Um dia,
quando o esquecimento esquecer a poesia
num papel amassado num canto sujo da pia,
ninguém vier recuperar o coração ali posto,
ninguém abrir a porta para ver o rosto
do poema que chora,
só então perceberemos que chegou a hora
de esquecer o passado e seguir em frente,
talvez já não tenhamos mais dentes
e comamos através de canudos,
só restem versos miúdos,
nesse dia abriremos as portas do futuro
por onde entrarão poemas acesos,
poemas mortos,
poemas vivos,
poemas mudos,
magros,
obesos,
poemas sem nenhuma coragem,
sem nenhum medo...
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