias. Sabemos onde queremos ir, temos poder para nos mover em direção ao alvo. Retiramo-nos do capítulo sete de Romanos para o oitavo: "A lei do Espírito da vida em Cristo Jesus te livrou da lei do pecado e da morte".
Esta lei sublime do "Espírito da vida em Cristo Jesus" cancelou a lei inferior do pecado e da morte. Assim como um pássaro em voo tira vantagens da lei de elasticidade do ar, e desse modo se ergue acima da lei da gravidade, assim nós vivemos por essa sublime lei que sobrepuja a lei do pecado e da morte.
Citei Freud ao dizer: "Forças de trevas, de insensibilidade e de carência de amor determinam o destino da humanidade". Ele descobriu o subconsciente e caiu em seu fatalismo. Cristo fez o subconsciente ("Todas as coisas foram feitas por intermédio dEle") e supriu o meio para a sua restauração; supriu nada menos do que o Espírito Santo, o Espírito da Criação e o Espírito da Recriação, para habitar em nós e nos restaurar, não por mandamentos e exortações, mas pela companhia e experiência. É operante, porque Ele opera do interior.
A doutora Henrietta Mears tem sido aproveitada poderosamente em ajudar a mocidade a seguir nova vida. Ela nos conta o segredo. Era uma cristã, mas sentia necessidade de poder. Disse a Deus: "Senhor, tudo abandonei por Ti e a ninguém mais me apego. Quero que meu corpo todo seja apresentado a Ti como sacrifício vivo, cheio até a plenitude do poder do Espírito Santo".
Então no íntimo de seu coração lhe veio esse verso: "Quanto mais vosso Pai que está nos céus dará o Espírito Santo aos que lho pedirem". Nesse exato minuto ela entendeu que tudo fora ajustado. Disse: "Obrigada Senhor. Aceito pela fé o encher-me do Espírito e Seu poder, do mesmo modo como aceitei a Cristo, meu Salvador". O Espírito Santo moveu as profundezas de seu ser, e operou no subconsciente.
Sentei-me numa estreita garganta no alto de uma montanha num dia de manhã. À medida que o dia ia surgindo, o sol inundava o cume da montanha, mas a garganta mais abaixo estava coberta de sombras e neblinas, porém à medida que o dia chegava ao meio, a luz do sol desceu das colinas e invadiu as profundezas da garganta também.
Com a conversão da mente consciente o dia começa a romper, a luz se encontra no alto da mente consciente, mas ainda há os abismos; o subconsciente, que estão ocultos pela neblina e treva. Então constatamos as cortinas da neblina e das trevas do subconsciente e convidamos a luz, para que invada os abismos. E isso se dá. "Se teu olho for simples", se tua personalidade estiver sob o controle do Espírito Santo, "todo o teu corpo será luminoso" (Mt 6.22); a personalidade se ilumina com Ele sem nenhuma sombra ou escuridão. E assim, você está realmente redimido, realmente convertido.
Até aqui as palavras de Stanely Jones.
Como vimos, Stanley Jones interpreta a experiência narrada pelo apóstolo Paulo no sétimo capítulo da epístola aos Romanos, como sendo a de uma pessoa ainda não convertida.
Todavia, não é esta a interpretação da maioria dos intérpretes da Bíblia, com os quais concordamos quando afirmam que ali, se descreve a própria luta do apóstolo e a de todos os crentes em Jesus Cristo, uma vez que nunca somos livrados completamente deste corpo de morte enquanto neste mundo, embora já ter sido decretada a vitória do Senhor sobre ele na cruz do Calvário, de modo que agora somos chamados a nos despojar dele em nossa caminhada cristã.
Como falamos nas páginas iniciais de nosso livro, não há algo como uma vida impecável por parte de qualquer crente, senão avanços maiores em santificação, sem no entanto, levá-los à perfeição espiritual, com o que o próprio apóstolo Paulo concorda e afirma em relação a si mesmo na epístola aos Filipenses.
Estamos destinados por Deus a ser como os anjos, e devemos procurar viver como eles (santificados, purificados) enquanto vivemos neste mundo, mas por maiores que sejam os nossos progressos neste sentido, muito do que se vê em nós são desejos, aspirações, exercícios e busca de uma maior santificação, sem que jamais venhamos alcançá-la em sua plenitude, sem ter em nós qualquer pecado em forma de pensamento, ação, reação, palavras ou omissão.
Na verdade, o próprio Deus para fins proveitosos e edificantes permite que sejamos enfraquecidos, e falhemos em ocasiões apropriadas e oportunas por Ele determinadas para que aprendamos que não habita de fato qualquer bem em nós, que provenha de nós mesmos, de nossa capacidade e poder, de modo que entendamos que sem Cristo nada podemos fazer.
Somos assim trazidos na humildade que nos convém ter. Aprendemos a ficar calados e a não nos precipitarmos em exibir nossos dons, ainda que tenham sido recebidos de um modo especial da parte do Senhor.
É muito conveniente que haja no verdadeiro santo, o pensamento de que ele é o principal dos pecadores, assim como havia em Paulo.
Mas, como seríamos convencidos disso de fato e em verdade, caso não falhássemos apesar de todo empenho da nossa vontade para não falhar e nos apresentarmos santos e inculpáveis perante o Senhor?
De modo que o apóstolo Tiago afirma, que devemos ter por motivo de toda a alegria o cairmos em várias tentações, e não há aqui qualquer contradição com o ensino de Jesus, que nos ordena a orar para que não sejamos conduzidos a tentações e a sermos livrados do mal, em sua oração dominical.
Um coisa é cair em tentações pecaminosas por falta de vigilância espiritual, falta de zelo para com o Senhor, ou falta de cuidado com a santificação da vida, e outra muito diferente é fracassar quando vigiávamos, lutávamos, orávamos, buscávamos ao Senhor e Sua vontade de todo o nosso coração, em obediência à Sua Palavra, e ainda assim, Ele permitiu que fracassássemos, como ocorreu no caso de Pedro que negou a Jesus, tendo até mesmo o Senhor predito que o faria, uma vez que mesmo tendo intercedido por ele, Pedro caiu, mas não para uma queda final, em razão da intercessão de Jesus por ele; e cremos que aquela provação foi o principal fator contribuinte para curá-lo de sua autoconfiança e autojustiça.
O Pedro que pensava não ser necessário que Jesus lhe lavasse os pés, agora estava voluntariamente não apenas deixando que os lavasse, mas sabendo conscientemente o quanto era dependente daquela purificação que somente o Senhor pode realizar, para que continuasse sendo aceitável a Deus.
O sangue de Jesus nos justificou do pecado, mas dependemos do lavar renovador diário do Espírito Santo, uma vez que fomos submetidos ao seu lavar regenerador na conversão.
Como temos ainda um velho homem habitando em nós, que muitas vezes se levanta numa ousadia não santa, que é na verdade um espirito de independência, orgulhoso, obstinado, desobediente, presunçoso; ele somente pode ser quebrado pelas humilhações que nos são impostas pelas provações que Deus reserva para nós. Tiago as chama de tentações, porque na verdade configuram uma parte das diversas provações que nos são administradas pelo Senhor em Sua infinita sabedoria, para que aprendamos a ser mansos, quietos, humildes e desconfiados de nossas próprias habilidades, especialmente no que se refere às coisas que são espirituais, celestiais e divinas.
Pensamos ter o que não temos.
Pensamos ser o que não somos.
E quando pensávamos estar atingindo os arcanos da santidade celestial, como sendo arrebatados ao terceiro céu, e julgando incorretamente, que enquanto no corpo seria possível manter permanentemente um grau elevadíssimo de santificação, veio o espinho na carne, um mensageiro de Satanás para nos esbofetear, para o nosso próprio bem, de maneira a não ficarmos ensoberbecidos com a obra de santificação que o Espírito Santo tem produzido em nossas vidas.
Isto pode vir na forma de pensamentos de derrota, de pensamentos vexatórios, de reações não cristãs, e então conhecemos, pela graça de Deus, que não somos ainda os anjos que seremos no céu, e desta forma podemos ser mais úteis em Suas mãos para interceder pelos pecadores e lhes pregar e ensinar o evangelho de Cristo com humildade e mansidão.
Convém que se diga que tanto nos pensamentos ou nos sonhos involuntários que temos e que sejam pecaminosos, estes não os tornam no entanto, no caso dos crentes, em nenhuma condição culpados diante de Deus, porque de tudo isso foram absolvidos por meio do sacrifício de Jesus.
Os pensamentos voluntários pecaminosos podem seguramente impedir a comunhão com Deus; o que não é o caso dos pensamentos involuntários e sonhos pecaminosos.
Não cremos que seja dado ao diabo livre acesso ao nosso subconsciente enquanto dormimos, gerando sonhos e pesadelos que ofendam a justiça e a santidade de Deus. Mas, não é desconhecido que os demônios podem insuflar pensamentos pecaminosos quando não os desejamos, e em estado consciente; e neste caso não são postos em nossa conta de modo que cheguem a atrapalhar a comunhão com Deus.
Esta guerra é complexa e a maioria dos crentes não têm sequer conhecimento das muitas estratégias envolvidas na batalha espiritual que ocorre em seu próprio espírito, alma e corpo, os quais a propósito, devem ser inteiramente santificados.
Assim, muitos se sentem condenados e culpados por sentimentos e pensamentos a que não deram origem, senão por sugestão maligna do Inimigo de suas almas, importando que continuassem, uma vez repreendidos tais sentimentos e pensamentos, em sua comunhão com o Senhor na realização dos deveres que lhes são ordenados, na prática do bem.
Nisto se aprende também a não confiar em si mesmo, mas na graça de Jesus e Sua obra de justificação pelo sangue derramado na cruz.
Quanto a pensamentos voluntários pecaminosos, estes devem ser confessados e se insistir em oração até que se seja libertado deles, não importando quantas vezes sejam necessárias para se orar por libertação. Isto também se aplica aos pensamentos pecaminosos involuntários, que não sejam de origem satânica, mas em muitos casos, decorrentes de práticas pecaminosas passadas que vez por outra surgem na mente e há grande dificuldade de serem evitadas, pois como dissemos, eles surgem sem terem sido invocados ou desejados de forma consciente.
Deus, em Sua grande misericórdia e amor, possui um controle total sobre os pensamentos, sonhos e reações do subconsciente que nos aterrorizam, e sobre os quais não temos qualquer controle próprio para evitá-los. Devemos confiar inteiramente nEle e na Sua graça, para que no tempo oportuno recebamos alívio e descanso destas provações, que como quaisquer outras sempre chegam a um fim, ainda que seja por um determinado período, pois está na soberania do Senhor se necessitaremos ou não ser ainda submetidos no futuro a novas provações do mesmo caráter.
Em todo o caso, se permanecermos fiéis ao Senhor e à Sua vontade de modo consciente, tudo estará agindo para o nosso próprio bem, e todas as provações vencidas por meio da fé em Jesus somente contribuirão para aperfeiçoar a nossa fé, e nos amadurecer espiritualmente fazendo com que aprendamos a perseverança, a experiência e a esperança.
Em todas estas tribulações da alma ou do espírito temos motivo de nos gloriarmos nelas e no Senhor, porque estas cruzes estão nos ensinando a conhecer a excessiva malignidade do pecado, a valorizarmos a santidade do Senhor e a ansiarmos por ela.
Queremos ser revestidos do que é imortal, a ponto de desejar deixar o nosso tabernáculo terreno, para que sejamos inteiramente absorvidos pela vida que está escondida em Cristo Jesus.
Enquanto no corpo gememos, mas vem a hora em que já não haverá mais lágrima, gemido e clamor, porque assim como Ele também seremos, a saber, inteiramente santos.
Apesar da plenitude da perfeição da santificação ser alcançada somente no porvir, entretanto, é imperioso que se busque a perfeição (maturidade) da santificação do homem total, pois quando a Bíblia se refere ao homem total (espírito, alma e corpo), aí também está incluído o subconsciente, que também deve ser santificado progressivamente pelo poder do Espírito Santo de Deus, à medida que crescemos e somos fortalecidos no homem interior, mediante a prática da Palavra de Deus, cujos preceitos vão sendo implantados mais e mais em nosso ser à medida da nossa consagração.
“E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.” (1 Tessalonicenses 5.23)
Isto tem a ver com bebermos mais e mais da plenitude que está em nosso Senhor Jesus Cristo.
Todos os que são chamados para serem filhos de Deus são criados em Cristo Jesus, para serem tomados de toda a plenitude de Deus.
É no próprio Cristo que o Pai fez habitar toda esta plenitude com a qual convém que sejamos revestidos; a plenitude da Sua própria pessoa divina e Suas virtudes espirituais.
Os filhos de Deus são, portanto vocacionados para atingirem a referida plenitude, plenitude esta que conforme está amplamente citado na Escrituras, é a plenitude do próprio Cristo que é comunicada a eles pela fé e progresso em santificação.
“Pois todos nós recebemos da sua plenitude, e graça sobre graça.” (João 1.16)
“17 Ele é antes de todas as coisas, e nele subsistem todas as coisas;
18 também ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio, o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência,
19 porque aprouve a Deus que nele habitasse toda a plenitude,” (Col 1.17-19)
“8 Tendo cuidado para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo;
9 porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade,
10 e tendes a vossa plenitude nele, que é a cabeça de todo principado e potestade,” (Colossenses 2.8-10)
Tendo visto que há uma plenitude que todos os crentes devem alcançar, há então um modo de ela ser alcançada, e isto é também ensinado a nós na Palavra de Deus.
“14 Por esta razão dobro os meus joelhos perante o Pai,
15 do qual toda família nos céus e na terra toma o nome,
16 para que, segundo as riquezas da sua glória, vos conceda que sejais robustecidos com poder pelo seu Espírito no homem interior;
17 que Cristo habite pela fé nos vossos corações, a fim de que, estando arraigados e fundados em amor,
18 possais compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade,
19 e conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que sejais cheios até a inteira plenitude de Deus.” (Efésios 3.14-19)
Há uma plenitude a ser buscada e atingida, e no texto retrocitado podemos verificar que há necessidade de oração pedindo-a a Deus, o que deve ser lembrado e não ser feito de forma genérica como, por exemplo, com as seguintes palavras “Oh Deus dá-me a tua plenitude”, pois é importante que saibamos o que não somente significa esta plenitude, como também o que importa fazermos para alcançá-la.
Veremos adiante que para este propósito, os apóstolos nos foram dados por Deus (que mortos ainda nos falam através de seus escritos na Bíblia), bem como profetas, pastores, mestres, e evangelistas, para nos ensinarem o modo de fazer Sua santa vontade, de maneira que o apóstolo fala de uma “plenitude do entendimento” para o pleno conhecimento de Cristo. (Col 2.2), pois é nEle mesmo que se encontram escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência que importa sejam comunicados a nós.
Daí, que a forma de ser buscada a plenitude de Cristo em oração seria melhor expressada, como por exemplo, com as seguintes palavras: “Oh Deus, dá-me a plenitude de Cristo, mostrando-me em que devo mudar, em que devo permitir o trabalho do Espírito Santo, para que haja em mim a plenitude das virtudes de Cristo, tendo mortificadas todas as áreas que em minha vida são ocupadas por hábitos nocivos ou pecaminosos. Renova e purifica a minha mente para que pense somente no que for puro e louvável. Não permita Senhor, que eu me acomode a algum progresso já obtido em santificação, pois sei que sempre haverá a necessidade de um maior avanço de purificação em áreas do meu ser que estão ocultas ao meu entendimento, e também que há a necessidade de uma manutenção do que foi alcançado por uma constante renovação da operação da Sua graça em meu viver.”
“1 Pois quero que saibais quão grande luta tenho por vós, e pelos que estão em Laodiceia, e por quantos não viram a minha pessoa;
2 para que os seus corações sejam animados, estando unidos em amor, e enriquecidos da plenitude do entendimento para o pleno conhecimento do mistério de Deus - Cristo,
3 no qual estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência.” (Colossenses 2.1-3)
Este conhecimento de Cristo não é nocional, por se ouvir falar de, mas experimental, por ser experimentado e incorporado à nossa própria experiência de vida.
“Tu me farás conhecer a vereda da vida; na tua presença há plenitude de alegria; à tua mão direita há delícias perpetuamente.” (Salmo 16.11)
A plenitude de alegria espiritual e deleite no Senhor, a que se refere o salmista são operados por Deus, mas devemos orar para tal propósito, como também buscarmos a nossa transformação pessoal e cooperarmos com o trabalho de Deus através de uma mente e vontade renovadas, que queiram e suportem o trabalho do fogo do ourives que arrancará as nossas escórias e nos tornará o metal precioso e puro que é habilitado para receber as joias de Cristo.
O apóstolo Paulo, com tantos outros servos de Deus alcançaram a referida plenitude e tiveram assim,S autoridade para a recomendarem a outros, conforme é da vontade de Deus.
“E bem sei que, quando for visitar-vos, chegarei na plenitude da bênção de Cristo” (Rom 15.29)
Mas, ninguém se iluda pensando que esta plenitude pode ser alcançada sem muitas batalhas espirituais, especialmente contra a nossa própria natureza decaída, pois há diversas áreas em nosso ser nas quais não permitimos que o Espírito de Deus faça o Seu trabalho de renovação e purificação. Nosso apego obstinado a hábitos ruinosos, mau temperamento, e mesmo a pecados é um grande fator impeditivo de sermos tomados de toda a plenitude de Cristo, tendo todas as áreas de nossas vidas tomadas por ela, incluindo-se aí, até mesmo os nossos pensamentos.
Somos dirigidos pelo Espírito Santo à medida que lhe entregamos a direção de todas as partes de nossas vidas.
Convicções arraigadas do que seja certo ou errado que não correspondam à verdade conforme se encontra em Cristo são também, um grande fator impeditivo para o trabalho de transformação e renovação do Espírito para nos conduzir à plenitude de Deus.
Devemos estar sempre conscientizados que fomos criados por Deus para que Cristo habitasse e fosse Senhor de cada parte de nossos sentimentos, emoções, vontade, pensamentos e ações.
Devemos dar-Lhe boa acolhida para que Ele entre em todos os cômodos de nossa casa espiritual, e ali possa habitar e comandar segundo o Seu bem querer. E, se algum cômodo estiver sujo, que peçamos ao Espírito Santo que passe ali a vassoura celestial para que Cristo possa ter uma recepção digna de Sua Pessoa santíssima.
Um bom modo de permitir este trabalho espiritual é se sujeitando ao ensino daqueles que Deus levantou para tal propósito, pois nunca estamos impedidos de receber essa instrução, porque ainda que não houvesse em nossos dias, pessoas qualificadas e santificadas na Igreja para nos ensinarem, temos o testemunho de muitos servos de Deus do passado, que embora já tenham morrido, nos falam através dos seus escritos.
“11 E ele deu uns como apóstolos, e outros como profetas, e outros como evangelistas, e outros como pastores e mestres,
12 tendo em vista o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo;
13 até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, ao estado de homem feito, à medida da estatura da plenitude de Cristo;
14 para que não mais sejamos meninos, inconstantes, levados ao redor por todo vento de doutrina, pela fraudulência dos homens, pela astúcia tendente à maquinação do erro;
15 antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo,
16 do qual o corpo inteiro bem ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, efetua o seu crescimento para edificação de si mesmo em amor.” (Efésios 4.11-16)
Vemos assim que a plenitude de Cristo é evidenciada pelo nosso crescimento no amor, o qual cresce na mesma medida em que crescemos na verdade, que é a Palavra de Deus.
Há uma altura, uma profundidade, um comprimento e uma largura na plenitude de Cristo, que sendo infinitos demandam um crescimento constante na fé, no amor, na bondade, na longanimidade, na mansidão, na força, na coragem, na paz, na alegria, no domínio próprio, e onde houver a plenitude destas graças não haverá espaço para o ódio, a maldade, a impiedade, a ira, a fraqueza, a covardia, a ansiedade, a autocomiseração, a intemperança, a ingratidão e tudo aquilo que é contrário à Pessoa e vontade de Cristo.
Deus quer habitar em todas as partes do nosso ser, e para isto fez a provisão necessária em Cristo, em quem podemos achar tudo o que precisamos, porque Ele possui toda a plenitude para encher todos os nossos espaços vazios ou ocupados por coisas que devem ser eliminadas para que Cristo possa ali reinar pela graça.
Estes espaços vazios em nosso ser se encontram também em nosso subconsciente, pois até mesmo ele necessita ser aperfeiçoado pela graça de Deus; e de igual modo demanda também a obra sobrenatural da purificação, pela remoção de padrões e hábitos mentais pecaminosos que atuam no subconsciente, de modo a serem substituídos pelos relativos às virtudes de Jesus Cristo.
Este é um trabalho para o tempo, e desta forma exige disciplina, paciência e perseverança em meio à terrível luta espiritual que é travada em nosso interior, pela qual poderíamos ficar frustrados ou desanimados por eventuais ou constantes fracassos. Mas, à medida que alcançamos uma melhor consciência fundamentada na fé, na Pessoa e obra de nosso Senhor Jesus Cristo, aprendemos a olhar somente para Ele, a fim de prosseguirmos no combate espiritual até a vitória, sem olhar para nós mesmos, e não permitindo que uma má consciência ou o diabo nos acusem, pois firmados na fé sabemos que ninguém pode mais intentar acusação contra nós, e já não somos mais condenados por Deus, porque fomos justificados e reconciliados com Ele por meio de nosso Senhor Jesus Cristo.
Enquanto estivermos buscando fazer a vontade de Deus encontraremos em nós, apesar de todos os possíveis fracassos, que somos agradáveis a Ele, porque ainda que sujeitos à ação da carne, o nosso prazer está inteiramente na Sua lei; detestamos o pecado, sofremos por causa dEle, e tudo em nós, é como foi a própria experiência do apóstolo Paulo, que apesar de fazer por vezes o mal que não queria, havia permanentemente nele o desejo de fazer o bem, que é segundo a vontade de Deus.
Assim também somos nós. Não queremos o mal, senão o bem. Queremos o mover do Espírito Santo e não o do pecado. Então, se o pecado que guerreia em nossos membros consegue obter vantagens em algumas batalhas ocasionais, todavia a vitória na guerra é nossa por meio dAquele que nos amou e se entregou por nós, de modo que não somos apenas vencedores, porém mais do que vencedores por meio de Cristo Jesus.
Essas provações que parecem ser contra nós, na verdade estão contribuindo para o nosso aperfeiçoamento, de modo a estarmos mais vinculados ao Senhor e a confiar inteiramente nEle, pois veremos e experimentaremos a eficácia da Sua plenitude e graça operando, e nos conduzindo em triunfo, ao constatarmos que de glória em glória, de fé em fé, e de graça sobre graça somos transformados progressivamente à Sua própria semelhança.
Evidentemente, este trabalho de aperfeiçoamento da santificação não poderia deixar de fora o nosso subconsciente, porque faz parte de nós, por assim dizer, é parte do que somos, e é por isso que vemos Davi orando para que Deus sondasse seu coração para que fosse conduzido por Ele, nas veredas da justiça e do caminho eterno.
A razão disso é que não conhecemos muitas coisas a respeito de nós mesmos, de como o velho homem do qual devemos nos despojar, se encontra arraigado em nosso homem interior, e em muitos aspectos ainda ditando muito do nosso comportamento em atitudes e reações, que até então nos eram desconhecidas a nível consciente.
As nossas decadências nas graças se processam de modo imperceptível ao nosso entendimento, nem tanto por nos recusarmos a conhecer o que somos de fato, mas por estar realmente vedado ao nosso conhecimento. Por assim dizer, somos o que não sabemos que somos.
Então há necessidade deste trabalho das provações, das humilhações, dos sonhos pecaminosos, para que sejamos alertados quanto à posição em que nossa mente mais interior se encontra de fato; se na santidade de Cristo, ou naquilo que é carnal e mundano.
Qual é o remédio para isto, senão uma maior consagração ao Senhor e um maior uso dos meios da graça que Ele estabeleceu para que sejamos espiritualmente saudáveis?. Provavelmente haverá em paralelo, hábitos que até mesmo considerávamos inocentes e terão que ser abandonados, por se constituírem em pesos ou pecados que são fatores impeditivos para uma maior santificação.
Em todas estas decadências e fraquezas somos chamados pelo Senhor para despertarmos do sono em que nos encontramos e a nos dedicarmos mais às coisas que são realmente espirituais, celestiais e divinas.
Quanto a estas decadência e o modo de nos recuperarmos delas, estamos apresentando a seguir um artigo escrito por Octavius Winslow, que tivemos a honra de traduzir e adaptar, intitulado A Recaída e Recuperação da Nova Natureza:
"Desvia de mim o teu olhar, para que eu tome alento, antes que me vá e não exista mais." (Salmo 39:13)
Nosso bendito Senhor, nessas palavras notáveis dirigidas a Seu errado apóstolo: "Quando vos converteres, fortalece a teus irmãos", desdobrou um dos mais autênticos e tristes, senão o mais difícil capítulo da história do crente. Pedro, a quem a exortação foi dirigida, já era um homem convertido e gracioso. Ele havia caído profundamente, mas não havia caído do princípio e posse da graça. Isso, ele nunca poderia perder total e definitivamente. E, no entanto o Senhor fala de sua conversão: "Quando você se CONVERTER". O estado real do discípulo explicará imediatamente o significado das palavras do Senhor.
Pedro tinha se afastado. Ele tinha caído; não do princípio e da posse, mas da profissão e do poder da graça. Ao negar seu Senhor e Mestre, ele tinha pecado e recaído terrivelmente; as mechas de sua força espiritual foram rasgadas, e ele estava impotente nas mãos de seu inimigo.
Jesus veio em seu socorro, inclinando sobre ele um olhar de amor que perdoava, em um momento dissolveu seu coração em penitência, dirigindo-lhe essas palavras memoráveis : "Quando você se converter, fortaleça seus irmãos".
Em outras palavras; "Quando você for restaurado de seu desvio, recuperado de seu erro, resgatado de sua queda como uma evidência, e fruto e reconhecimento de sua recuperação, fortaleça seus irmãos; seus irmãos que por fraqueza de fé, pequenez da graça e de muitas enfermidades são passíveis de cair pela força de uma mesma tentação." Devemos compreender então, pela reconversão do crente, a sua restauração daqueles lapsos espirituais, aos quais, mais ou menos, todo o povo do Senhor está sujeito, àquele saudável e robusto estado de graça do qual sua alma havia declinado .
A experiência do salmista, que sugere o assunto do presente capítulo harmoniza em suas características essenciais, com a de todo o povo de Deus.
Davi estava agora, a partir de um leito de enfermidade, fazendo um exame solene e próximo da eternidade. Antecipando sua partida, ele despertou para a tarefa de autoexaminar-se. O resultado desse escrutínio foi a surpreendente descoberta da declinação de sua alma; a perda da vitalidade espiritual e da força. Daí sua oração; "Desvia de mim o teu olhar, para que eu tome alento, antes que me vá e não exista mais."
Quanto há nesse lapso espiritual de graça, ao qual a condição de muitos crentes corresponde!
Nada é tão suscetível à flutuação, nada mais sensível à mudança, como a natureza renovada do crente. A convicção da perda espiritual, a que este gigante em graça foi despertado em vista de sua partida descreve o estado em que muitos imperceptivelmente declinam, desconfiam de sua existência, e não estão conscientes de sua perda, até que a carga solene seja ouvida: "Põe a tua casa em ordem, porque morrerás e não viverás.”
Consideremos brevemente alguns dos lapsos espirituais aos quais a nova natureza da alma está exposta, e os meios de recuperação.
É um estado melancólico assim retratado, testemunhar um homem de Deus caído, um crente desmaiado, um concorrente robusto para o grande prêmio reconhecendo-se assim na decadência da espiritualidade, quando estava prestes a terminar sua carreira e alcançar o alvo.
A nova criatura é uma natureza divina, mas não deificada; é de Deus, mas não é Deus. Ela habita num corpo de pecado e morte, e é exposta a todas as influências hostis que brotam da natureza caída e corrupta no meio da qual habita. Assim como o barômetro é desce ou se eleva por influências atmosféricas, ou como a bússola é perturbada pela proximidade de objetos que naturalmente afetam sua regularidade, assim o novo homem está constantemente exposto à deterioração das influências opostas e prejudiciais que brotam de nossos corpos caídos e corruptos por natureza. As depressões da nova natureza surgem, não de qualquer defeito essencial nessa natureza, porque é incorruptível, mas do pecado que habita em nós. Assim, é que o crente perde força.
“Que eu possa recuperar forças”. O mais forte pode tornar-se fraco, sim, fraco como o mais fraco, quando ao pecado é permitido por um momento ter a ascendência. Mas, quando consciente da debilidade de nossa própria força nativa, da falibilidade de nossa própria sabedoria, do vazio, da pobreza e do nada de nossa alma; quando conhecidos e assim desmamados de nós, então somos fortes no Senhor e no poder de Sua força; fortes e poderosos em Jeová. Este foi o testemunho de Paulo: "Quando sou fraco, então sou forte."
Mas vamos considerar; em que esta perda de força espiritual é mais visível?
Onde é que o filho de Deus é mais sensível, especialmente quando tem uma visão próxima da morte, da eternidade, e da fraqueza da alma?
Com respeito ao princípio e à ação da FÉ, esta deterioração do vigor pode ser visível. Como a fé é a "graça pai" de todas as graças cristãs, a raiz de todos os frutos do Espírito, a base de todas as ações sagradas da alma, será imediatamente percebido que qualquer decadência, enfraquecimento ou dormência desta preciosa graça deve paralisar, em certa medida todo o cristianismo da alma.
Quando a fé cai, todas as fontes da alma estão abatidas; quando a fé sobe, a alma sobe como com asas de águia. Pedro pisou as ondas que quebravam virilmente, enquanto o olho de sua fé repousava sobre Jesus, seu Autor e Objeto. Mas, quando os ventos aumentavam em força, e o mar se tornava mais furioso, ele desviava seu olhar de Jesus para a tormenta, e sua fé falhando, começou a afundar - "Senhor, salva-me ou eu perecerei!"
E quão enfraquecedor é para a fé tirarmos nosso olhar de Jesus e o voltarmos para nossos pecados e fraquezas; para nossas provações, dificuldades e perigos!
No momento em que a "fé" forma uma aliança com o "sentido", ela cai. Um corpo sadio acorrentado a um corpo doente seria, em pouco tempo, enfermado. Um corpo vivo preso a um corpo morto logo morreria.
Agora, a fé em si mesma é um princípio divino, saudável e vigoroso.
Deixado aos seus próprios atos, descansando simplesmente na Palavra de Deus, olhando apenas para o Senhor Jesus, e lidando principalmente com o invisível, ele alcançará maravilhas. Vai vencer o mundo; desviará os estratagemas de Satanás; vai amortecer o poder do pecado; pisará firmemente as águas quebradas da provação, bem como fará e sofrerá toda a vontade de Deus.
Que grandes coisas este princípio divino operou nos homens dignos do passado! "Pela fé estas pessoas derrubaram reinos, governaram com justiça e receberam o que Deus lhes havia prometido; fecharam a boca dos leões, extinguiram as chamas do fogo e escaparam à morte pelo fio da espada.
As mulheres receberam pela ressurreição os seus mortos; uns foram torturados, não aceitando o seu livramento, para alcançarem uma melhor ressurreição."
Com tal imagem diante de nós, como é triste o pensamento que nossa fé deve sempre sofrer a fraqueza ou a deterioração! E, no entanto o crente pode descobrir o declínio da força da fé em sua alma, apenas na hora em que ele precisa mais do que nunca de toda a força e poder desta graça maravilhosa!
Minha alma, a tua fé é fraca, e o teu coração treme?
Você está olhando as ondas quebrando abaixo de você, e as nuvens escuras acima?
Agora é a quarta vigília da noite, e Jesus não vem a você?
Os recursos estão se estreitando, precisam ser pressionados, as dificuldades se acumulam e seu coração está morrendo dentro de você? Não tenha medo! Aquele que percorreu as ondas límpidas com Pedro, gentilmente lhe disse: "Ó homem de pouca fé, por que duvidaste?"
Então estendeu Sua mão e o pegou, Ele está ao seu lado e não permitirá que você afunde e pereça debaixo destas águas. Espera em Deus, porque ainda louvarás Aquele que é a saúde do teu rosto, e o teu Deus.
Também pode haver perda de força no AMOR da natureza renovada.
O amor a Deus do coração mudado é um sentimento tão puro, sobrenatural e divino; um sentimento tão espiritualmente sensível, que logo é afetado por qualquer mudança na atmosfera moral pela qual está cercado. Com que rapidez e facilidade pode ser ferido, esfriado e prejudicado! Os cuidados sempre prementes desta vida, a ascendência indevida da criatura, o cativeiro dos objetos sensuais, e o poder insidioso do mundo afetarão seriamente a pureza, simplicidade e intensidade de nosso amor ao Senhor.
“Você me ama mais do que estes?”
É uma pergunta que precisamos que o Senhor nos faça em cada ocasião. Quão condescendente é Sua graça, para ser colocada em competição com os objetos do sentido! Mais do que estas reivindicações da criatura, mais do que estas honras e riquezas mundanas, mais do que estas comodidades domésticas, mais do que pai ou filho, irmão, irmã, amigo ou país. “Você me ama individualmente, supremamente, acima de tudo, e mesmo entre dez mil pretendentes para o seu coração?"
Oh, abençoados aqueles que da profundidade de sua sinceridade podem responder: "Senhor, Tu sabes todas as coisas, Tu sabes que te amo!"
No entanto, quando a vida se aproxima do fim, quando objetos humanos de amor e de interesse da criatura estão perdendo seu poder e domínio, e a alma olha além do presente para o futuro solene e misterioso, quantos filhos de Deus encontram razão para exclamar: "Poupem-me, para que eu possa recuperar as forças!"
O amor perdeu seu poder; sua força é prejudicada, seu brilho é sombreado, sua ligação com Cristo é enfraquecida, e a alma começa a duvidar de todo passado, como de toda experiência presente de sua existência. Mas, graças a Deus, o princípio do amor a Cristo nunca pode perecer completamente. É uma parte da nova natureza, nasce na alma quando ela nasce de novo, e só pode perecer com a destruição da alma resgatada, renovada e salva; isso nunca pode ocorrer!
Observe então a diminuição do seu amor, para que quando estiver prestes a voar para um mundo onde tudo é amor, você descubra como o vigor desta graça do Espírito está prejudicado.
Colocando a cabeça no colo de uma criatura, deleitando-se demasiadamente nela, seja ela o mundo, seja um pessoa, ou seja o que for, você desperta para a surpreendente descoberta, quando infelizmente os bloqueios de sua força foram cortados, e com quão pouco desta graça celestial você está prestes a entrar no céu, e encontrar-se com Aquele cujo amor a você nunca vacilou, esfriou ou mudou. "Poupe-me, para que eu possa recuperar a força."
Com que frequência também, ocorreu na experiência do filho de Deus, que na hora em que a ESPERANÇA da glória estava prestes a entrar em sua plena realização, seu sol estava se pondo em meio a nuvens escuras!
"Onde está agora a minha esperança?
Minha esperança no Senhor pereceu!" É a exclamação triste do cristão que está partindo. Oh, triste e melancólica descoberta! Mas é verdade que a esperança cristã, a boa esperança, pela graça acendeu-se no coração renovado pelo "Deus da esperança"; esperança depositada em Cristo e entrelaçada com Sua cruz, esperança que como uma estrela brilhante derramou seus raios de prata sobre muitos mares tempestuosos, a esperança que sustentou a alma em muitas épocas de tristeza e escuridão, desânimo e desespero; esperança que esperava a glória vindoura e viver para sempre com o Senhor - será possível que aquela esperança, por mais fraca que seja sua força, ou diminuto o seu brilho, ou obscurecida sua visão, perecerá?
Nunca! Não, nunca!
Há esperança em seu fim, ó crente em Jesus; por mais fraca que seja a esperança, não o envergonhará, e quando todas as outras esperanças por mais afeiçoadas e brilhantes que sejam definham e expiram, o Espírito de Deus acenderá essa fraca faísca, e novamente sua chama arderá brilhantemente e derramará sua radiação sobre o caminho ascendente do espírito que parte. E, naquela hora solene, quando o coração e a carne estão falhando, você pode achar necessário fazer a oração de Davi, "Poupem-me, para que eu possa recuperar a força".
Estude para manter viva sua esperança; sua lâmpada alimentada diariamente e brilhantemente queimando. "Ora o Deus de esperança vos encha de todo o gozo e paz em crença, para que abundeis em esperança pela virtude do Espírito Santo."
E assim, também no que diz respeito às EVIDÊNCIAS, estas podem tornar-se escuras quando somente as mais fortes evidências iriam satisfazer as necessidades do caso solene. Evidências de conversão e de segurança, que em meio à prosperidade da saúde e do auge da vida, da excitação da atividade religiosa e da influência do cerimonial religioso pacificaram a consciência e tranquilizaram os sentimentos são insuficientes, quando a alma está prestes a aparecer diante de Deus.
Procurando por evidências de salvação, muitos filhos de Deus descobriram pela primeira vez, sua perda de força espiritual. Uma a uma falhou, e ele é obrigado a fechar seu curso cristão como ele começou, ao olhar como um pobre, vazio, perdido pecador para o Senhor Jesus, apegando-se a essa grande e preciosa promessa do Salvador, como a última e única tábua que poderia sustentá-lo; "Aquele que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora".
Ele agora aprendeu o que os livros e os sermões não lhe ensinaram antes, que a grande evidência de nossa salvação é uma fé direta e simples no Senhor Jesus Cristo, que não é em olhar para nós mesmos, ou em procurar dentro de nós por evidências que podemos dizer com humilde segurança: "Eu sei em quem tenho crido"; mas em olhar para fora de nós mesmos, para o Senhor Jesus Cristo, o Salvador dos pecadores, mesmo do principal deles.
Tal tem sido a experiência de alguns dos santos mais santificados, cuja piedade e trabalhos têm adornado a Igreja ou abençoado o mundo. Procurando naquele momento solene as evidências de salvação, quantos crentes retomaram a linguagem do salmista: "Poupe-me, para que eu possa recuperar a força".
A VIDA ESPIRITUAL da alma renovada está igualmente exposta a essa perda de vitalidade e vigor. Um espírito de sonolência há muito existente e profundo pode envolver o crente, do qual ele quase não está consciente.
Ele sabe que tem vida em sua alma, mas não tem consciência de quão deprimida está sua vitalidade, quão baixas são suas fontes. Muita coisa passou pela vida que não era uma evidência real de sua existência. Os despertares periódicos, a ação espasmódica, a atividade religiosa e a excitação forneceram para o tempo, a ausência daquele santo retiro, meditação devota, autoexame, oração secreta, proximidade, vigilância e santidade na caminhada que formavam as únicas e seguras autênticas evidências da vida de Deus na alma.
Mas agora, que o espírito está prestes a entrar no mundo eterno, a descoberta solene é feita; "Quão baixas são as fontes da vida em minha alma! Quão fraco, quase imperceptível é o seu pulso! Oh que eu possa recuperar as forças".
Mas não precisamos multiplicar esses variados lapsos de graça na alma do crente. Quando existe o elemento de declínio espiritual e decadência em qualquer parte da natureza renovada, o todo é afetado mais ou menos simultaneamente. O declínio de uma graça dará a cada uma das demais a fraqueza e a languidez. Nossa verdadeira sabedoria é observar o primeiro início da declinação e, no momento em que é descoberta, buscar o remédio e aplicá-lo.
Uma das ideias mais solenes e afetuosas do nosso assunto é que esta decadência de que falamos é sempre secreta, despercebida e insuspeitada. Na linguagem gráfica do profeta, "os cabelos grisalhos estão aqui e ali sobre ele, mas ele não sabe" (Os 7: 9).
A velhice rouba e nós somos insensíveis à sua invasão. O cabelo é prateado, o olho perde seu brilho, os membros sua elasticidade, a memória seu vigor, e ainda não tomamos nenhum pensamento a tempo. Na verdade, nos esforçamos para banir de nossa mente a convicção de que a "velhice" está realmente avançando. Assim é com a decadência da graça. Ela continua devagar, imperceptivelmente e insuspeita, mas com certeza. A força espiritual torna-se enfraquecida, o olho da fé obscurecido, o objeto divino e precioso torna-se distante, a mão da fé sobre Jesus enfraquece, a ação espiritual do coração torna-se lânguida, a alma perde seu entusiasmo e prazer pelas coisas divinas; pela comunhão com Deus e com os santos, pelos meios públicos da graça e por um ministério espiritual prático, exaltando a Cristo. "Cabelos grisalhos estão aqui e ali sobre ele, mas ele não sabe."
Nem deseja conhecê-lo. É uma evidência inconfundível desse estado de decadência da graça; a relutância do coração em conhecer seu estado real diante de Deus. Assim como alguns indivíduos apagariam cada nova marca de anos de crescimento e se encolheriam de cada triste lembrança ao aproximar-se da senilidade, como se a ignorância do fato prendesse a marcha do tempo, e cada evidência de seus estragos obliterados recuperaria a primavera, a maré de juventude!
Assim a alma, perdendo sua vitalidade e vigor espiritual ama não ser lembrada de sua perda, declinação e decadência espirituais, mas se contenta em viver na sua mornidão, não fazendo nenhum esforço para fortalecer as coisas que permanecem, que estão prontas para morrer até que, como Davi, a oração seja arrancada do lábio trêmulo: "Poupe-me, para que eu possa recuperar a força, antes de ir e não ser mais".
Infelizmente! Que o filho de Deus deve perder sua força de alma, não só para arrumar desculpas para sua sonolência, mas até mesmo para exclamar: "Um pouco mais de sono, e um pouco mais de sono". Tal foi o caso da Igreja em Cantares; "Eu durmo, mas meu coração acorda." Que contentamento estava ali com seu estado de sono! E então, na abordagem de Cristo: "Abre-me, minha irmã, meu amor, minha pomba, minha imaculada, porque a minha cabeça está cheia de orvalho, os meus cabelos com as gotas da noite", ela responde, “Já despi a minha roupa; como a tornarei a vestir? Já lavei os meus pés, como os tornarei a sujar?” (Cant 5. 2, 3)
Ela não estava apenas em um estado de sonolência, era um estado de coração separado de seu Senhor, mas estava satisfeita em ser assim, e formulou desculpas para se justificar de sua continuação naquele estado. Distintamente reconheceu a voz de seu Amado. Bem, ela sabia que era Ele quem tão gentilmente batia à sua porta, enquanto, com uma irresistível ternura, as palavras de derretimento do coração caíam sobre seu ouvido ainda atônito, "Minha cabeça está cheia de orvalho e meus cabelos com a gotas da noite"; e ainda assim ela amava o leito de preguiça muito bem, para se levantar e receber seu Amado.
Oh, que pecado era isso! Foi pecado sobre pecado. Houve primeiro o que levou à sua condição de preguiçosa; então houve o do seu retorno, a saber, o contentamento com seu estado, e então o pecado coroando todos os demais; as desculpas com que ela repeliu o apelo amoroso e terno daquele que a amava, e a quem também ainda amava.
Em tudo isso, não vemos a nós mesmos? Eis que a natureza renovada pode declinar para um baixo estado de graça! Veja como o coração amoroso pode se afastar do Senhor! Veja que desculpas, até um santo de Deus pode moldar por seus pecados!
Mas que paciente Jesus! Contemple um quadro e depois o outro, e marque o contraste! O santo rejeitado; mas ainda amoroso, apegado, cortejando o Salvador! Não há dormência do amor de Cristo para com Seus santos, nem negação deles, nem indiferença às suas circunstâncias. Eles podem esquecer que são Seus filhos, porém Deus nunca se esquece que é seu Pai. Ouça a Sua linguagem tocante e assombrosa; "Voltai, filhos rebeldes, diz o Senhor, porque sou casado convosco." (Jeremias 3:14).
Pode haver além disso, como acabamos de assinalar, as estações de vagueamento ou depressão espiritual na experiência do cristão, quando ele pode perder de vista sua adoção, afundar o caráter de filho naquele de escravo, e de herdeiro para servo, mas Deus nunca esquece que eles ainda são filhos, e Ele ainda é um Pai. Quão terno e irresistível é o convite, "Volta para mim!" E novamente; "Eu disse depois que ela fez todas estas coisas, Volta para mim." Uma vez mais; "Volta, ó rebelde Israel, diz o Senhor, e eu não farei cair sobre ti a minha ira, porque sou misericordioso, diz o Senhor, e não vou guardar a ira para sempre."
Filho de Deus! Consciente da partida, lamentando dolorosamente sua triste declinação, derramando lágrimas de amargo pesar sobre suas rebeliões voluntárias e agravadas, poderás resistir ao gracioso convite do Deus de quem vagueaste?
"Volta para mim, para mim, a quem tens rejeitado, contra cuja graça pecaste, cujo amor desprezaste, cujo espírito afligiste."
“Retorna a mim, quem curará as suas rebeliões, amá-lo-á livremente e não mais se lembrará das tuas transgressões, mas da minha graça, da minha bondade e da minha misericórdia; como poderei afastá-lo, porque a minha compaixão e o meu amor perdoador se acenderão em mim! Mil vezes mais, ainda, volta para mim."
Pode ser apropriado nesta parte, agrupar algumas das CAUSAS que tendem a produzir essa fraqueza espiritual, aquela declinação da alma que tantos cristãos descobrem e deploram, quando à véspera de entrar no mundo eterno. A vida de Deus na alma renovada é tão santa e divinamente sensível, que não há praticamente uma parte da qual não possa ser seriamente afetada.
O MUNDO é um grande ladrão de força espiritual. É impossível não entrar muito nisso, mesmo quando o dever legal nos convoca, e não estamos conscientes de sua influência deteriorante. Quanto mais é este o caso, quando voluntária e desnecessariamente nos expomos a suas armadilhas! Oh, como este mundo corrói como um câncer a espiritualidade de tantos! Não podemos unir o cristianismo e o mundo; andar com Jesus e estar associados com o mundo, os prazeres da religião e os prazeres do mundo, a força da conformidade forte e pecaminosa com o espírito, a roupagem, os prazeres e as gerações do mundo. O mundo ímpio é a grande Dalila da Igreja de Deus. A aliança com ela em qualquer forma seduzirá a vida espiritual, e exporá a liberdade e o poder da Igreja nas mãos dos incircuncisos filisteus, que só zombarão da vítima que têm enredado e se alegrado com a fraqueza e a desfiguração que causaram.
Santo de Deus, você não pode ser forte para trabalhar, habilidoso para lutar, poderoso para testemunhar de Cristo e Sua verdade, se você está se entregando a hábitos mundanos ou recreações inconsistentes com o seu chamado celestial. Não vos maravilheis de que sois fracos na fé, na oração, no combate da fé, e que apressais-vos à hora solene da vossa partida, desprovidos de vossa salvação, e com uma perspectiva tenebrosa e falsa de que esta partida será serena.
Existem outras causas igualmente potentes de decaimento espiritual, que temos apenas espaço para agrupar. As visões superficiais do pecado, as corrupções não mortificadas, as afeições não santificadas, a indulgência dos medos incrédulos e das dúvidas especulativas, a diminuição dos meios da graça, o hábito de meramente racionalizar e não de crer em relação à verdade divina, o ministério inesgotável residindo em uma terra onde não existem fontes evangélicas vivas, agindo como homem e não totalmente como para o Senhor, reservas na obediência infantil, um espírito de leviandade e humor impróprio ao caráter santo, um profano ao lidar com a Palavra de Deus, um espírito faltoso e implacável, uma tendência para olhar mais para as dificuldades do que para os encorajamentos do caminho, mais para as provações do que para as promessas, mais para as evidências do que para a cruz de Jesus, mais para si mesmo do que para Cristo; todos estes, sozinhos ou unidos irão minar a força da alma. E, quando o último inimigo se aproximar, em vez do grito vitorioso dos poderosos, se ouvirá a oração lamentosa dos fracos: "Poupe-me para que eu possa recuperar a força, antes que eu vá, e não seja mais!"
Consciente da recaída espiritual procure instantânea e sinceramente, uma reconversão de sua alma! Deixe sua oração ser; "Restaura-me a alegria da tua salvação". Sem ignorar sua experiência passada, não negando a graça regeneradora e renovadora de Deus em sua alma, porém regresse a Cristo e recomece desde o princípio. Venha como você veio primeiro; um pecador pobre e vazio para o Salvador. Seu primeiro amor perdido, você pode ganhá-lo de volta por um renovado batismo do Espírito Santo, por uma nova tomada de Jesus. E lembre-se de que, um fim de sua reconversão é para fortalecer seus irmãos fracos, advertir os que pecam, elevar aqueles que caíram e reconquistar aqueles que erraram o caminho, andando sempre humildemente com Deus. (Sl 51:12, 13).
Mas, muitas vezes é reservado para a hora solene da morte a descoberta pelo crente, da triste diminuição e perda de força espiritual. É nesta crise terrível que muitos dos santos, pela primeira vez despertam para o conhecimento de sua decadência espiritual. Em seguida, eles descobrem os "cabelos grisalhos" sobre eles em espessura surpreendente.
Na batalha com o último inimigo acham a espada enferrujada em sua bainha, e a "armadura de Deus" se tornou solta e mal ajustada. Então eles oram: "Senhor, ainda um pouco mais me poupe, para que eu possa renovar minhas forças, examinar minha esperança, recuperar minhas evidências e experimentar mais uma vez uma manifestação renovada de Seu amor para a minha alma!"
Esta foi claramente a experiência tanto de Davi, como de Ezequias, e também pode ser a nossa. A oração feita, embora como com a respiração ofegante é ouvida e respondida; e graça divina, força, e esperança são dadas para a hora da morte. Agora, a alma que parte renovando sua força espiritual como a águia, eleva suas asas para o céu. Oh, que maravilhosa mudança testemunhamos naquela hora!
Vimos a vida espiritual que palpitava tão fracamente, a graça divina enfraquecida, o amor santo que batia tão languidamente, a esperança cristã que brilhava tão fracamente, agora emergindo como de um sepultamento longo e escuro, revestidos de toda a flor e vigor de um de recém-nascido pelo Criador. A petição enviada do labirinto da morte foi lavada no sangue, perfumada com os méritos e apresentada pela intercessão do grande Sumo Sacerdote, e aceita por Deus.
A força foi dada, o inimigo foi vencido, e com o grito do vencedor; "Ó morte, onde está o teu aguilhão? Ó sepultura, onde está a tua vitória?" Despertando os ecos do vale solitário da morte, a renovada alma resgatada voou em sua fuga para o céu.
"Quando a morte está próxima,
E seu coração se encolhe de medo
E seus membros falham,
Então levante seu coração e ore
A Cristo, que suaviza o caminho
Através do vale escuro.
A morte vem te libertar;
Oh, conheça-a alegremente,
Como seu melhor amigo;
E todos os teus medos cessarão,
E na paz eterna
Suas tristezas chegam ao fim! "
Até aqui as palavras de Octavius Winslow
Quanto podemos vislumbrar neste texto, a participação ativa do subconsciente na experiência da vida cristã. Quantas coisas que existem em nós e que nos são desconhecidas, e deveriam nos conduzir a confiar mais no poder transformador e preservador do Senhor. Confiar mais na Sua salvação, que é inteiramente pela graça e mediante a fé, até porque há todo este conjunto de limitações que existem em nosso ser, e muitas delas que são relacionadas ao mundo que é insondável para nós, de nosso subconsciente, mas o qual não é de modo algum insondável ou não possível de ser controlado pelo Deus todo poderoso, que nos visitou com uma salvação completa, e está operando em todas as áreas do nosso ser mais interior.
A garantia da nossa santificação, inclusive a do nosso subconsciente, está em que o nosso velho homem foi crucificado com Cristo (Rom 6.6).
Veja que a antiga natureza que herdamos de Adão, a qual é chamada na Bíblia de carne ou velho homem foi crucificada no crente, porque é considerado como participante da crucificação de Cristo. O velho homem recebeu a sentença de morte, e paralelamente o crente recebe uma nova natureza criada por Deus, em justiça e santidade pela habitação do Espírito Santo. Esta não pode morrer, ao contrário, cresce progressivamente rumo à perfeição do próprio Deus.
Daí, ao se referir ao seu velho homem, o apóstolo afirma que está crucificado com Cristo (Gál 2.20).
Deus vê o velho homem no crente, enquanto ele está neste mundo pregado à cruz, e ali o velho homem está morrendo gradativamente pela operação do Espírito Santo, até que venha a ser inteiramente destruído por ocasião da morte do corpo do crente. Mas, mesmo neste mundo, à medida que progride o trabalho da graça, o velho homem vai sendo minado em força, e assim vai sendo paulatinamente enfraquecido, enquanto o novo homem se torna mais fortalecido.
Estas duas naturezas que habitam no crente são designadas por velho e novo homem, porque se referem ao homem total (corpo, alma e espírito) pois atuam sobre todas as partes constitutivas do ser do convertido, cada uma de per si, tentando estabelecer o domínio sobre suas faculdades.
Como há esta presença do velho homem no crente, a fidelidade a Deus deve ser demonstrada em sua aplicação em se despojar da velha natureza, pelo esforço em santificação, pois quanto mais se devotar a Deus, mais Ele enfraquecerá a atuação do velho homem sobre nós.
É neste sentido que nosso Senhor afirma, que são bem-aventurados os que choram, especialmente por causa do pecado em todas as suas formas, aspirando por serem livrados dele.
É por sermos tornados sensíveis aos danos e dores produzidos pelos pecados que em nós operam, que podemos atribuir cada vez mais valor ao sacrifício que Jesus fez por nós, carregando todos os nossos pecados em seu próprio corpo, para trazer sobre eles a sentença de morte e sua execução na cruz.
Não é, portanto algo estranho para o crente, o fato de ter uma vida crucificada para o mundo. Ao contrário, é o cumprimento do próprio propósito divino fazê-lo, pois quando morreu na cruz, aos olhos de Deus, o nosso velho homem estava com Cristo, vendo-o ser ali também crucificado juntamente com Seu Filho amado.
Assim, a crucificação do velho homem e do corpo do pecado depende inteiramente da nossa união com Cristo pela fé.
A Santa Ceia foi designada para selar e fortalecer esta união do crente com Cristo, identificando-se com Ele na Sua morte.
Somos assim, inteiramente dependentes da obra de salvação de Jesus e Suas presentes operações graciosas, para que possamos ser despojados das obras da carne que operam em nossos membros. É pela incrementação da nossa comunhão com Ele, que somos santificados e habilitados a ter vitória sobre as ações do velho homem em todas as áreas do nosso ser; quer na parte consciente ou inconsciente, pois de uma fonte feita boa não pode fluir continuamente alguma coisa má; quer em pensamentos ou ações, voluntários ou involuntários.
E, quando estes se levantam, é para que sejam resistidos por nós sujeitando-nos à graça de Deus. Somos assim exercitados no hábito da mortificação do pecado, com vistas à santificação. Esta é uma das principais razões destes filisteus permanecerem ainda na terra de Canaã, depois que o Senhor decretou a nossa posse dela, a saber, exatamente para o propósito de sermos provados e aperfeiçoados em nossa fé e fidelidade a Ele e à Sua Palavra.
Vemos alguma operação do velho homem em nós, ainda que seja no subconsciente; o que devemos então fazer?
Depor as armas espirituais?
Parar na carreira que nos foi proposta?
Não. É justamente nestas horas que mais devemos colocar a nossa fé no sangue de Jesus e no poder de Deus em operação, crendo e sabendo que aquele que nos purificou de todo o pecado continuará a fazê-lo até que sejamos admitidos à perfeição do céu.
Estes exercícios devem ser continuados em maior ou menor grau, conforme nossa necessidade de crescimento espiritual contemplada por Deus, pois o velho homem, apesar de estar nos crentes em estado de morte, todavia não está absolutamente morto. É crucificado com Cristo. Pode mover-se e agitar-se neles, e empreender lutas veementes, mas independentemente de quaisquer esforços que ele faça, está na cruz, de onde não descerá até que dê seu último suspiro.
É em razão da presença do velho homem que o crente tem uma luta permanente e dolorosa em seu interior, a qual foi designada por Deus, para aprender, sobretudo humilhação, mansidão e dependência dEle. A extensão desta luta é de tal ordem, que se estabelece até mesmo em áreas sobre as quais o crente não possui qualquer controle, como por exemplo o seu próprio subconsciente, de modo que não lhe resta a alternativa, senão de resistir ao mal e sujeitar-se a Deus, porque somente Ele pode operar em nós tanto o querer quanto o realizar.
Quando somos ordenados por Jesus à autonegação, esta inclui tudo o que se encontra no subconsciente, e como poderíamos negar o que não conhecemos, senão por confiar inteiramente ao Senhor o completo acesso às áreas mais ocultas do nosso ser, pois somente Ele pode conhecê-las e dominá-las.
Se esta morte do velho homem é prolongada, pois é uma morte de cruz, isto nos impõe paciência no trabalho do seu despojamento, e completa determinação em perseverarmos a que custo for, pois Deus tem o total controle e administração das nossas provações.
Esta paciência e perseverança também são exigidas, porque ainda que o velho homem possa ser enfraquecido por um correspondente fortalecimento de nossas graças, ele poderá recuperar a força na medida em que nossas graças enfraqueçam, depreendendo-se assim, a necessidade de renovadas batalhas espirituais para ser novamente subjugado.
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