Certa vez conheci uma menina que desde que se “entendia por gente” se perguntava tudo que uma gente podia querer saber. Em inúmeros porquês buscava o sentido das coisas.
Pode-se dizer que a palavra porque era seu sobrenome, talvez codinome, quiçá seu próprio nome. Era a atrás da orelha, o que pulsava na veia, a cereja do bolo, a sua sombra na árvore de oliveira.
Ela se questionava sobre tudo e todos, sobre coisas do céu e da terra, sobre o fogo, a água, o ar e o mar, sobre gente, sobre pessoa, sobre fantasma, sobre alma penada, e alma gêmea.
Sobre gato, rato e sapato. Sobre seu quarto, seu espaço, se o seu reflexo era seu de fato. Sobre o universo, planetas, galáxias e sobre laços. Sim, ela era fascinada por laços.
Sempre se indagava como podia sem um nó, o laço não virar pó? Como podia o pó de sujeira se espalhar pela sua casa inteira? Como podia quando ia limpando, esse pó sair voando? Como podiam as coisas voar, mesmo tendo pernas para andar? Como podia aquela senhora já ter sido uma criança, ora bolas? Como podia a árvore se alimentar de luz? Fubá no nordeste chamar cuscuz? E por que é a mulher que dá a luz?
Por que seu pai era Corintiano? Por que tinha carnaval, páscoa, e natal todo ano? Por que só se ganhava parabéns uma vez ao ano? E por que esperávamos só o final do ano para fazer lista de nossos planos? Por que se todo cão é igual, o dela era especial? Por que menina brincava de casinha, comidinha e tinha que ser delicadinha? E menino tinha que ter caminhão, falar palavrão e bater um bolão?
Quanto mais ela crescia, menos entendia e mais perguntas ela fazia. E quando a adolescência chegou até isso ela se perguntou. Afinal, sou adolescente ou não sou? Se ela perguntasse pra sua melhor amiga, nenhuma resposta obtinha. Se ela perguntasse pra sua mãe, a promessa era de que a resposta viria depois. Se ela perguntasse pra uma tia, uma resposta fantasiosa recebia. E se fosse pro seu pai, a resposta era realista até demais. Se ela perguntasse a um doutor, uma resposta científica não curava seu furor.
E quando perguntava aos seus avôs, a resposta até que não cabia, mas alguma coisa trazia. Ela ouvia os “causos” de seu avô, e sentia um acalanto vindo daquele senhor.
E quando viajava nas histórias de sua “vozinha” boas risadas lhe rendia. O caminho continuou e a pergunta não parou. Mas consigo levou todas as respostas que pediu e ouviu.
Elas não respondiam as perguntas, mas davam sentido pra essa busca. Busca? Chega o dia em que ela se pergunta. Que busca? Isso era uma busca? O que ela buscava afinal? E por fim de novo se questionou: será que eram as respostas que ela tanto buscava? Ou será que lá no fundo, o que queria mesmo era continuar se fazendo perguntas?
Ela se perguntou por que, assim como ela, alguns não se contentavam com as respostas? Mas chegou a uma pergunta crucial: por que alguns nem sequer se faziam perguntas? As respostas eram um final e ela queria sempre começos. Mas afinal, por que será?
|