Felicidade não pede poesia; incita à prosa silenciosa, que com dedos de algodão acariciam a nossa própria têmpora.
Felicidade tem cheiro; e faz questão de doer, pra de novo encher o peito de satisfação, numa falsa – mas intensa - sensação de conforto.
Um mar doce, invadindo o fosso do castelo de areia que uma criança gordinha e risonha fez questão de construir ao alcance das lambidas d’água.
Felicidade tem prazo de validade; mas enquanto dura, vale tanto, que o prazo expira e ainda finge-se ser feliz: como espasmos musculares de um peixe que já morreu.
Felicidade tem preço; mas ninguém sabe qual é (e aí está a graça). Ninguém é feliz porque quer. Felicidade tem que ser sem querer...
Felicidade? Não sei, não... Acabei de lembrar o que tenho de fazer amanhã. Mas amanhã eu poderei dizer que hoje fui feliz (apesar de saber que isso, amanhã, não terá a menor importância).
No fim, não era fingimento; se era, merecia um Oscar. E se mereceu um Oscar, não faz diferença se era real ou não: foi mais bonito que a realidade costumeira.
E se a miopia é reflexa, replicante e plenamente correspondida, foda-se a moral e a retidão dos olhares: Fo-da-se.
|