Segundo Machado de Assis, “A vida é cheia de obrigações que a gente cumpre por mais vontade que tenha de as infringir deslavadamente.”.
Luxo é ter paciência ou a paciência é uma necessidade? Com a indagação, vejo como é fácil pensar e difícil de agir, pois a vida só nos pertence se soubermos unir pensamento e ação. Nesta altura dos acontecimentos, percebo ser a paciência a virtude que pode reverter vários quadros, em diferentes preocupações, inquietações e decisões em relação à forma de viver. Ela é instigante porque nos surpreende e faz com que paremos para pensar. Como demonstra Nilto Maciel em sua crônica Paciência e bom senso, “... nunca recebi tantos impressos quanto nesta era da internet. É certo: não leio um décimo do que me mandam. Primeiro, porque não sou leitor de ofício, nem crítico literário, nem resenhista de jornal. Segundo, porque sou, antes de tudo escritor... Escrevo por prazer e necessidade...Porque escrever tem a mesma importância de dormir, sonhar, alimentar-se, andar e respirar... Pois alguns poetas e prosadores...me veem na obrigação de ler as suas engenhosas criações...como se tivesse tempo (ou interesse) de ler toda a sua papelada. Ora bolas! Se fosse apenas para ler, seria ótimo... Se falam em ler meus contos, poemas ou romances? nem pensam nisso. Eu seria para eles ...apenas instrumentos para a sua glória, a sua riqueza, a sua empáfia. Desconhecem (e nem se interessam em conhecer) minha fortuna crítica: alguns prêmios literários e publicações analisada por leitores especiais...Haja paciência (em mim)! Haja bom senso (neles)!”
No cotidiano, a paciência é a necessidade que pode, muitas vezes, nos levar a melhorar a relação com o tempo e as pessoas. Ela se manifesta de várias formas e não tem normas a seguir, porque pessoal. Mas, na maioria das vezes, sabemos que ela é a solução em um ou mais momentos ao nos permitir compartilhar as ideias com os outros; como em Carlos A. Lima Coelho, “A inquietude toma conta da calma / Pois sem estar vendo todo dia você / Não há como serenizar a minh’alma...”.
Ter paciência não é fácil, pois ela nos deixa à espera em todo o instante; é algo que perseguimos e o resultado pode levar à satisfação. A paciência não nos anula, faz-nos refletir os sentidos em que as mudanças são perceptíveis e mais resistentes. Também, aumenta o prazer da convivência e ao evoluir busca a harmonia entre as pessoas. É mistério que se depara com o outro, para trazer entendimento entre os homens. Sempre penso em quatro coisas que não se recuperam, quando tenho de exercitar a paciência: a pedra, depois de atirada; a palavra, depois de proferida; a oportunidade, depois de perdida e o tempo, depois de passado; como nos diz a poesia de Murilo Mendes, “Meu novo olhar é o de quem já sabe / Que alegria e ventura não permanecem. / Meu novo olhar é o de quem desvendou os tempos...”.
A arte de comprimir ou alongar o tempo é obtido através da paciência. Ao repensarmos nela como virtude, acreditamos nas mudanças. O luxo é ter paciência. Ao abordar essa questão, acredito que podemos fazer escolhas; encarar a vida de forma mais leve, com a opção do movimento: menos cobranças e maior compreensão. Nas palavras de Jaime Vaz Brasil, “A paralela dos olhos / amarra o fio / do poema. // Desfila o tempo / e costura as paredes do silêncio...”.
A fronteira entre o luxo (sonho) e a necessidade (realidade) são as vozes, os olhares e a atenção ao tempo. A dúvida é se a paciência revela o caráter, traz boas energias e otimismo, para alcançarmos os objetivos. Então ela é luxo? E se não conseguirmos atingir ao que nos propomos, é necessidade? Sonho ou realidade? É preciso ter consciência para alcançar o melhor em nossas vidas sem ferir os sentidos e os sentimentos, preservando a paciência, talvez, como luxo e necessidade.
|