O bom de quem escreve e gosta de poesia
é o avançado sentido da poesia interna,
rimar poço com água, corda com pescoço,
amor e mágoa, ponte e crocodilos,
paixão e amigos,
sempre dentro do que parece fora,
rimar instantes sublimes
com vastas horas...
O bom de escrever é não ter
que apagar o escrito,
deixar o dito pelo não dito,
escrever canhão sem bala,
língua sem fala,
deixar vazio o saco de verbos
e a sacola de adjetivos,
rimar bondade com castigo,
farsa com Shakespeare,
atitude com Beckett,
sombrios momentos com Kafka,
rimar docemente a linguagem
do espírito com palavra...
É não querer explicar
ao pássaro que passa como funciona o ar,
nem ter que dizer
do que é feito os sentidos,
se de massa de pão, crepom, cacos de vidro,
só que é bom se desvencilhar
de palavras repentinas
que desdizem destinos mas que são intrinsecamente nossa sina...
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