Faz algum tempo,
eu era o menino que corria com o vento
atrás de perdidas pipas,
saltava cercas em busca de frutas caídas,
mirava o riacho e nunca pensava em Narciso:
a forma que procura a forma
de si não faz juízo...
Faz pouco tempo,
estava defronte ao espelho,
procurava no esmaecido o antigo vermelho,
o rubor de maçã madura,
a lanterna que na escura
noite da juventude
acendia todos os desejos,
mas as retinas retinham só a sina
do visto pelas ruas do meu tempo,
foi aí que vi, vendo sem ver para crer,
que tudo é devorado pelo voraz tempo...
Nem tanto tempo assim faz
vi que agora posso tudo
e um pouco mais,
viajar sem sair daqui,
sem sair do lugar...
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