MANICÓMIO
Vi um dia um comunista
Às turras com um fascista:
Que bronca! Que discussão!
Nunca gostei de tumultos.
Deixei-os lá aos insultos.
Políticas? Que injecção!
Corri mundo; viajei:
A paz que tanto busquei,
Não consegui encontrar.
Foi um sonho descabido.
Regressei, desiludido…
Poderei recomeçar?...
Vejam só o que ali vai:
Discute a mãe com o pai;
E os filhos, que irão fazer?
Não tomam quaisquer partidos;
Sentem-se tão divididos…
Quem lhes poderá valer?...
Permanece o turbilhão:
Vejo o empregado e o patrão,
Que brigam; ninguém se escuta:
Um, teima, sem trabalhar;
E o outro, não quer pagar;
Quem sem razão, nesta luta?
Olhem estes namorados
Como vêm arrogados!
Mais um desentendimento!
Velhas cenas de ciúme;
Com tão casmurro queixume,
Não haverá casamento!
Evitando uma entrevista,
Foge aquele desportista:
O jogo foi um fracasso!
As críticas são ferozes;
Ouve centenas de vozes:
-Palerma! Grande palhaço!
Rasga este aluno a sacola.
E, por chegar tarde à escola,
Apanha algumas reguadas.
O seu Castigo aumentou,
Porque apenas gaguejou,
Pois não sabia as tabuadas…
Que dizem, no noticiário?
Greves, bombas, um cenário
De morte e destruição!
Brigam gatuno e polícia,
Trocando cada carícia…
Faz parte da profissão…
Quem se quer acomodar,
No mundo, é bom enganar
O semelhante, a sorrir…
E só será vencedor
O mais velhaco impostor,
Que melhor saiba fingir!
Se usar verdade é tolice,
Viva a maior aldrabice,
Irmã gémea da vileza!
Ambas vão decapitar
Os que tentem conservar
Qualquer réstia de nobreza.
Roubar não faz mal nenhum!
Usurpem a qualquer um
Que é tão bom, e não dá cadeia!
E se der? Que rica vida!
Ganham, em contrapartida,
Almoço, jantar e ceia…
Cama fofa, sem trabalho,
Mas que excelente agasalho!
Incentiva a delinquência!
Agridam-se às navalhadas;
Atirem fora as enxadas,
E que se lixe a falência!
E, se eu não tiver razão,
Que importa? A minha intenção
Foi apenas destruir!
É hoje o que mais convém!
Conhecem quem faça o bem,
Se gostar de se exibir?!
Não só cá; no mundo inteiro,
Amesquinhar o parceiro
É lema de cada dia!
Herdámos dos nossos pais
Estes belos ideais:
Manter viva a hipocrisia!
Dizemos não ao amor;
Cada um quer ser maior,
À força, ou como calhar!
Importa é ter fama ou nome.
Que os demais morram à fume…
Deixá-lo! Hão-de-se enterrar!...
Trocem, riem, façam pouco
Dos conselhos deste louco,
Um sarcasmo, a protestar!
Na prática, nada muda!
Se a tola não vos ajude,
Que esperam para a cortar?!...
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