- Não sei se devo gastar todas as minhas economias com esta coletânea de Machado de Assis... mas veja só: - Obras completas!
(demo danado) - Ora, Miceli, compre! É obra magnânima! Extensa! Renderá anos! No mais, é Machado! O mestiço/negro/pardo mais brilhante e reluzente que esta terra já produziu!
- Mas são 600 (seiscentos) reais!
(demo danado) - O que são seiscentos reais? Seis notas azuis? Doze notas alaranjadas? Tudo papel, Miceli, tudo papel!
- Ora, a coletânia é também... toda papel.
(demo danado) - Não seja patético! O conteúdo não está no papel; está na prosa impecável do mestre! A Lingua Portuguesa em seu estado excelente!
- Pois minhas notas azuis e alaranjadas contém seus respectivos valores monetários em forma excelente!
(demo danado) - Não copie meus argumentos! Você sabe perfeitamente bem que isto me irrita! No mais, o Real não está valendo nada...
- Nisto tenho que concordar.
(demo danado) - Miceli (melífluo), gaste seu dinheiro todo nesta coletânea... É mais uma; - mais uma bela coletânia para sua estante...
- Este é o problema! Mais uma bela coletânea para minha estante! Eu mesmo, não leio nada!
(demo danado) - Não seja dramático!
- Cem livros! Dos cem, li dez, se muito!
(demo danado) - Mas é assim mesmo! Para ler 20, tem que comprar 200!
- ...Vou comprar... Mas pelo Machado... (trêmulo, retirando a carteira do bolso. Puxo então o cartão, extenuado de parcelas, que quase cai)
(demo danado) - Isso... Pode pagar em parcelas... eu deixo você pagar em parcelas, está bem? Mas me diga; - e semana que vem? Viu ali naquela prateleira? Uma coleção de crônicas do Nelson... - Sim, aquele; o Rodrigues... de quem você tanto gosta...
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