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A balada dos inúteis
(uma sátira contemporânea)
Roberto Queiroz

Os inúteis nunca estiveram tão na moda quanto agora. Mais: eles determinam os passos a serem seguidos por grande parte (a maior parte, na verdade) da sociedade brasileira e mundial. Nelson Rodrigues, dramaturgo maldito, rotulado de pornográfico de forma imatura e injusta, já falava sobre eles. Dizia em suas crônicas que um dia eles iriam dominar o mundo. A sociedade deveria tê-lo ouvindo, mas não. Preferiu deixar o tempo passar.

Aliás, a metáfora da passagem do tempo sempre foi idolatrada em excesso pelos inúteis. E assim, após mais de dois séculos de existência (portanto uma extraordinária passagem de tempo), eles atingiram, ou será melhor dizer vem atingindo?, seus objetivos. Ganharam credibilidade, obtiveram fama, vem sendo chamados constantemente de formadores de opinião, entre outras "glórias".

A tv parece ser a ribalta ideal para eles, mas não se enganem: os inúteis desejam mais. Os inúteis querem dominar o mundo. Quando o cantor Roger, vocalista da banda de rock Ultraje a rigor, cantou nos anos 80 a música Nós vamos invadir sua praia, provavelmente (não; certamente) referia-se a eles ainda em sua gênese. E eles cresceram, alienaram-se ainda mais, tiveram filhos, em alguns casos já têm netos e não se surpreendam se um ou outro tiver bisneto. Acreditem: eles são rápidos!

A cultura pop tornou-se refém de suas diretrizes. Nada se faz no campo cinematográfico, teatral, literário, televisivo, quadrinesco, entre outras milhares de opções, que não atenda aos seus inescrupulosos interesses. Nesse caso, interesse significando a velha e boa $$$$$$$$$, claro!

O tema, por mais antipático ou fora do tom que pareça, rende teses acadêmicas, estudos a longo prazo. Afinal de contas, é preciso entender - eu, pelo menos, acredito nisso - o que aconteceu com a nossa tão querida humanidade. Porque tornou-se isso, dessa maneira, infame. Até mesmo os dinossauros, quando quiseram demais, tiveram o seu fim. Por que não os inúteis?

E tenha cuidado: eles estão em todos os lugares, na esquina da sua rua, ouvindo a sua conversa, reclamando dos que têm sua própria opinião (é de notório conhecimento público, caso vocês não saibam, que inúteis não costumam ter opiniões próprias), atolados dentro de igrejas ouvindo palestras de megaempresários da fé, no discurso dos programas enlatados que as emissoras exibem como obras de arte diariamente, enfim, você provavelmente já cruzou com vários hoje, contando com familiares (essa parte ninguém gosta de ouvir, mas sorry, a verdade dói).

"O que será do amanhã?", a pergunta que mais do que nunca não quer se calar. E não se calará mesmo, tendo em vista que graças a inutilidade no mundo, parecemos entrar em rota de colisão com um cometa e seremos destruídos a qualquer momento. Ou não. Na verdade, o ou não tem ganho força nesse mundo de poucas ideias realmente válidas e uma sensação de que o que havia de valor se esgotou e o negócio (quer dizer, business) fica cada vez mais caro.

Entretanto, mesmo com um amanhã indefinido os inúteis continuam sua balada, uma espécie de cântico boçal, de rimas babacas e letras pobres, bem ao gosto de quem cultua a obviedade e o ordinário.

Aos que não se adaptam ao sistema, sinto muito. Não há opções quando se prega o dia todo que seria bom, ótimo, extraordinário, que todos pensássemos igual. Então, ainda não existe (também) a opção reclamar.

Triste, eu sei...


Biografia:
Crítico cultural, morador da Leopoldina, amante do cinema, da literatura, do teatro e da música e sempre cheio de novas ideias.
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