Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
QUEIXUME DOS OPRIMIDOS
FRANCISCO MEDEIROS QUARTA

QUEIXUME DOS OPRIMIDOS

Que fome é esta, mãe? Frite-me um ovo!...
Gemia, tiritando, uma criança.
Quem como tu nasceu, filha do povo,…
À míngua morrerá… não há mudança!

Trabalho tanto! Sinto-me esgotada!
Tenho os pés esfolados, do caminho!
Isso que importa, filha? Não é nada…
O pobre há-de sofrer, sempre… sozinho!...

De casa ao meu emprego é tão distante!
E como eu gostaria de estudar!
Deliras; vê-se bem, no teu semblante!
Só temos um direito: o de sonhar…

Caí de cama, ai! Que dor tão forte!
Preciso urgentemente de um doutor!
Antes dele talvez te chegue a morte…
Encomenda-te a Deus Nosso Senhor!

Que significará ser solidário?...
É sugar, gota a gota, o semelhante.
Enquanto se congela o seu salário,
Galopa a carestia exorbitante.

Sucedem-se comícios, assembleias,
Promessas duma vida bem melhor.
Nas discussões, baralham-se as ideias,
Culpamos sempre o nosso antecessor…

Afirmam ser difícil governar;
Possivelmente falam com razão!
Que paradoxo: para lá chegar,
Quantas vezes se mata o próprio irmão!

Neste mundo ninguém quer ser pequeno;
Dar ordens sempre foi nosso prazer!
Sabemos que o cigarro é um veneno;
Porém deixá-lo? Nunca! Antes morrer!...

Mas… quem era a doente que morria
À míngua? Todos nós, praticamente!
Miséria, o nosso pão de cada dia:
Morre-se a trabalhar, sempre indigente!

Onde há força moral para dizer:
Tenhamos paciência; é pouco o pão!
Levem-me à vossa mesa: quero ver
O que tereis aí, por refeição…

Desmascaremos já, mas bem de frente,
Os que à fome darão cabo de nós.
Calarmo-nos, com medo dessa gente?...
Isso fizeram já nossos avós!

Abandonado e triste, lá num canto,
Quantas casas já fez? Perdeu-lhe a conta!...
Aquele pobre velho enxuga o pranto:
Nem um conforto amigo! Mas que afronta!

Juntando a esta a fome, sempre a fome,
A torturar-lhe o resto dos sues dias!
Sabe a penúria o pão, que já nem come!...
Gela-o mais o desdém… que as noites frias!...

Uma senhora rica e aperaltada,
Que é esposa dum ministro ou presidente,
Murmura, mastigando uma torrada:
- Que pena tenho desta pobre gente!...

E delambida, tira da bandeja,
A bocejar, um copo de licor;
-Hoje não me apetece ir à igreja…
Que Deus desculpe! Morro de calor!...

Hipócrita! Mudasse a tua vida,
E davas mais apreço à dor alheia!
Se os oprimidos fossem classe unida,
Comias, mais amarga, essa geleia…

Amigos: lastimar, pouco adianta!
Passemos ao ataque, e sem demora!
Gritemos, sem mordaças na garganta:
-Sanguessugas do povo, é nossa a hora!...


Este texto é administrado por: ANTÓNIO MANUEL FONTES CAMBETA
Número de vezes que este texto foi lido: 59574


Outros títulos do mesmo autor

Poesias MAMA, MAS NÃO ABUSES FRANCISCO MEDEIROS QUARTA
Poesias IMPOTÊNCIA FRANCISCO MEDEIROS QUARTA
Poesias INCONFORMISMO FRANCISCO MEDEIROS QUARTA
Poesias IMPOSTURA FRANCISCO MEDEIROS QUARTA
Poesias CONSTERNAÇÃO FRANCISCO MEDEIROS QUARTA
Poesias O MEU DESTINO FRANCISCO MEDEIROS QUARTA
Poesias ATAQUE FRONTAL FRANCISCO MEDEIROS QUARTA
Artigos SER AMIGO FRANCISCO MEDEIROS QUARTA
Poesias DE PERNAS PARA O AR FRANCISCO MEDEIROS QUARTA
Poesias REALIDADE, HIPOCRISIA E REVOLTA FRANCISCO MEDEIROS QUARTA

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última

Publicações de número 51 até 60 de um total de 63.


escrita@komedi.com.br © 2024
 
  Textos mais lidos
Razão no coração - Joana Barbosa de Oliveira 59831 Visitas
A ùltima Fronteira - José Ernesto Kappel 59829 Visitas
Jogada de menino - Ana Maria de Souza Mello 59829 Visitas
Um coroa no Atacama - Rodrigo Nascimento 59828 Visitas
Rosas de Ocasião - José Ernesto Kappel 59827 Visitas
O espírito busca a paz interior - Maria 59826 Visitas
Dança Sem Corpo - José Ernesto Kappel 59826 Visitas
A verdade está nas unhas - Ana Mello 59824 Visitas
A Magia dos Poemas - Sérgio Simka 59818 Visitas
Eu? - José Heber de Souza Aguiar 59818 Visitas

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última