Eu não vou fazer da minha vida
das minhas lamentações frequentes
da minha falta de vocação para enfrentar obstáculos
um laboratório para entender uma alma perdida
à procura de fôlego apenas o suficiente
para seguir em frente
em meio a curvas sinuosas e falsos atalhos
que volta e meia aparecem na vida da gente
só para complicar ainda mais o percurso da vida
não, senhor!
não tenho mais idade ou tempo a perder
com ilusões travestidas de oportunidades
o que eu preciso fazer agora é tomar vergonha na cara
e enxergar se existe a mais remota possibilidade
de atingir o meu objetivo, qualquer objetivo
mas de preferência que tenha a ver com a minha literatura
é isso e nada mais
nada de promessas que não vão levar a lugar algum
nada de companhias que só servem para me colocar pra baixo
nada de sonhos proféticos ou premonitórios madrugada adentro
somente eu e a minha vergonha na cara
pois já passou da hora de eu encarar os fatos:
não sou mais nenhum garoto
ou sonhador cheio de ideologias
os quarenta estão chegando
na verdade estão logo ali
na próxima esquina
e eu não tenho mais cartuchos para queimar
porque os sobressalentes já se foram - e faz tempo!
então parem de me azucrinar com discursos positivistas que não produzem qualquer efeito realmente eficaz
parem de achar que estão falando com alguma criança de colo
cujo único papel na vida é acenar com a cabeça, para cima ou para baixo
esse tempo já passou
e vocês nem perceberam...
acordem!
e deixa que eu cuido da minha própria vida.

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