CONSTERNAÇÃO
Chorando a viuvez, um passarinho.
Jamais se calaria, a noite inteira!
Acabou por morrer, junto do ninho,
Tal como sucedera à companheira…
Nas aves também há fidelidade,
Capaz de as conduzir até à morte!
Causando o ser humano esta orfandade,
Beijando a todos, fala desta sorte:
Queridos: vossa mãe perdeu a vida
Para vos proteger do caçador!
Vede-a, que jaz, exangue, ali, caída!
Que abnegação! Foi morta, por amor!
Nos homens maus quão fera é a ingratidão!
Matam-nos, por desporto, com prazer!
Tornamos-lhes mais leve a solidão;
Roubo-nos o direito de viver!
Horrorizou-me tanto aquela dor,
Que fugi para casa, desolada!
Tremia tanto, cheia de pavor,
Que a minha mãe ficou muito assustada:
Que sobressalto é esse, minha filha?!
Não posso ver-te assim; que sucedeu!?
Que é do teu doce olhar, que já não brilha?
Conta-me o teu pesar, oh, Deus do Céu!
Então desabafei, numa explosão,
Abraçando-me a ela, amargamente:
Venha cá fora, e veja se há razão:
Foi esta morte que me pôs doente!
O coração dos homens é cruel!
Que mal lhe fazem estas avezinhas?!
A lei da força amarga mais que o fel:
E Deus dos homens fez feras daninhas!
A mãe pensou um pouco, e respondeu,
Após ouvir a filha, transtornada;
A sua hesitação comprometeu:
Como fugir daquela encruzilhada!?...
Deus deu-nos raciocínio e liberdade:
Sabemos escolher o mal e o bem.
Trilhemos os caminhos da verdade,
E Ele nos pagará, como ninguém!
Não, mãe! Uma atitude conformista
Não prova a força de religião!
Quando esta á lei da força não resista,
Vencer-nos-á… total consternação!
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