Quando volto do cemitério
olho para trás e lá estão as lápides com frases feitas;
num jeito meio de riso, meio sério,
ando a pensar como a vida se faz e é desfeita,
nos que se foram e nos que aqui ficaram,
nos que bebem no pote da vida
e nos que soltaram suas amarras...
O vento gelado deste outono entristecido
abraça-me e eu, entre quente e comovido,
sigo pela estrada da vida a ver o que vai à frente,
prédios silenciosos e muitas pessoas silenciosas, muita gente...
Quero segurar entre as mãos só o que me pertence,
a lembrança do calor de tuas mãos quentes,
o latido do cachorro que a muito tempo me acompanha,
a poesia que escrevi e que ainda, quando a leio, acho estranha...
Agora já não olho para trás e esqueço o tempo que passa,
tomo café, como pão quente, leio o jornal, converso fiado,
cumprimento os conhecidos que estão nos bancos da praça,
vivo o instante sublime entre o que sou e o que fui no passado...
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